No verão, é preciso atenção redobrada com a saúde ocular. O calor intenso, a exposição ao sol, o uso de aparelhos de ar condicionado e o contato com a água do mar e de piscinas podem causar ressecamento nos olhos e facilitar o surgimento de doenças. O tema foi abordado, nesta semana, no novo quadro “Saúde é Prevenção”, do Programa Estúdio Ibiá, que teve como primeiro convidado o oftalmologista Pietro de Azevedo, da clínica Argus Oftalmologia.
Segundo o especialista, o verão apresenta dois principais riscos para a visão. O primeiro é a secura dos olhos, provocada pelas altas temperaturas e pelo vento, especialmente em ambientes como a praia. “Nosso olho possui uma camada de lágrima que o mantém lubrificado e confortável. Em ambientes quentes e secos, essa camada evapora mais rapidamente, causando desconforto”, explica o médico.
Além disso, uma maior exposição aos raios ultravioleta pode causar danos oculares. Para se proteger, Azevedo recomenda o uso de barreiras físicas, como óculos escuros com proteção UV, que ajudam a minimizar o impacto do vento e do sol.
O oftalmologista também esclareceu dúvidas sobre o uso de colírios. Embora possam ser adquiridos sem receita médica, ele alerta para o risco de escolha específica. “Muitas vezes, ao comprar um colírio na farmácia sem orientação, o paciente acaba recebendo um produto com medicamento, que pode não ser adequado para o seu caso. O ideal é sempre consultar um especialista para identificar a real necessidade e indicar a melhor opção de lubrificação para cada tipo de olho seco”, reforça.
Óculos de sol sem proteção podem prejudicar a visão
O uso de óculos de sol inadequado pode ser mais prejudicial à saúde ocular do que não utilizar nenhuma proteção. Segundo o oftalmologista Pietro de Azevedo, modelos vendidos em camelôs e praias não possuem filtros contra raios ultravioletas (UV) e podem aumentar os danos causados pelo sol.
“Ao usar óculos escuros sem filtro UV, a pupila se dilata devido à redução da claridade. Isso permite a entrada de mais luz, inclusive raios ultravioletas, aumentando o risco de lesões oculares”, explica o especialista. Dessa forma, ao invés de proteger, esses óculos expõem os olhos a uma quantidade maior de radiação nociva.
A melhor forma de proteger a visão é optar por óculos certificados, que garantem a filtragem adequada dos raios UV. O oftalmologista reforça que, ao escolher um acessório para os olhos, é essencial verificar a procedência e a qualidade das lentes, evitando alternativas que ofereçam uma falsa sensação de segurança.
Contato com a água resseca os olhos e aumenta riscos para usuários de lentes
O contato dos olhos com a água, seja do mar, da piscina ou dos rios, pode causar ressecamento e aumentar o risco de infecções. Segundo o oftalmologista Pietro de Azevedo, ao mergulhar de olhos abertos, a lágrima que lubrifica a superfície ocular se dilui na água. “A lágrima não é composta apenas por água, mas por outras substâncias que garantem a lubrificação adequada. Ao mergulhar, essa camada se dissolve, deixando os olhos mais secos”, explica o especialista.
Além do ressecamento, as substâncias presentes na água podem agravar o problema. No caso das piscinas, o cloro pode irritar a superfície ocular, enquanto a água do mar, devido à alta concentração de sal, também contribui para o desconforto.
Para quem usa lentes de contato, o cuidado deve ser ainda maior. Azevedo alerta para o risco de infecções causadas por microrganismos presentes na água, como a Acanthamoeba, que pode penetrar na lente e provocar quadros graves de inflamação ocular. “Lente de contato e água não combinam. O ideal é retirá-las antes de entrar na piscina, no mar ou no rio. Caso isso não seja possível, uma alternativa é o uso de lentes descartáveis, mesmo assim, elas não eliminam o risco”, orienta o médico.
Olho seco é mais comum entre mulheres
O ressecamento dos olhos é uma condição frequente e pode afetar qualquer faixa etária, mas é mais comum em mulheres, especialmente durante ou após a menopausa. Segundo o oftalmologista Pietro, isso ocorre devido às mudanças hormonais que afetam a produção da lágrima. “A lágrima não é composta apenas por água, mas também por outros componentes, como gorduras que ajudam a manter a lubrificação ocular. Na menopausa, há uma alteração na produção dessa gordura, o que torna as mulheres mais suscetíveis ao olho seco”, explica.
Além das questões hormonais, algumas doenças de pele, especialmente aquelas que afetam o rosto, também podem contribuir para o ressecamento ocular. “Muitas pessoas lidam com o desconforto por conta própria, usando colírios sem orientação médica, sem identificar a causa real do problema. Isso pode levar a complicações, já que o olho seco pode estar associado a outras condições oftalmológicas”, alerta Azevedo.
Uma recomendação para quem sente sintomas como ardência, sensação de areia nos olhos e visão embaçada é procurar um oftalmologista. O diagnóstico correto permite indicar o melhor tratamento, que pode incluir sintomas específicos e ajustes de rotina para aliviar os sintomas.
Impactos do uso prolongado de telas e cuidados com produtos de beleza
Conforme o oftalmologista, o uso prolongado de telas, como celulares, computadores e TVs, não causa danos permanentes aos olhos, mas pode gerar desconforto e fadiga ocular. Segundo o Pietro, a luz emitida por esses dispositivos não tem potência suficiente para prejudicar a visão. “O problema está na proximidade e no tempo prolongado de uso, que faz com que pisquemos menos e o olho fique mais seco”, explica. O especialista recomenda pausas regulares para descanso da visão e o uso de colírios quando necessário.
Já no caso da maquiagem, a recomendação principal é removê-la completamente todos os dias. “A pele e os olhos precisam de um período sem maquiagem para se recuperar e respirar melhor. Se possível, a remoção deve ser feita assim que a pessoa chegue em casa, sem esperar a hora de dormir”, alerta Azevedo.
A escolha dos produtos também é fundamental. Cosméticos vencidos ou de baixa qualidade podem causar irritações e infecções. O ideal é verificar se a maquiagem tem testes oftalmológicos, já que a maioria possui apenas certificações dermatológicas. Na hora da remoção, lenços demaquilantes específicos para a área dos olhos são os mais indicados.
Além disso, o uso de shampoo nos olhos pode ser recomendado em casos de infecções ou para quem utiliza maquiagem com frequência. “Existem shampoos específicos para a limpeza dos cílios, que são mais indicados para a saúde ocular”, explica o oftalmologista.
A importância da consulta oftalmológica e da higiene das mãos
Muitas pessoas procuram o oftalmologista quando percebem dificuldades para enxergar, mas consultas regulares são essenciais mesmo para quem não tem problemas de grau. Além de diagnosticar possíveis alterações na visão, o acompanhamento médico pode prevenir e tratar precocemente doenças oculares que, sem intervenção, podem se agravar.
Outro hábito fundamental para a saúde dos olhos é a higiene das mãos. De acordo com especialistas, o contato direto das mãos com os olhos é uma das principais formas de transmissão de infecções externas, como a conjuntivite. “A maioria dessas infecções ocorre pelo toque. Se não lavarmos as mãos com frequência ou não utilizarmos álcool em gel, aumentamos o risco de problemas na parte externa dos olhos”, explica.
A recomendação é evitar coçar os olhos e adotar uma rotina de higiene adequada para reduzir a exposição a agentes contaminantes. Pequenos cuidados diários e consultas regulares ao oftalmologista são essenciais para manter a saúde ocular no dia.