Autismo: desafios que vão desde a compreensão ao diagnóstico e tratamento

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na comunicação, interação social e padrões de comportamento repetitivos. O autismo é um espectro, o que significa que há variações na intensidade dos sinais e nas necessidades de suporte de cada indivíduo.

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Passo Fundo (UPF) revela que uma em cada 30 crianças no Brasil possui TEA. O Transtorno é classificado em diferentes níveis conforme a necessidade de apoio. No nível 1, há leve comprometimento na interação social e na flexibilidade comportamental, exigindo suporte moderado. No nível 2, a dificuldade de comunicação e adaptação às mudanças é maior, demandando suporte substancial. Já no nível 3, as limitações são mais significativas, necessitando de suporte muito substancial para as atividades diárias.

O diagnóstico do TEA é clínico, baseado na observação do comportamento e na análise do histórico do desenvolvimento da criança. Profissionais como neurologistas, psiquiatras e psicólogos especializados utilizam escalas padronizadas e entrevistas com os responsáveis para confirmar o diagnóstico.
A detecção precoce é essencial para um melhor desenvolvimento da criança. O diagnóstico pode ser feito a partir dos 18 meses, considerando sinais de alerta como ausência de contato visual, falta de resposta ao chamado pelo nome, atraso ou ausência de fala, resistência a mudanças na rotina e movimentos repetitivos.

O tratamento do TEA é multidisciplinar e pode envolver terapia comportamental, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento médico. A abordagem é individualizada e tem o objetivo de estimular habilidades sociais, cognitivas e motoras, além de proporcionar maior autonomia para a pessoa com autismo.

Ter atenção aos marcos do desenvolvimento infantil é fundamental para identificar precocemente o TEA. Bebês com poucos meses de vida costumam sorrir e interagir visualmente com os cuidadores. Aos 12 meses, já balbuciam e respondem ao próprio nome. O atraso ou a ausência desses comportamentos pode ser um indicativo da necessidade de avaliação profissional.

O acompanhamento contínuo e o acesso a intervenções especializadas possibilitam uma melhor qualidade de vida para pessoas com TEA e suas famílias. Contar com uma rede de apoio também é fundamental para lidar com o diagnóstico e todas as mudanças que chegam junto com ele.

Diagnóstico precoce e aceitação são fundamentais para garantir qualidade de vida às pessoas com TEA

Josiane Medtler, conselheira da Associação Ser Autista

A conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem avançado nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios, especialmente entre adultos. Conforme a conselheira da Associação Ser Autista de Montenegro, Josiane Medtler, o aumento dos diagnósticos tem levado a um maior entendimento dentro das escolas, onde crianças típicas e atípicas convivem diariamente. Segundo ela, essa interação tem feito com que as crianças sejam as principais responsáveis por levar informação e sensibilizar os pais sobre o tema.

A falta de conhecimento sobre o autismo, no entanto, ainda gera barreiras para muitas famílias. A aceitação do diagnóstico pode ser um processo difícil, especialmente quando há desconhecimento sobre os sinais do transtorno. Segundo Josiane, algumas características, como atrasos no desenvolvimento da fala ou dificuldades no contato visual, podem ser minimizadas ou interpretadas como comportamentos comuns. Isso pode atrasar a busca por um diagnóstico, prejudicando as intervenções precoces, fundamentais para o desenvolvimento da criança.

Outro obstáculo enfrentado pelas famílias é a dificuldade no acesso ao diagnóstico. O processo pode envolver múltiplas consultas médicas e exames para descartar outras condições. Josiane relata que, no caso de seu filho, foi necessário passar por diversos pediatras antes de conseguir um encaminhamento para um neurologista. A pandemia também impactou esse processo, uma vez que muitos atrasos no desenvolvimento infantil foram atribuídos ao isolamento social.

O diagnóstico de TEA em adultos tem se tornado mais frequente. Muitas pessoas passam a vida enfrentando dificuldades de adaptação sem saber que estão dentro do espectro. O presidente da associação, João Maciel Donbrowski, compara esse processo de diagnóstico a uma série de testes que analisam diferentes aspectos da vida do indivíduo, permitindo identificar traços característicos do autismo e oferecer suporte adequado.

