Nem só de remédios um tratamento psiquiátrico é feito. Muito menos de sessões de choque elétrico, cenas tão presentes no imaginário popular e que não fazem parte a realidade atual da psiquiatria. A manifestação artística está presente e faz toda a diferença nos hospitais psiquiátricos, é a arteterapia. A modalidade de atendimento se utiliza de técnicas expressivas como música, pintura, colagem, expressão corporal e outras atividades que promovam reflexões sobre o momento de conflitos internos do paciente.
A arteterapia foi incluída na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares por meio da portaria número 849, de 27 de março de 2017. A arte é utilizada no cuidado à saúde com pessoas de todas as idades, trazendo reflexão e estimulando sobre as possibilidades de lidar de forma mais harmônica com o estresse e experiências traumáticas.
As sessões podem acontecer em grupo ou individualmente, conforme o caso. Segundo a arteterapeuta do Hospital Montenegro, Katherine Lerner Bilhar, existem grupos mais específicos para problemas gerais, de vínculos familiares ou de dependências químicas, por exemplo. É feita a avaliação individual para saber quem pode ser estimulado a participar, haja vista que não existe obrigatoriedade participativa.
Já o psicólogo Giovane dos Santos, do Hospital Sagrada Família, em São Sebastião do Caí, define a arteterapia como uma oportunidade do paciente se expressar. “Não é um desenho, simplesmente, mas o que ele traz”, destaca. A arte dos pacientes aparece pelas paredes e corredores do hospital. São feitos por eles os enfeites das portas, a decoração usada em datas festivas e os centros de mesa da cafeteria. Sua arte também surge de forma improvisada, mas não menos representativa, em uma rabiscada parede da instituição caiense.
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Um recurso amplo e com bons resultados
Para os trabalhos são usados espaços internos e externos do HM. “Locais mais livres influenciam positivamente no tratamento. Inclusive estamos reinaugurando o pátio da instituição, o qual foi revitalizado e terá plantas e temperos para serem cultivados”, afirma a profissional. Por meio dos recursos expressivos, após as atividades, o paciente faz uma reflexão verbal das ações que ele mesmo executa. Isso serve, também, como releitura da tarefa realizada. “Dentro do conceito desta modalidade terapêutica, existe um período em que se usa a expressão verbal para, a partir do olhar de cada participante, dar sentido ao que é deles mesmo”, diz Katherine.
A técnica segue uma sequência. Primeiramente é colocada a proposta, a qual será desenvolvida naquele dia, ao mesmo tempo em que se avalia quem pode participar. As criações são livres ou com objetivos expostos pela coordenadora. Por meio disso, existe a reabilitação cognitiva e emocional dos pacientes. Ocorrem momentos de descontração e envolvimento entre os internados, bem como o contato com materiais que nunca foram usados ou usados há muito tempo por eles. “Conquistamos os pacientes e conversamos sobre a importância da continuação do tratamento durante a internação e após a alta”, revela Katherine. Além disso, os familiares são levados ao hospital com o propósito de levarem mais informações do histórico da pessoa tratada, incluindo isso na reabilitação. A arteterapeuta diz que este tipo de ação é valorizada dentro do hospital.
Elisabet Maurer Henz, enfermeira coordenadora do setor, diz que é importante as pessoas terem o conhecimento da terapia através da arte. E do profissional que a realiza. “Não é uma professora de artes ou ocupadora de tempo, é alguém que está ai para trabalhar com os pacientes de uma forma diferenciada e com bons resultados”, destaca. Por não conhecerem o que é arteterapia, as pessoas acabam confundindo com a terapia ocupacional ou com a professora de artes. “Alguns familiares não entendem o quanto é importante esse profissional desempenhar as atividades”, fala Elisabet. A ideia não é formar artistas ou artesãos, mas utilizar a expressão dos pacientes para evoluir mais rapidamente no tratamento psicosocial.