A esporotricose, uma infecção causada pelo fungo Sporothrix spp, está avançando em Montenegro e já infectou humanos. A doença, que se manifesta principalmente em gatos, mas também pode acometer cachorros, pode ser transmitida para pessoas por meio de arranhões, mordidas ou até pelo contato direto com feridas de animais contaminados. O fungo pode estar presente no solo, palha, vegetais, espinhos e madeira, e é por isso que os gatos são animais mais propensos à doença.
Em entrevista ao Estúdio Ibiá, Beatriz Regina Garcia, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, e Joana Mara dos Santos, chefe da Vigilância Ambiental, trouxeram dados preocupantes: em 2025, a cidade já conta com três casos de esporotricose em humanos e 39 em animais, que permanecem em tratamento. Com o aumento da incidência, a Secretaria de Saúde reforça a necessidade de conscientização da população para evitar a disseminação da doença e buscar tratamento imediato ao identificar sinais da infecção.
Sintomas e evolução da doença nos humanos
Nos humanos, a esporotricose pode ser confundida com outras infecções de pele. Inicialmente, aparecem pequenas feridas que se assemelham a picadas de insetos ou furúnculos. No entanto, ao invés de cicatrizarem, elas aumentam de tamanho e se espalham, seguindo o trajeto dos vasos linfáticos. “Quando sai uma ferida, começam a aparecer umas bolhas na região linfática. Não sai uma só, mas várias, como se fosse uma sequência de pequenas inflamações”, explica Joana.
Se não for tratada, a infecção pode se agravar, atingindo tecidos profundos, articulações e até órgãos internos. Pessoas com imunidade comprometida – como idosos, gestantes e pacientes com doenças crônicas – correm maior risco de complicações. Por isso, ao notar qualquer lesão de evolução atípica, é essencial procurar atendimento médico. A Vigilância em Saúde está monitorando os casos e encaminhando os pacientes para tratamento especializado.
Como ocorre a transmissão?
A principal forma de contágio em humanos ocorre pelo contato direto com animais infectados. Como o fungo está presente no ambiente, os felinos se contaminam ao arranhar superfícies infectadas. Ao se coçarem, espalham o fungo para outras partes do corpo e para o ambiente doméstico. Os humanos, por sua vez, podem contrair a infecção ao entrar em contato com secreções das feridas, ao serem mordidos ou arranhados pelos animais doentes. “Os gatos não são culpados. Eles são vítimas da doença”, ressalta Beatriz. Ela reforça que, além do contato com animais, a transmissão também pode ocorrer ao manusear terra, palha e madeira contaminada sem o uso de luvas.
Tratamento e recuperação
A esporotricose tem tratamento tanto para humanos quanto para animais. Nos pacientes, o protocolo terapêutico inclui o uso de antifúngicos, geralmente administrados por via oral. “Nos humanos, o tratamento dura cerca de 30 dias e tem uma boa resposta. Já nos animais, pode levar de três meses a um ano, dependendo da gravidade do caso”, explica Beatriz. Apesar da eficácia do tratamento, a recuperação depende do diagnóstico precoce. Quanto mais cedo a doença for identificada, maiores as chances de cura sem complicações. “Se a ferida não melhora, cresce ou se abre, é hora de procurar ajuda”, reforça Joana.
Medidas de prevenção e combate à doença
Ao notar sinais da esporotricose em si mesmo ou em um animal de estimação, a recomendação é buscar ajuda profissional imediatamente. A Vigilância em Saúde tem um fluxo de atendimento específico para os casos suspeitos. A equipe de Vigilância reforça que o abandono de animais não é a solução.
A Secretaria de Saúde tem intensificado ações para conter a disseminação da esporotricose. Entre as estratégias adotadas estão a castração de gatos, campanhas de conscientização e incentivo à limpeza de terrenos. “A castração reduz a circulação dos gatos e, consequentemente, a disseminação da doença”, explica Beatriz.
