Coletivo Caixa de Abelha dá um salto de qualidade

Definitivamente, o Coletivo Caixa de Abelha dá um salto de qualidade! Isso se deve ao início da etapa de produção de mais um projeto cultural deste grupo de jovens cineastas de Montenegro. Será um curta-metragem de animação usando a técnica stop motion, que abordará o tema do abuso sexual infantil. Apesar de o personagem principal, Flynch, ser um ursinho de pelúcia, a escalada do roteiro de ‘217’ será voltada unicamente ao público adulto.

Gabriela Mauss é proponente do projeto, animadora e responsável pela divulgação do filme. Pois ela ressalta que o projeto inscrito como “217 – 18 de maio de 1973” será realizado com recursos da Lei N° 14.017/2020 e aprovado no ‘Edital Sedac nº 01/2022 FAC Filma RS’. A produção independente recebeu R$ 50.000,00 do Estado, tendo sido a sexta entre 20 escolhidas para receber incentivo.

Tiago Bayarri divide a direção com o roteirista Luis Felipe Fernandes. Gabriela explica que a ideia teria surgido quando Fernandes leu notícia a respeito de abuso infantil, em 2020. O título do filme refere-se ao Artigo 217-A do Código Penal. “A partir dele houve presunção da vulnerabilidade da vítima, devido ao fato de a idade definir a incapacidade dela consentir para um ato sexual. Antes, haviam brechas”, explica o roteirista.

Após a captação do recurso aconteceu a formação da equipe, momento no qual o Caixa de Abelha ergueu outra importante pauta, ao contratar profissionais LGBTQIA+ e Transgêneros. Gabriela observa que há um déficit de ofertas de trabalhos para este público, não importando o quão qualificada é a pessoa. O próprio Coletivo se reconhece com integrantes LGBT. Dos 15 integrantes desta produção, 13 são profissionais que se identificam neste espectro.

“Reunimos todo mundo e foi dado o start”, declara, referindo-se à fase de reuniões entre equipes criativa e técnica. Estúdio, figurino e equipamentos foram definidos, e as filmagens devem iniciar em agosto, com prazo para finalizar até novembro.

Coletivo domina essa técnica
É o primeiro projeto do Caixa de Abelha com apoio financeiro, o que permite contratar especialistas, unindo mais profissionalismo à criatividade, e viabilizando o investimento que exige a técnica de stop motion. Gabriela explica que para finalizar o curta-metragem de 10 minutos serão necessárias até oito diárias de estúdio, com oito horas de trabalho cada. Nada que tire do Coletivo um carinho pela técnica.

“Nos dá mais liberdade para brincar com as coisas, que sem o stop motion não poderíamos fazer”, defende. Em seu currículo, o grupo tem duas dessas produções: o inédito “Após a Sopa” – animação de objetos – e o lançamento de 2022 “Zé de Lima, Rua Laura 1.010” – objeto animado contracenando com ator. Este segundo método será aplicado no filme “217”.

Coletivo Caixa de Abelha de Montenegro em reunião virtual do curtametragem 217
Equipe do Caixa de Abelha dá valor aos profissionais LGBTQIA+

Técnica de Stopmotion
Neste tipo de trabalho, um objeto é posicionado várias vezes, com milímetros de diferença entre as poses, sendo fotografado em cada uma delas. Depois, a passagem rápida dos fotogramas – já na película – produz o movimento da figura.

Responsabilidade com tema delicado
O cuidado na abordagem do assunto é outra obsessão dos produtores, que contam com assessoria da socióloga Ana Lídia Rost e da psicóloga Celesti Graef. “Para que a gente consiga tratar deste tema com a responsabilidade que precisa”, definiu Gabriela. Ela afirma ainda que o curta terá idade indicativa mínima de 16 anos. Isso confirma que a opção por filme de animação não foi visando alcançar o público infantil.

A denúncia é para que os adultos tenham atenção em situações de abuso que estejam acontecendo diante de seus olhos. Inclusive, a película ressaltará a tese comprovada de que “a história se repete”, com Flynch passando de abusado a abusador. Quesitos que alçam o papel das profissionais de psicologia e sociologia no set, guiando uma narrativa com a maior redução possível de “gatilhos”, mas sem interferir no processo criativo.

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