Não ignore seus medos na volta ao “normal”

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, muitas flexibilizações estão ocorrendo em diversos municípios e, em todos os setores, a vida se encaminha ao “normal”, mesmo que ainda não completamente. Porém, a pandemia deixou alguns medos e inseguranças a muitas pessoas. Após quase dois anos em isolamento, com regras rígidas de distanciamento, viver a vida como antes da doença pode parecer um desafio para alguns. O psicológico de muitos ficou e segue abalado, perdido, confuso. Por isso, não pense duas vezes caso precise de ajuda psicológica para enfrentar essas alterações recorrentes. Enquanto os profissionais de saúde davam (e ainda dão) o melhor de si para socorrer a todos, o mundo todo usa a chegada da vacina como um remédio para tentar amenizar tanta insegurança e sofrimento. Quando tudo passar, quais terão sidos os danos à saúde mental?

A psicóloga mestre em psicologia e saúde, Mara Cristiane Von Mühlen ressalta a importância de uma autoavaliação honesta, já que ao observar a pandemia e tudo que ela causou, se nota que algumas fragilidades emocionais ficaram mais evidentes. “A pessoa precisa ver se ela tem recursos internos de lidar com esse novo panorama, que, obviamente causa algum desconforto, o que está dentro de uma normalidade, ou se, para além desse desconforto, há um sofrimento que está inviabilizando a pessoa de seguir sua vida. Caso isso esteja ocorrendo, sim, um acompanhamento psicológico e uma psicoterapia podem ser de grande ajuda” ressalta. Para a profissional, não há fórmula secreta para lidar com as mudanças e adaptações para um “novo normal” que se aproxima. “É necessário se conhecer, se respeitar, mas entendendo que certo nível de desconforto pode acontecer e é normal com essa volta às atividades”, afirma.

Todas as idades e setores tiveram que se readaptar durante a pandemia. Muitas pessoas não saíram de casa nem mesmo para ir ao mercado ou farmácia, o que em alguns casos, pode ter gerado certo “medo” de voltar a sair e ter, de fato, uma vida pessoal. Mara pontua que, nestes casos, é preciso sim buscar ajuda. “Caso a pessoa tenha desenvolvido uma ansiedade social, por exemplo, o acompanhamento ou terapia podem iniciar dentro da casa da pessoa e, aos poucos, o terapeuta acompanha o paciente na reinserção em atividades sociais.”

Mara afirma, ainda, que situações de crise são ruins, mas também podem ser grande fonte de aprendizado e o que se deve estar atento é aos sinais graves. “É aquela coisa de se trocar a pergunta “por que isso acontece comigo” por outra pergunta “para que isso acontece comigo?”. São situações que nos fazem repensar, adaptar, adequar, mudar a nossa forma de estar no mundo, muitas vezes. Certo nível de ansiedade e insegurança são normais nesses casos. É o nível que nos mobiliza para a mudança. Mas, devemos ficar atentos aos níveis que nos imobilizam, nos travam”, pontua.

Adolescentes passam por fase preocupante
A adolescência por si só já é uma fase complexa, por isso, todas as mudanças causadas pela pandemia – e agora pelo retorno às atividades, podem ser ainda mais impactantes. Mara relembra que neste período da vida, a formação de identidade em ampla ascensão, necessita de contato, o que foi tirado do adolescente neste período de crise. “Adolescentes precisam do contato com outros adolescentes. Precisam do sentimento de pertencimento a um grupo, razão pela qual se vestem da mesma forma, criam suas gírias e foram privados disso”, ressalta.

Por isso, cabe aos pais/responsáveis estarem atentos às mudanças que ocorreram. “Atentos ao grau de sofrimento dos filhos, mudanças radicais de hábitos, isolamento para além do físico (porque muitos direcionaram para atividades online com os amigos, algo saudável). É necessário que o adolescente tenha um canal de comunicação aberto com as suas figuras adultas de referência. E, em todos os casos em que se perceba sofrimento no adolescente, procurar uma ajuda profissional é bem importante”, destaca.

Adultos também podem ter dificuldades
Quem trabalhou boa parte (ou todo o período) da pandemia em casa também pode ter desenvolvido inseguranças. O sentimento de incerteza esteve presente de diferentes formas, tanto em relação à realidade econômica, como o medo do contágio, preocupação com a saúde de familiares, entre outros. Mara explica que a questão é saber se esse nível de insegurança é algo dentro do normalmente esperado, dado o quadro da pandemia, ou se vai além, se está em um nível de sofrimento ou imobilização.

“A forma de enfrentamento vai da capacidade de cada um. Entra novamente a questão da autoavaliação, autoconhecimento. De saber das suas limitações, potencialidades, se tem ou não um bom suporte familiar social. Nos casos em que a pessoa esteja em sofrimento, deve procurar uma ajuda profissional que pode ser em caráter de intervenção em crise ou acompanhamento psicológico, que são formas mais breves e pontuais de um psicólogo trabalhar, ou algo mais aprofundado como psicoterapia”, destaca.

Crianças e a ressocialização
Com o período em casa, as crianças também foram privadas de muitas coisas e em muitos casos, precisarão de uma ressocialização em creches e locais fora de casa. A psicóloga afirma que a parte boa é que as crianças têm uma capacidade de adaptação muito grande, maior do que a dos adultos. “Exceto crianças pequenas, menores de cinco anos, que tenham apresentado ansiedade de separação no processo de adaptação inicial nas creches, por exemplo, algo que pode ocorrer novamente. As demais, acredito que estão ansiosas pela volta à escola, por brincar com os amigos”, salienta.

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