Junto com a criança nasce também o desejo da família que aquele bebê cresça saudável e passe normalmente por todas as fases da vida, porém nem sempre é isso que acontece. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) pelo menos uma em cada três crianças com menos de 5 anos – cerca de 250 milhões – está desnutrida ou com sobrepeso. Em contraponto a esse dado, especialistas recomendam que com a participação ativa dos pais e o estímulo às crianças podem superar as adversidades e ter um bom desenvolvimento infantil.
A educadora física, Jordana Lopes, possui mais de três anos de experiência em projetos de educação infantil que abordam o desenvolvimento motor e a psicomotricidade, e segundo ela, nos anos iniciais é muito importante a experiência e a vivência da criança com atividades. Hoje vemos pais e familiares colocando um desenho ou dando um jogo para a criança se distrair, o que ajuda muito, mas em excesso pode ser preocupante. “A gente sabe que agora com a tecnologia é comum que eles fiquem mais nos aparelhos, o que aumenta o índice de sedentarismo e isso posteriormente vai trazer outras consequências para a adolescência dessas crianças”, diz Jordana.
São várias as consequências de ter acesso somente à tecnologia, tanto físicas como psicológicas. Dentre elas: não conseguir se relacionar; não conseguir se expressar; não saber se impor; ter medo de realizar uma ação, etc. Além disso a criança pode ficar até com vergonha do próprio corpo.
“Um dos efeitos do sedentarismo é o acúmulo de gordura, pois a criança não estará praticando nenhuma atividade física, e muitas vezes se alimentando mau, e isso pode torná-la obesa. Se isso prosseguir para outras fases da vida, infelizmente pode gerar problema cardíaco ou de diabetes”, fala Jordana.
Segundo a pesquisa divulgada pela Unicef, aumenta progressivamente o consumo de alimentos ultraprocessados (alimentos com baixo valor nutricional e ricos em gorduras, sódio e açúcares) e também a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Uma em cada três crianças de 5 a 9 anos possui excesso de peso, 17,1% dos adolescentes estão com sobrepeso e 8,4% são obesos.
O movimento como aliado
O movimento hoje é muito mais do que só diversão, segundo a educadora física é essencial que os pais sejam participativos, além de só estimular a criança. “Quando colocar essa criança no chão da sala para brincar, que eles brinquem junto, que procurem essa criança e queiram fazer com ela atividades que eles brincavam na infância e que hoje não vemos mais, como bolita, taco, esse tipo de coisa”, recomenda.
Outra dica importante é que os pais estimulem as crianças desde pequenos com ambientes diferentes, como grama, areia e flores, pois isso proporciona novas experiências e ajuda na capacitação. “Além disso, é bem importante que os pais dêem responsabilidades para as crianças, para elas terem autonomia desde cedo. Na infância a melhor forma de aprender é brincando, mas dentro de casa é legal ter tarefas para aguçar o senso de autonomia mesmo”, diz.
Para além das brincadeiras, alguns dos movimentos recomendáveis para as crianças ocorrem da prática de esportes e danças. Professora de dança há 14 anos, Bianca Ávila, dá aulas para crianças desde os dois anos até a adolescência, passando por todas as fases. “O pessoal acha que colocar na dança é simplesmente por uma atividade física, mas na verdade isso é um complemento também, porque se está trabalhando com muitas áreas. É muito importante que as crianças façam atividades extras, seja dança, seja música, ainda mais agora, é fundamental tirar eles um pouco só dessa vibração tecnológica”, relata Bianca.
Segundo ela, com a dança a evolução na coordenação, no ritmo e nas funções motoras é notável, mas outras questões psicológicas também são percebidas. “Muitas vezes a criança é muito tímida, e aos poucos a gente vai conseguindo a confiança e quando vê eles estão até se apresentando. As vezes entram que nem falam com a gente, e quando vê temos que pedir pra falar menos, e até em casa os pais percebem a diferença e a mudança da criança”, conta.