A limpeza de quintais e terrenos baldios também é uma recomendação importante, pois evita a proliferação do fungo. “Folhas acumuladas, madeira e entulho criam um ambiente propício para o crescimento do fungo. Estamos disponibilizando containers para o descarte correto desses materiais”, destaca Joana.
A orientação final das especialistas é clara: informação, prevenção e tratamento adequado são as melhores formas de controle da esporotricose. Se cada um fizer sua parte, conseguiremos reduzir os casos e proteger a saúde da comunidade.
Evite a contaminação!
Evite o contato direto com o fungo;
Utilize luvas e roupas de manga longa ao manusear plantas e materiais do solo;
Use calçados em trabalhos rurais;
Mantenha os animais saudáveis em casa e evite que entrem em contato com animais contaminados;
Catre animais saudáveis para reduzir as saídas para a rua;
Mantenha gatos doentes em locais seguros e isolados;
Use luvas ao manusear animais infectados;
Limpe o ambiente dos animais doentes com água sanitária diariamente;
Lave bem as mãos após manusear ou tratar o animal doente;
Avise o serviço de controle de zoonoses se encontrar animais com ferimentos;
Lave imediatamente o local com água e sabão se for arranhado por um gato suspeito de esporotricose.
Tipos de esporotricose
Esporotricose cutânea: caracteriza-se por uma ou múltiplas lesões, localizadas principalmente nas mãos e nos braços;
Linfocutânea: é a forma mais frequente. São formados pequenos nódulos, localizados na camada da pele mais profunda, seguindo o trajeto do sistema linfático da região corporal afetada. A localização preferencial é nos membros;
Extracutênea: quando a doença se espalha para outros locais do corpo, como ossos, mucosas, entre outros, sem comprometimento da pele;
Disseminda: acontece quando a doença se dissemina para outros locais do organismo, com comprometimento de vários órgãos e/ou sistemas (pulmão, ossos, fígado).
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Dengue: risco apesar dos casos zerados
Montenegro não registrou casos de dengue em 2025, mas a presença do Aedes aegypti na cidade e o aumento da doença em municípios vizinhos preocupam. “A dengue ainda não chegou este ano, mas o mosquito está aqui. Se tivermos a introdução do vírus, os casos podem crescer rapidamente”, alerta Beatriz.
Os sintomas da dengue incluem febre alta, dores no corpo, fadiga, manchas vermelhas na pele e, em casos mais graves, sangramentos. A melhor forma de prevenção é eliminar locais com água parada, manter calhas limpas e tampar caixas d’água. “Estamos fazendo visitas domiciliares, aplicação de larvicidas e campanhas educativas. Mas sem o envolvimento da população, é impossível conter a doença”, ressalta Beatriz.
Leptospirose: perigo após chuvas
A leptospirose é causada por bactérias do gênero Leptospira, presentes na urina de roedores. A infecção ocorre pelo contato com água contaminada, comum em períodos de enchentes. Os sintomas incluem febre, dores musculares, vômitos e, em casos graves, insuficiência renal e hepática. O tratamento é feito com antibióticos, mas a melhor forma de prevenção é evitar contato com enchentes e manter o ambiente limpo para afastar ratos.
Toxoplasmose: atenção para gestantes
A toxoplasmose é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii e pode ser transmitida pelo contato com fezes de gatos infectados, carne crua ou água contaminada. Muitas pessoas não apresentam sintomas, mas gestantes correm risco de transmissão ao feto, podendo causar má-formação congênita. A prevenção inclui o cozimento adequado de carnes, higiene rigorosa e uso de luvas ao manipular areia de gatos.