Joseane já passou por testes e teve como diagnóstico Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Para ela, a conscientização sobre o TEA e demais transtornos segue como um desafio, mas o aumento dos diagnósticos e o engajamento de escolas e comunidades demonstram avanços no entendimento e na aceitação do autismo na sociedade.

Preconceito e falta de compreensão ainda são desafios enfrentados pessoas com Autismo

O preconceito e a falta de compreensão sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) seguem como desafios diários para pessoas com autismo e suas famílias. O presidente da Associação Ser Autista de Montenegro, João Maciel, destaca que o desconhecimento sobre o transtorno faz com que muitas pessoas enfrentem dificuldades de aceitação, inclusive dentro do próprio ambiente familiar.

Segundo João, é comum que pais neguem inicialmente o diagnóstico, interpretando características do autismo apenas como traços individuais da criança. Essa resistência pode retardar o acesso a intervenções adequadas, prejudicando o desenvolvimento infantil. A recomendação é que, ao perceber qualquer diferença ou atraso no desenvolvimento, os responsáveis busquem ajuda profissional.

A inclusão escolar é um dos principais desafios enfrentados pelas famílias. Em salas de aula onde não há estudantes com autismo, o ensino pode ocorrer sem adaptações, o que gera menos trabalho para educadores. No entanto, essa realidade exclui crianças que necessitam de suporte para aprender e interagir no ambiente escolar.

O combate ao preconceito exige maior conscientização sobre o autismo e o impacto que a aceitação tem na vida das pessoas diagnosticadas. A busca por conhecimento e apoio adequado pode garantir um futuro mais inclusivo e acessível para todas as pessoas dentro do espectro.

Associação Ser Autista oferece apoio a famílias em Montenegro

Criada em 2020, a Associação Ser Autista, de Montenegro, tem o objetivo de oferecer apoio a famílias e promover o desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na comunidade. A entidade atua por meio da troca de informações, auxílio na busca por direitos e medicações, além da realização de encontros e eventos voltados ao tema.

João Maciel Donbrowski, presidente da Associação Ser Autista

De acordo com João Maciel Donbrowski, presidente da associação, cerca de 250 pessoas participam dos grupos de apoio. “A gente procura fazer essas trocas, dar suporte na busca por melhores medicações, além de auxiliar na obtenção de direitos”, explica. Ele também destaca que o número de pessoas com TEA na cidade pode ser ainda maior, especialmente entre adultos que nem sempre têm acesso ao diagnóstico e acompanhamento adequado.

Atualmente, a Associação Ser Autista não possui uma sede fixa. As atividades são organizadas por meio de canais digitais, onde os membros compartilham informações e discutem questões relacionadas ao autismo. Além disso, a entidade promove reuniões presenciais mensais e eventos para fortalecer a rede de apoio e levar informações à comunidade.

A iniciativa busca ampliar o conhecimento sobre o autismo e oferecer suporte às famílias, contribuindo para a inclusão e a melhoria da qualidade de vida das pessoas com TEA em Montenegro.

Escola, família e profissionais especializados devem atuar em conjunto

O desenvolvimento de crianças e jovens autistas depende do funcionamento adequado da rede de apoio, que envolve família, escola e profissionais da área da saúde. O acompanhamento integrado é essencial para garantir que esses indivíduos tenham acesso aos recursos necessários para sua evolução, desde a infância até a vida adulta.

Foto: freepik

No ambiente escolar, um dos principais fatores para o desenvolvimento dos alunos autistas é a presença de monitores. Além de ser um direito garantido por lei, a monitoria auxilia no aprendizado e na adaptação da criança à rotina escolar. A comunicação entre escola e família também é um ponto fundamental.

Professores e monitores observam o comportamento dos alunos diariamente e podem identificar mudanças no desenvolvimento, sinalizando às famílias sobre possíveis dificuldades ou avanços.

