O risco dos remédios para emagrecer

A jornalista Daiana Garbin está lançando o livro “Fazendo as pazes com o corpo”, no qual relata seu transtorno alimentar não-especificado, com comportamentos nada saudáveis quanto ao corpo e à alimentação. Assim como ocorre com muitos jovens, aos 12 anos ela começou a comparar-se a outras meninas e a se considerar sempre acima do peso, mesmo não estando. Somente duas décadas depois, quando já havia sofrido muito, tomado uma série de remédios para emagrecer e visto sua vida familiar ser afetada, é que Daiana procurou auxílio médico.

O também jornalista Tiago Leifert, marido de Daiana, relatou durante a divulgação do livro que a relação com a então noiva foi abalada pelo transtorno. Principalmente quando Daiana, nos preparativos do casamento, em 2012, começou a ter alterações no comportamento devido aos remédios para emagrecer, ingeridos sem acompanhamento médico. “Cheguei e falei: ‘ou eu ou esse remédio’”, contou ele. Atualmente Daiana Garbin faz tratamento com psiquiatra, psicanalista e nutricionista específico em transtorno alimentar e melhorou sua relação com a comida. Pesa 14 quilos a mais do que na época dos remédios e se sente bem. Entende que pode comer de forma saudável e fazer escolhas.

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endocrinologista Aline Damé D’avila. Crédito: arquivo Ibiá

Conversamos com a endocrinologista Aline Damé D’avila a respeito dessa busca por um emagrecimento rápido, à base de remédios, que por vezes coloca em risco a saúde. Mesmo quando há excesso de peso e não um transtorno, como o de Daiana Garbin, nem sempre os remédios são a melhor alternativa, mesmo a mais rápida. “Na maioria das vezes, ganharam peso nos últimos 10 anos e querem em dois meses que tudo esteja eliminado. Isto leva a pagarem um preço caro por tratamentos que não há a mínima segurança, inclusive com riscos graves à saúde”, diz Aline, ao lembrar que o uso indiscriminado das drogas emagrecedoras faz aumentar muito o risco.

Antes de receitar um medicamento para obesidade, os médicos avaliam a função renal, cardiopatias, transtornos de humor, intolerância a glúten e lactose, tireoidopatias e sedentarismo, outras medicações em uso, tratamentos prévios e seus resultados, entre uma série de questões. O uso dessas drogas precisa ser feito com acompanhamento próximo e em casos específicos, também para que o paciente não recupere o peso após o fim do tratamento.

A médica destaca que o retorno do peso observado por pacientes após cessar a medicação reflete a não mudança de hábitos. “Enquanto em tratamento medicamentoso a pessoa abdica de fast foods e bebidas calóricas, bem como realiza algum exercício físico, no momento que cessa a medicação, abandona todos os hábitos melhores que estava fazendo”, exemplifica. Por isto que o tratamento contra obesidade depende muito da manutenção e da real mudança de estilo de vida. “Se a pessoa permanecer sedentária, ela já é uma fortíssima candidata a reganho, pois emagrecerá com perda de massa muscular – que é o que mantém nosso metabolismo mais alto – bem como se voltar aos erros alimentares”, defende a endocrinologista.

foto: banco de imagens

Remédios comprados no mercado ilegal e o uso indiscriminado
Sobre os transtornos de humor, a médica observa que existem medicações para obesidade que atuam em sistema nervoso central, podendo alterar o humor do paciente, portanto a indicação precisa ser individualizada. “A droga que fez efeito para a colega, nem sempre fará efeito para mim”, diz Aline.

É claro que não se pode abrir mão de uma parte da saúde – dormir bem ou manter a tranquilidade, por exemplo – para perder peso. Então o médico indicará o remédio conforme perfil do paciente, considerando itens como se fuma ou bebe, se é agitado ou calmo. E acompanhará os efeitos colaterais que surgirão, podendo trocar o tratamento.
Existe uma série de drogas liberadas no Brasil para uso, desde que receitadas pelo médico. O grande problema está, segundo Aline, no mercado ilegal que oferece drogas proibidas no país – compradas sem receita, em geral pela internet sem nenhum controle ou orientação especializada. E, também, no mau uso das drogas liberadas, como super dosagem, uso em contraindicados, de medicações não para este fim e que o paciente nem sabe se realmente é aquilo que está usando, entre outros.

Conheça algumas características dos remédios para obesidade.
Sibutramina: é um inibidor da recaptação da serotonina e da noradrenalina nas terminações nervosas do sistema nervoso central e tem efeito anorexígeno e sacietógeno. A sibutramina é eficaz em melhorar parâmetros da síndrome metabólica, como glicemia de jejum, triglicérides e HDLc. É contra-indicada para casos de hipertensão, diabetes, cardiopatia ou risco elevado desta.

Saxenda: regulariza o apetite, gerando menor ingestão de alimentos e consequentemente redução do peso, pois reduz o esvaziamento gástrico, levando a uma sensação de saciedade mais precoce.
Orlislat: reduz a absorção intestinal de gordura. Apresenta alguma resposta se a pessoa tem grande ingestão desse na dieta. Como causa a eliminação de gordura nas fezes, pode levar à diarreia, incontinência fecal e redução de absorção de algumas vitaminas.

Anfepramona, Desobesi e Mazindol: três anorexígenos de ação central que agem no centro da saciedade. Em 2011 tiveram proibida a venda, a comercialização e a produção destas substâncias, mas retornaram ao mercado em 2017, levantando diferentes opiniões. “Também levantou muito temor de nós, médicos, o retorno do mau uso /prescrição deste grupo de medicações, que levam à dependência química, psíquica e risco cardiológico. Tendo em vista que os parefeitos deste grupo são aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, insônia, cefaleia, constipação, agitação psicomotora e alterações do humor, sem falar no grande rebote de reganho de peso, na suspensão do uso”, explica Aline.

E a bariátrica?
A cirurgia bariátrica tem auxiliado muitos pacientes que, por métodos não cirúrgicos, não conseguiam perder peso. Ela tem menor percentual de reganho e oferece melhora dos problemas de saúde. “Quando bem indicada, com a mudança do estilo de vida no pós-operatório, os pacientes se beneficiam muito”, diz Aline. Porém, há um percentual de em torno de 30% reganho de peso, não por insucesso cirúrgico, e sim, na maioria, pelos pacientes não fazerem a sua parte no tratamento.

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