Na espera por um transplante

Três vezes por semana, o morador de Brochier Pedro Paulo Dieckel, de 51 anos, pega o transporte da prefeitura até o Hospital Montenegro. Ali ele permanece por quatro horas ligado à máquina de hemodiálise, que filtra seu sangue, isto é, realiza a tarefa deixada em aberto pelos rins doentes.

Com um tom de voz bastante tranquilo, Pedro conta que há muitos anos sabe ter rins policísticos — enfermidade na qual é substituído o tecido normal dos rins por cistos cheios de líquido — que causa o crescimento do órgão. Porém, há três anos o desenvolvimento da doença se acelerou. “Não sentia nada. Quando senti, já era muito grave”, relata.

Hoje, ele tem 0% da capacidade renal e, por isso, depende totalmente da máquina de hemodiálise. Passou por avaliações com oftalmologista, urologista, otorrinolaringologista, cardiologista e dentista para então poder entrar na lista de espera por um transplante. Ele, que há muito tempo se considera um possível doador e havia alertado sua família disso, há quatro meses entrou oficialmente na fila para transplante e agora se vê esperando por um doador. Como sua doença é hereditária, não há possibilidade um familiar doar.

Já foi inclusive chamado ao Hospital Dom Vicente Scherer, no complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Mas, como é costume nesses casos, sempre que surge um órgão, são chamados alguns possíveis receptores para testes. Apesar de ser compatível também com o brochiense, o rim ficou com um homem de Farroupilha, que estava na frente de acordo com a lista.
Enquanto o transplante não vem, Pedro Paulo Dieckel já precisou passar por outra cirurgia, em julho desse ano. A cicatriz que atravessa seu abdômen ficou de recordação do procedimento de retirada de um rim, medida necessária porque o órgão estava grande demais. “Foi muito tranquila a cirurgia e a recuperação, apesar de ser um corte bem maior do que será o do próprio transplante”, diz o paciente.

Adaptado à hemodiálise, ele aguarda seu novo rim sem ansiedade. Claro que deixar de perder horas ligado a uma máquina é importante, mas ele não está preocupado com quando chegará sua vez. “Muitas pessoas são chamadas várias vezes até conseguir transplantar. Estou bem e posso esperar”, destaca.

Sacrifícios e confiança na espera
Alguns sacrifícios, porém, são necessários nessa espera pelo transplante. O consumo de água de quem faz hemodiálise é o mínimo possível. Pedro Paulo Dieckel pode beber apenas 600ml ao dia. E isso não é apenas em água. Influencia nas frutas, por exemplo, ou qualquer alimento que contenha líquido. Para aliviar a sede, assim como outros pacientes, ele usa de alguns truques. Chupa um pouco de gelo ou enche a boca de água para sentir o frescor, mas cospe o líquido logo depois. Ingerir mais líquidos significaria sofrer mais a cada sessão de hemodiálise, já que a máquina teria de retirá-lo do corpo.

A família parece espelhar a tranquilidade mostrada pelo paciente. Pelo menos agora. A esposa, Andréia Cristina da Silva Dieckel, já está mais calma. Ela costumava estar sempre presente na hemodiálise, em especial após uma sessão em que ele teve queda de pressão e desmaiou. “Não tinha jeito. Ela queria muito vir e ficava aguardando na recepção até que terminava o procedimento e eu ia pra casa. Agora já está mais tranquila”, conta Pedro. Ele e Andréia têm dois filhos, de 25 e 18 anos. Os jovens também estão calmos à espera do pai. “Enquanto eu estiver tranquilo, eles também estarão”, finaliza.

Cultura Doadora Montenegro

Na noite dessa quinta-feira, 21, ocorreu, na Câmara de Vereadores, o lançamento oficial do projeto “Cultura doadora – Montenegro”. O projeto é uma parceria do Jornal Ibiá, Fundação Ecarta e Hospital Montenegro. A cobertura completa você confere na contracapa desta edição.

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