Receitas equivocadas para prevenção ao coronavírus

Cuidado ao produzir álcool em gel e sabão em casa é imprescindível

Diante da rápida proliferação do coronavírus pelo mundo todo, o medo se tornou constante no dia a dia da população. O foco está sendo a prevenção. Uma das formas para proteção é a lavagem correta das mãos com água e sabonete (ou sabão), ou a higienização com álcool em gel. O ponto principal é que tais produtos esgotaram rapidamente nas farmácias e supermercados inclusive em Montenegro, levando boa parte da população a buscar alternativas caseiras para a falta desses produtos. Assim, cada vez mais vídeos que ensinam algumas receitas surgem e vêm sido compartilhados nas mídias sociais e nos aplicativos de mensagens, se espalhando quase tão rápido quanto o novo coronavírus.

A professora licenciada e técnica em Química e mestranda em Engenharia e Tecnologia de Materiais, Letícia Mossmann, cedeu uma entrevista ao Jornal Ibiá explicando quais os reais riscos na produção desses produtos de maneira caseira. Ela alerta aos sérios equívocos disseminados nas alternativas e ainda salienta que tal assunto merece atenção do Conselho Federal de Química. “Diante da situação, meu papel como profissional da área é prestar o esclarecimento de algumas destas informações que circulam por aí”, pontua a professora.

Letícia explica que todos os vírus são revestidos por uma camada de proteínas e gorduras, sendo que tanto o álcool quanto o sabonete, ao serem aplicados na pele, conseguem eliminar tal camada, levando à destruição dos microorganismos. Ela relembra ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) recomendam o álcool com concentração de 70%, baseados em pesquisas que comprovam que este, na forma de gel, é o mais eficiente na destruição dos microrganismos como vírus, bactérias e fungos, pois permanece maior tempo em contato com a pele.

Foto: arquivo pessoal

Jornal Ibiá – O que significa álcool 70%? Qual é a diferença entre ele e o álcool líquido 70%?
Professora Letícia Mossmann –
A diferença entre o álcool líquido e gel é que no líquido temos o álcool etílico misturado com a água e no gel temos o álcool etílico misturado com o gel. O álcool gel é recomendado para ser aplicado na pele, pois ele demora mais para evaporar, ficando tempo maior em contato com a pele.
Se fossemos aplicar na pele o álcool líquido 70%, teríamos que aplicar umas 3 vezes, para ter o mesmo tempo de contato com o vírus em comparação com o álcool gel.

Ibiá – Podemos utilizar outros tipos de álcool na desinfecção doméstica?
Professora Letícia –
Para a desinfecção de superfícies, como mesas, balcões e móveis é recomendado a utilização do álcool etílico líquido 70%, pois o álcool em gel é mais difícil de espalhar de maneira uniforme por toda a superfície.
No comércio existem produtos específicos para a desinfecção de equipamentos eletrônicos, como celulares, computadores e televisões já que estes possuem sensibilidade à umidade. Por isso, esses produtos são compostos por álcool isopropílico que evapora mais rápido que o álcool etílico.

Ibiá – Podemos utilizar o vinagre para a mesma finalidade que o álcool 70%?
Professora Letícia –
Tenho visto pessoas recomendarem o uso do vinagre. Apesar de o produto também ter a composição química que desnatura as proteínas e gorduras, ele tem concentração muito baixa de ácido acético, normalmente em torno de 4%, por isso o vinagre não consegue destruir o vírus.

Ibiá – Podemos fabricar o sabonete e o álcool 70% em casa?
Professora Letícia –
O problema de seguir estas receitas são os erros cometidos nos produtos e quantidades utilizadas para fabricá-los, pois eles podem resultar em uma concentração abaixo da necessária para nos proteger. No caso da receita de sabonete caseiro, usa-se a soda. Se colocarmos uma quantidade maior que a necessária, então, ao lavar as mãos, ele pode irritar e lesionar a pele, uma vez que é um produto corrosivo utilizado também para desentupir pias e ralos, por exemplo.

Para produzir o álcool líquido 70% em casa, a grande limitação é a água, pois a utilizamos para beber, possui a presença de sais minerais e cloro. Na indústria química e farmácias, essa mesma água passa por um processo onde todas estas substâncias são eliminadas. Assim, ao utilizar a água da torneira para produzir, estamos utilizando uma água que possui substâncias que podem alterar a composição química do produto. O mesmo ocorre na produção do álcool gel 70%. O gel utilizado na indústria química e farmácias é específico para distribuir o álcool etílico de maneira uniforme e que não agrida a pele.

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