Sobre o fungo
Os fungos do gênero Sporothrix foram descobertos no final do século 19. Até a década de 1990, as espécies normalmente eram encontradas no solo e em plantas. Além disso, não costumavam afetar tanto os seres humanos. Quando ocorria uma infecção, ela estava associada ao contato direto do indivíduo com um vegetal contaminado pelo fungo. Por isso, no passado a esporotricose era conhecida como “doença do jardineiro” ou “doença da roseira”
Ao longo dos últimos anos, no entanto, os pesquisadores descobriram que dentro do gênero Sporothrix há espécies mais virulentas para animais, como o Sporothrix brasiliensis. Descoberto pelos cientistas em 2007, esse fungo “abrasileirado” tem algumas diferenças em relação a seus parentes próximos, como parede celular (estrutura celular) mais espessa, quantidade diferenciada de antígenos e microfibrilas (fibras finas) de parede mais longas.
Ainda segundo os pesquisadores, os fungos do genêro Sporothrix têm a capacidade de mudar de sua forma de hifa (estrutura com formato filamentoso) em temperaturas ambientes de 25ºC para um formato de levedura parasita em temperaturas acima de 37°C.
Raiva: doença letal
A raiva é uma doença viral grave que afeta mamíferos, incluindo cães, gatos, morcegos e humanos. O vírus é transmitido principalmente pela mordida de animais infectados, afetando o sistema nervoso central e levando à morte se não for tratado rapidamente.
Nos humanos, a raiva começa com febre, dor de cabeça e formigamento no local da mordida. Com a evolução, surgem sintomas neurológicos graves, como espasmos musculares, agressividade, dificuldade para engolir e convulsões. A vacinação de cães e gatos é a principal forma de prevenção. Pessoas mordidas por animais suspeitos devem lavar a ferida com água e sabão e procurar atendimento médico imediatamente para receber a vacina antirrábica.
Febre amarela: doença infecciosa
A febre amarela é uma doença infecciosa causada pelo vírus da febre amarela, pertencente à família Flaviviridae, e transmitida pela picada de mosquitos infectados. A doença pode se manifestar de forma leve ou grave, podendo levar à morte em alguns casos. Existem duas formas de febre amarela: silvestre e urbana . Na febre amarela silvestre, o vírus circula entre primatas (macacos) e mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, infectando humanos que adentram áreas de mata. Já na febre amarela urbana, que não ocorre no Brasil desde 1942, a transmissão se dá pelo mosquito Aedes aegypti , o mesmo que transmite dengue, zika e chikungunya. Sintomas de Febre Amarela Os sintomas aparecem entre 3 e 6 dias após uma picada do mosquito infectado e incluem: febre alta e repentina, dores musculares, especialmente nas costas, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza.
Larva migrans cutânea (bicho geográfico)
A larva migrans cutânea, popularmente conhecida como “bicho geográfico”, é uma infecção de pele causada pelas larvas de parasitas como Ancylostoma braziliensis, que normalmente infestam cães e gatos. As larvas penetram na pele humana ao andar descalço em solos contaminados com fezes de animais infectados. A infecção apresenta os seguintes sintomas: coceira intensa; vermelhidão e inchaço; lesões cutâneas; bolhas e vesículas; dor e desconforto. O diagnóstico é clínico, com base no histórico de exposição, e pode incluir biópsia de pele. O tratamento é realizado com antiparasitários tópicos ou orais, como tiabendazol e ivermectina.
Leishmaniose: três tipos
A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por parasitas do gênero Leishmania, transmitidos pela picada de mosquitos flebotomíneos (conhecidos como “mosquito-palha”). São três tipos: a leishmaniose cutânea causa feridas na pele que podem se expandir e formar úlceras, nódulos ou placas. A mucocutânea afeta as mucosas do nariz, boca e garganta, podendo causar deformidades e a leishmaniose visceral (calazar) é a forma mais grave, que provoca febre prolongada, perda de peso, aumento do fígado e baço, anemia, fraqueza e risco de infecções secundárias. O diagnóstico é realizado por meio do exame clínico, e a confirmação laboratorial por biópsia de pele, aspirado de medula óssea ou baço, testes sorológicos e moleculares (PCR). O tratamento varia conforme o tipo e a gravidade da doença, com a utilização de medicamentos antimoniais pentavalentes (como glucantime) ou anfotericina B.