Medo na pandemia afasta pacientes de outros tratamentos

O risco que representa a pandemia da Covid-19 gerou outro problema ligado à Saúde, que é o medo de entrar em um hospital neste momento. Isso tem provocado preocupação no setor, pelos pacientes que deixam de receber diagnóstico ou seguir com tratamento contínuo de outras doenças. O Câncer está entre aqueles que mais têm alertado a comunidade médica do Brasil.

Segundo as sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia Oncológica (SBCO), apenas em abril, 70% das cirurgias oncológicas foram adiadas. Além disso, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com Câncer devido à não realização de exames essenciais para identificar a doença. Esses índices são verificados desde que iniciou o isolamento social, mesmo que o Ministério da Saúde tenha incluído o Câncer no rol de doenças cujo tratamento é urgente.

Segundo a Central de Regulação Ambulatorial do Rio Grande do Sul, setor que regula acesso a primeiras consultas em Porto Alegre, entre março e junho seus prestadores reduziram as cotas de consultas em mais de 70%. Porém priorizaram casos graves, dentre os quais – principalmente – a oncologia.

Já os municípios reduziram em mais de 50% os encaminhamentos de solicitações de consulta em geral; inclusive alguns deles, mesmo com consultas agendadas, cancelaram a vinda dos pacientes. Na avaliação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), esta atitude das prefeituras ocorreu por dificuldades de transporte ou por receio dos próprios pacientes, que tiveram a iniciativa de pedir reagendamento.

A orientação da pasta aos municípios e pacientes é de que em casos graves não deixem de comparecer às consultas, sob risco de terem outros agravos de saúde. Mas salienta que essa presença deve ser cercada de todas as precauções de proteção, especialmente pelo uso de máscara e higienização constante das mãos.

Cadastro de consultas na Regulação – RS
Oncologia
Data e número de Cadastro de consultas
– 01/01/2020 a 29/02/2020 = 1.739
– 01/03/2020 a 30/06/2020 = 3.166
Cardiologia
Data e número de cadastro de consultas
– 01/01/2020 a 29/02/2020 = 1.943
– 01/03/2020 a 30/06/2020 = 2.419
*Dados da Secretaria Estadual de Saúde

Hospital Unimed procurou seus pacientes

No início da pandemia, o Hospital Unimed Vale do Caí chegou a registrar pequena redução na procura nos tratamentos oncológicos, que logo foi minimizada por contatos realizados com os pacientes. “Não tivemos nenhum caso que permaneceu sem atendimento ou sem a sequência do mesmo”, garante o Administrador do HUVC, Leandro Gallas. Porém, ainda segundo ele, foram verificados casos isolados onde o Câncer já estava avançado, algo que não era comum de ser visto antes.

Unimed adotou medidas de segurança, e os tratamentos oncológicos continuaram

Também nos atendimentos cardiológicos não houve nenhuma diferença significativa. Os pacientes continuaram a ser atendidos na Unimed, sem redução dos números. “Isto também se deu ao fato de que há uma segurança no atendimento dos casos não respiratórios”, observa. Gallas refere que agora há duas emergências no hospital: uma para pacientes com sintomas respiratórios e uma para as outras patologias.

Essa postura foi adotada no início da Pandemia, com a criação de um comitê de crise que debate a segurança de clientes e de funcionários, seguindo protocolos do Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre suas medidas está o fluxo de atendimento em área específica aos com sintomas da Covid-19. O Hospital também definiu seus atendimentos com hora marcada. “A circulação de pessoas dentro do hospital também foi limitada, com restrição de visitas aos pacientes”, finalizou.

HM percebeu ausências na Neurologia

O Hospital Montenegro (HM) – 100% SUS não possui oncologia como especialidade ambulatorial. Todavia, tem contabilizado evasão em todas as demais especialidades, principalmente de pacientes do grupo de risco que já estão finalizando o tratamento. A maior incidência no HM é na Neurologia, onde muitos não retornam. “Em média, 10% dos pacientes em que realizamos contatos para retorno optam por esperar o término da pandemia”, diz o texto, enviado pela direção médica.

Todavia, não há motivo para desespero. O Hospital Montenegro ressalta que montou uma “tenda de atendimento” na entrada da Emergência onde é realizada a triagem de todos os pacientes que chegam. E, em caso de sintomas gripais, o paciente é encaminhado para Emergência Covid-19, e em caso de sintomas clínicos para Emergência Clínica.

Assim como em outras casas de saúde e clínicas, essas são iniciativas que seguem protocolos estabelecidos pelo Ministério, que incluem procedimentos de higienização rigorosos. O HM criou um Comitê Interno de Gerenciamento Covid-19, que definiu restrição para circulação de pessoas e familiares internamente.

Instituto cria rede de apoio aos doentes
Um levantamento online do Instituto Oncoguia com 566 pessoas, das quais 429 em tratamento do Câncer, mostrou que 43% deles tiveram sua terapia afetada no período; dos quais 34% realizam quimioterapia, 31% hormonioterapia, 9% radioterapia e o restante imunoterapia. O percentual também foi maior entre pacientes do SUS (60%) em comparação aos do setor privado (33%).
Para alertar os pacientes oncológicos sobre como a demora em buscar cuidados médicos pode comprometer, até irreversivelmente, o sucesso na luta contra o Câncer, o Instituto Oncoclínicas lançou neste mês a campanha “O Câncer Não Espera. Cuide-se Já”. Aberta à participação de empresas, entidades médicas ou qualquer cidadão, deve ser acessada na internet pelo endereço www.ocancernaoespera.com.br.

Além de informações e material de campanha, há uma pesquisa para mapeamento de barreiras ao cuidado oncológico, volta a paciente, cuidador, profissional de saúde ou gestor hospitalar.

A realidade do Câncer
De acordo com o Centro Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) – agência especializada da Organização Mundial de Saúde (OMS) – a doença afeta 1,3 milhão de brasileiros e corresponde à realidade de 43,8 milhões de pessoas pelo mundo.

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