A rede de apoio também inclui o acompanhamento terapêutico e médico. O acesso a profissionais especializados, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e neurologistas, é essencial para atender às necessidades específicas de cada criança. Em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser indicado para auxiliar no processo de adaptação e aprendizado.

O funcionamento da rede de apoio de forma integrada é essencial para garantir que crianças e jovens autistas tenham um desenvolvimento mais pleno. A troca de informações entre família, escola e profissionais permite que cada necessidade seja atendida de forma mais eficaz.

Déficit de monitores impacta inclusão de crianças autistas nas escolas

A falta de monitores especializados tem sido um dos principais desafios enfrentados por crianças autistas no ambiente escolar. Apesar do engajamento de muitos professores, a ausência desses profissionais compromete o desenvolvimento dos alunos e a dinâmica das salas de aula.

Conforme Joseane Medtler, também, uma mesma turma pode ter, em média, três a quatro crianças com necessidade de suporte especializado. Sem monitores adequados, o aprendizado de toda a turma pode ser afetado. Além disso, a rotatividade desses profissionais tem sido um obstáculo, pois muitos deixam os cargos ao se depararem com casos mais complexos. Isso gera um ciclo de contratações e desligamentos que prejudica a continuidade do acompanhamento dos alunos.

Além da contratação de monitores, a inclusão efetiva exige uma relação de troca entre escola e família. A busca por um entendimento mais amplo sobre o autismo dentro das instituições de ensino contribui para melhores práticas e estratégias de suporte. A presença de profissionais preparados é fundamental para garantir que o direito à educação inclusiva seja cumprido e que as crianças recebam o apoio necessário para seu desenvolvimento.

Joseane e João Maciel deram entrevista ao Estúdio Ibiá

Programação Abril Azul

05/04 – Pedágio solidário e panfletagem
Início às 14h na Praça Rui Barbosa
05/04 – Palestra (Desafios alimentares no TEA – Adriani Kunz Calsing)
Início às 14h30 no Auditório da Tanac
06/04 – Cinema inclusivo – Filme Branca de Neve
Início às 14h no Cine Mais Arte Montenegro
07/04 – Live (Birras e crises – Natali Meneguzzi)
Início às 18h30 no Instagram @serautista.montenegro
12/04 – Bate papo (Transtorno espectro autista – TEA)
Início às 14h na EMEI Maria Laurinda14/04 – Live (Desfralde consciente – Natali Meneguzzi)
Início às 18h30 no Instagram @serautista.montenegro
21/04 – Live (Como ter paciência – Jéssica Milk)
Início às 18h30 no Instagram @serautista.montenegro
28/04 – Live (Estimulação precoce – Jéssica Milk)
Início às 18h30 no Instagram @serautista.montenegro
28/04 – Roda de conversa (Manejos e comportamentos – Aline Mello, Fabiana Garcia e Julia Rigon)
Início às 19h30 no Auditório da Tanac

Montenegro terá programação durante o mês de Conscientização sobre o Autismo

O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 2 de abril, marca o início de uma série de atividades em Montenegro. A programação, organizada em parceria da Secretaria de Educação, Secretaria de Saúde e outras entidades, busca ampliar o debate sobre o tema e oferecer suporte às famílias.

Para garantir maior participação, as atividades foram distribuídas ao longo do mês. A programação inclui palestras, mobilizações e encontros em escolas. Na quarta-feira, dia 2, houve um painel na Câmara de Vereadores abordando o Autismo e a saúde mental. Neste sábado, 5, ocorrerá uma mobilização no centro da cidade pela manhã, enquanto à tarde será realizada uma palestra sobre cuidados com a alimentação no auditório da Tanac.

Além disso, todas as segundas-feiras de abril há encontros com profissionais especializados para esclarecer dúvidas das famílias. A agenda completa está disponível nos perfis da Associação Ser Autista. Os eventos são abertos ao público e visam ampliar a conscientização sobre o autismo, promovendo maior engajamento da comunidade.

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