Hospital é lugar de restabelecer a saúde. Ao menos é o que a população espera. Porém, a conclusão do Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), trouxe informações na direção contrária. As falhas em hospitais são a segunda causa de morte no país.
Falhas banais como erros de dosagem ou de medicamento, uso incorreto de equipamentos e infecção hospitalar mataram 302.610 pessoas nos hospitais públicos e privados brasileiros em 2016. Foram, em média, assustadoras 829 mortes por dia, uma a cada minuto e meio. Dentro das instituições de saúde, as chamadas mortes por “eventos adversos” ficam atrás daquelas provocadas por problemas no coração.
O número diário supera as 129 pessoas que morrem em decorrência de acidentes de trânsito no país, 164 mortes provocadas pela violência e cerca de 500 registros de mortos por câncer, ficando atrás das 950 vítimas de doenças cardiovasculares. Além das mortes, os eventos adversos impactam cerca de 1,4 milhão de pacientes ao ano com sequelas que comprometem as atividades rotineiras e provocam sofrimento psíquico. Esses efeitos também elevam os custos da atividade assistencial. O Anuário estima que os eventos adversos resultaram em gastos adicionais de R$ 10,9 bilhões em 2016.
O problema está no radar da Organização Mundial de Saúde. Estudos mostram que anualmente morrem 42,7 milhões de pessoas em razão de eventos adversos no mundo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, país com população aproximada de 325 milhões de pessoas, são registradas 400 mil mortes por eventos adversos ao ano, 1.096 por dia. Isso representa 16% menos que nos hospitais brasileiros. A diferença para o Brasil diz respeito, ainda, as mortes hospitalares, que são a terceira do ranking americano, atrás de doentes cardíacos e de câncer.
“Não existe sistema de saúde que seja infalível. Mesmo os mais avançados também sofrem com eventos adversos. A diferença é que, no caso brasileiro, apesar dos esforços, há pouca transparência sobre essas informações e, sem termos clareza sobre o tamanho do problema, fica muito difícil começar a enfrentá-lo”, afirma Renato Couto, professor da UFMG, um dos responsáveis pelo Anuário.