Para quem tenta emagrecer e passa de dieta em dieta enfrentando muita dificuldade para ver os ponteiros da balança descer, uma coisa costuma causar estranheza: o fato de algumas pessoas não engordarem mesmo ingerindo muitas calorias diariamente. Há quem faça acompanhamento nutricional justamente para ganhar peso. O que explica essa “injustiça”? A nutricionista Geórgia Bachi esclarece.
Ela lembra que, apesar de bastante comum, esse tipo de comparação não é válida porque envolve muitas variáveis, que vão desde a genética até os hábitos de vida, os quais mudam com o passar do tempo. Geralmente pessoas mais novas andam menos de carro e possuem uma vida mais ativa, tendo maior facilidade para manter o peso. Assim como o corpo tenta, na medida do possível, manter um padrão, ou seja, quanto mais tempo ficamos acima do peso, mais difícil será perdê-lo e vice-versa. “No entanto, partindo do pressuposto que duas pessoas possuem a mesma ocupação e dieta, porém, resultados opostos, podemos vincular a particularidade de cada metabolismo, que resulta em um uso maior de calorias”, destaca Geórgia, citando questões hormonais como testosterona, hormônios da tireóide e o volume muscular.
Ganhar músculos é, aliás, o desejo real de muitos que afirmam desejar aumentar de peso. Esse “engordar com saúde”, com ganho de massa magra, significa ter uma acompanhamento nutricional e treinamento físico específico. Elevar o consumo de alimentos altamente calóricos, mas, sem nutrientes, em nada colabora para o objetivo. “É consumir alimentos saudáveis, mas em maior proporção, principalmente carboidratos. Por exemplo, é comum os atletas de culturismo consumirem 100g de aveia + 12 ovos em uma única refeição”, detalha a nutricionista. A ideia de adicionar calorias vazias com geleias, bolachas, açúcar e afins não é bem-vinda. Junto da boa alimentação, é indicada a orientação de um profissional da educação física para elaborar um cronograma de atividades que trará o resultado esperado.
Mesma dieta, resultados diferentes
“Eu segui a dieta dela e não emagreci.” “Vou cinco dias por semana à academia e tenho o mesmo resultado de quem vai só dois.” “Fulano ganhou músculos mais rápido que eu.” Não faltam comentários comparativos na hora de cuidar do corpo e da saúde. O problema, Geórgia Bachi explica, é que apesar de os nutrientes serem os mesmos para todos, assim como cada pessoa possui um DNA diferente, também existem variados tempos para digerir e utilizar cada um desses nutrientes.
“A única certeza que podemos ter com a evolução de outra pessoa é que aquele resultado é possível, porém devemos encontrar nossos próprios caminhos”, defende a especialista. Por isso, não adianta copiar a dieta da amiga, seja para emagrecer ou ganhar massa muscular. É nessa fase que o profissional de saúde ajuda – e muito – a descobrir a forma mais eficaz para o seu caso. Não fosse assim, bastaria seguir uma simples dieta e treino retirados de qualquer para todos registrarem resultados similares e favoráveis. O que não acontece. “Se você já seguiu alguma dieta pronta, sabe que os resultados não as acompanham”, complementa Geórgia.
Gordura não é, necessariamente, sinal de saúde
Quem teve a sua infância até os anos 90 ainda tem recordação da mãe ou avó pedindo para comer mais um pouquinho. Quem não se recorda de ter recebido colheradas de um produto que prometia abrir o apetite das crianças? Magreza era sinal de falta de saúde. Mas hoje não é mais assim.
Nos anos 90, a gordura era sinônimo de saúde entre as crianças, mas esse pensamento mudou. “A ideia atual é revisar a alimentação e, se necessário, suplementar. Isso é bem diferente de utilizar artifícios para aumentar a fome e comer por comer. Certamente, incentivar a criança a consumir calorias extras, sem necessidade, poderá desenvolver problemas tardios vinculados ao excesso de peso”, destaca Geórgia Bachi.
É preciso considerar, também, a existência de pessoas com alimentação incorreta – rica em sódio, gordura e açúcar – mas sem aumento de peso. O fato desse indivíduo não apresentar aumento de peso corporal não significa que a má alimentação deixou de comprometer sua saúde. Porém, na maior parte das vezes, o excesso de peso está associado a uma má alimentação e, com isso, uma maior chance destes indivíduos apresentarem alterações metabólicas.
“Decidi mudar, não gostava de ser muito magra”
É assim que Laís Lopes Stein, 25 anos, explica os motivos que a levaram a iniciar acompanhamento para ganhar massa muscular e ver os ponteiros da balança subirem. Quando tinha apenas 16 anos, ela chegou a iniciar um treinamento em academia, mas, sem acompanhamento, não obteve os resultados que esperava. Desistiu. Mas, ao recomeçar, há cinco anos, seguiu firme e até começou a estudar Educação Física e a também trabalhar na área.
“Tinha no máximo sempre uns 50 kg, hoje estou com 62 kg, sendo 1,68 m de altura. Minha meta é alcançar 70kg, ganhando massa magra e definição”, diz. Desde que iniciou o processo, Laís não parou mais. “Embora, às vezes, não consiga treinar direito por falta de tempo, muito trabalho, faculdade, cansaço. Isso acaba atrapalhando um pouco a rotina de treinos”, relata a estudante.
Para conseguir os resultados, Laís contou com acompanhamento nutricional. “No início, eu mesma me reeduquei. Apenas comia saudável, mas sem dieta. Porém, de dois anos pra cá, procurei uma nutricionista pra seguir uma dieta de acordo com o meu objetivo”, explica. Hoje, com a informação que a faculdade lhe forneceu, Laís pondera que, apesar das pessoas já estarem mais conscientizadas para a necessidade de bons hábitos alimentares de exercício físico, o ganho de peso saudável ainda não é tão disseminado. “Para ganho de massa magra é um pouco mais complicado, pois você tem que comer mais, porém, de maneira correta, e o resultado é mais tardio do que emagrecer”, compara.
Dieta para ganho de massa magra também exige dedicação para obter bons resultados
A alimentação de Laís depende da fase da dieta em que está. Nem sempre é a quantidade a ser aumentada. “Se é para ganhar peso, sabendo que igual se ganha umas gordurinhas, tem que comer bastante, a cada três horas, incluindo carboidratos, proteínas e lipídios, se é mais para definir, o secar, daí como menos, mas também a cada três horas. São os mesmos nutrientes, porém, em menor quantidade”, detalha.
A rotina exige muita organização. Segundo ela, não se trata de algo fácil. Tudo exige comprometimento, mas traz satisfação ao poder acompanhar os resultados. “É a recompensa”, alegra-se ela.
Laís não detalha a sua dieta ou treino porque são coisas bem específicas suas. Cada caso tem que ser analisado para montar um treino adequado a cada aluno. São objetivos variados, que vão desde estética — emagrecer, ganhar massa magra, definir —, até prevenções ou reabilitações de lesões ou patologias. “Qualquer um consegue, mas claro que muitos fatores influenciarão”, complementa a estudante de Educação Física. O tipo de treino, se está adequado, se está seguindo uma dieta de acordo e se o corpo tem recebido o descanso necessário contam muito, assim como os fatores naturais, como genética e faixa etária.