O desenvolvimento emocional
Para que a criança se desenvolva completamente, não basta apenas observar a parte física, mas também o emocional/psicológico faz parte do processo de crescimento. Segundo a coordenadora pedagógica, com mais de 10 anos de atuação em gestão escolar, Débora Vargas Holderbaum, é preciso dar limites e dar atenção aos pequenos. Além disso, ela ressalta que a efetividade é muito importante para o desenvolvimento delas quanto ao emocional e os pais devem ficar de olho nisso.
“As crianças hoje ficam muito no mundinho deles, conectados, a gente tem que cuidar, porque eles passam muito tempo com a tecnologia e isso acaba criando um certo vício, tirando o tempo deles com os familiares”, comenta Débora. Cabe aos pais regrar esse tempo das crianças no uso das tecnologias para eles terem um momento de socialização com a família.
Os momentos de atenção e convívio entre criança e família são uma grande ajuda para o desenvolvimento pleno e aprendizagem, de acordo com a coordenadora pedagógica. “As crianças precisam desenvolver autonomia, mas pra isso também precisam da atenção dos pais, que são essenciais na formação”, completa.
Confira algumas brincadeiras para fazer com as crianças
Bolita
Usando um pauzinho, os participantes desenham um círculo grande na terra e colocam no centro dez bolinhas. Eles marcam uma linha no chão a uns dois metros dali. Cada um dos participantes fica com uma bolinha na mão.
O primeiro jogador coloca a bola na linha desenhada e bate nela com o dedo polegar, pegando impulso no indicador, em direção às bolinhas que estão no círculo. Se ele conseguir bater nas bolinhas e algumas saírem do círculo, pode pegar todas as que escaparam.
Se nenhuma bola do jogador ficar no círculo, ele perde a que jogou e passa a vez para o próximo participante. Ganha quem ficar com mais bolinhas no final.
Sapata ou Amarelinha
Joga, pula, agacha e pega a pedrinha! Tudo isso sem pisar na linha, é claro. Para essa brincadeira, desenhe um caminho no chão e divida-o em casas numeradas de 1 a 10. Jogue a pedrinha em ordem numérica, primeiro o 1, depois o 2 e assim por diante – vale lembrar que a criança não pode pisar na casinha que estiver com a pedrinha – ela deve pular, sem pisar nas linhas, até o final do trajeto. Ao chegar, deve retornar, apanhar a pedrinha e recomeçar, dessa vez, atirando a pedra na segunda casa e depois nas seguintes até passar por todas.
O participante não pode pisar, perder o equilíbrio ou jogar a pedra na risca nem atirá-la fora da risca. Se isso acontecer, ele volta para o início. Vence quem completar o caminho primeiro. Palavra da especialista: com essa brincadeira, a criança trabalha a questão de lateralidade, seu equilíbrio, a matemática, a lógica e a compreensão do que deve ser feito.
Taco
O grupo é dividido em dois times: um começa com os tacos – são os rebatedores – e outro com a bola – são os lançadores. Para o campo, desenhe dois círculos com giz no chão distantes cerca de 8 a 15 metros uma da outra. Dentro dele ficarão as bases. À frente das bases ficam os rebatedores e atrás do limite das bases os lançadores.
Os lançadores devem tentar derrubar a base oposta com a bolinha, enquanto os rebatedores devem defender a base com o taco. Se o rebatedor acertar a bola, o lançador que a jogou corre para pegá-la. Enquanto, isso, os rebatedores correm entre as bases e batem os tacos quando se cruzam. Cada batida vale dez pontos.
Quando o lançador pega a bola, os rebatedores param de correr. Se a base for derrubada, os times trocam de posição. Se houver mais de duas duplas os rebatedores saem, os lançadores viram rebatedores e uma nova dupla ocupa os lugares de lançador. É possível incorporar outras regras para dar uma variada no jogo, como, por exemplo, o lançador quando alcançar a bola pode tentar ‘queimar’ um dos rebatedores do lugar onde está, se este for atingido estará eliminado do jogo.