Três municípios do Vale do Caí não têm casos de coronavírus, mas sentem o impacto da pandemia
Na pacata São José do Sul, a vida em meio à pandemia do novo coronavírus segue num misto de atenção e tranquilidade. Grande parte dos que caminham pelas ruas usam máscara, dentro dos estabelecimentos comerciais, então, o uso é de 100%. O álcool em gel para higienizar as mãos está sempre à vista e a necessidade de distanciamento também é bastante respeitada. Assim, a cidade segue seguindo sua rotina adaptada como um dos três municípios do Vale do Caí que não possui casos confirmados do novo coronavírus. As outras duas cidades são Linha Nova e Alto Feliz.
O prefeito de São José do Sul, Silvio Inácio de Souza Kremer, diz perceber que a comunidade do Município está consciente e tomando os cuidados necessários, bem como atendendo as solicitações do Poder Público que visam minimizar o risco de contaminação. “Poderíamos comemorar (não ter casos), mas isso não é motivo. Estou muito preocupado com a situação que envolve o Brasil e o mundo”, comenta. “Nossa expectativa é de que a curva comece a declinar, que passe toda essa situação”, reforça.
A secretária municipal de Saúde, Saneamento e Assistência Social, Silvani Maria Kremer, destaca que não é porque o Município não tem casos de pacientes com Covid-19 que deixará de haver prevenção. “Se ocorrer (de casos serem confirmados), a Administração Municipal está preparada”, assegura. Ela salienta que redes sociais estão sendo usadas para divulgar orientações. “Estamos fazendo um trabalho de prevenção. Por exemplo, idosos estão tendo atendimento em saúde em casa”, conta Silvani.
Inclusive, pessoas que apresentarem sintomas gripais são orientadas a ligarem para o Centro de Saúde e relatar sua situação de saúde. Caso necessário, há o deslocamento de uma equipe para a residência e, até mesmo, a indicação de a pessoa ficar em isolamento por 14 dias. Para esses casos são disponibilizados os números de telefone 3614-8129, 3614-8073 ou 9 9976-0724.
Até esta quinta-feira, dia 18, haviam sido aplicados quatro testes em pacientes. Todos deram negativo. Três foram realizados por meio do teste RT-PCR, de laboratório, e um foi feito através de testagem rápida. Há, ainda, um possível caso em análise. O resultado deste exame deverá ser divulgado na próxima semana.
Comerciantes se adaptam para poder seguir atendendo
As mudanças de hábitos impostas pela pandemia vão além do uso da máscara e da higienização constante das mãos, seja com álcool em gel ou água e sabão. Elas influenciam também a forma de se fazer as compras. Ao menos é o que percebe o gerente do supermercado da cooperativa Ouro do Sul em São José do Sul, Gabriel Rodrigo Haupt, 30 anos. “Percebi que os clientes estão fazendo comprar uma vez por semana, quando antes era uma vez por dia”, comenta.
Aderindo às regras, o uso de máscara no estabelecimento é obrigatório. Também há um dispenser com álcool em gel na porta de entrada. Há, ainda, informativos sobre a pandemia no mural do supermercado. Segundo Gabriel, as informações ali contidas são úteis para clientes mais idosos que não têm acesso à internet ou que se informam pela TV ficarem por dentro da realidade local.
O gerente conta que outros cuidados também são tomados, como a medição da temperatura dos funcionários. Gabriel comenta, ainda, outra mudança: a forma como é feito o contato com os vendedores das distribuidoras e empresas que atendem o supermercado. “Os pedidos são feitos pelo WhatsApp, na sua maioria”, relata.
No ramo alimentício também são observadas mudanças no comportamento nos clientes e adaptações foram necessárias. O proprietário do restaurante Paladares, Flávio Souza, 54 anos, conta que nas primeiras semanas da pandemia seu movimento caiu em 80%. “Agora está em 60%. Aumentaram os pedidos de tele-entrega e tele-busca”, relata. Para garantir o distanciamento no estabelecimento, apenas metade das mesas são disponibilizadas. “Aumentamos, também, os cuidados de limpeza”, reforça.
Essas restrições acabaram impactando no gerenciamento do restaurante e Flávio teve que reduzir a jornada de trabalho de um colaborador e demitir outro. O grande temor do empresário é que haja uma maior restrição ao serviço caso casos sejam confirmados no Município. No entanto, isso também pode ocorrer se a cor da bandeira da Região Covid-19 na qual São José do Sul está inserida mudar.
Na margem da BR-470, pouca mudança percebida
Com uma tenda de frutas, verduras e produtos coloniais nas margens da BR-470, o comerciante Marcelo Ernzer, 44 anos, também teve que se adaptar às exigências impostas pela pandemia. Ele faz uso de álcool em gel e também mantém distância dos clientes. No entanto, há algo com o qual ele não se adaptou: o uso da máscara. Isso porque, segundo ele, usar o equipamento de proteção individual faz com que seus óculos fiquem completamente embaçados, prejudicando sua visão.
Fora isso, foram poucas as mudanças que Marcelo observou na rotina às margens da rodovia. “Não reduziu o movimento (na tenda), até porque vendo alimentos e é um lugar ao ar livre”, pondera. Segundo ele, é comum moradores de cidades próximas irem até seu comércio. “Aumentou a procura por frutas, principalmente abacate, abacaxi, laranja e bergamota. E a venda de alho”, conta.
Segundo o comerciante, o trânsito na rodovia também foi pouco impactado pela pandemia. “Logo que iniciou, com o bloqueio ‘total’, caiu em 70% (o tráfego), agora está normal”, afirma.
Na cidade ou no interior, moradores buscam manter cuidados
Moradora do Centro de São José do Sul, Irena Vila Fell, 79 anos, é diabética e faz parte do grupo de risco da Covid-19. Por isso, ela está atenta aos cuidados necessários para evitar uma possível exposição do vírus. Assim, ela não está recebendo visitas e só sai de casa quando precisa – e usando máscara, claro. As compras no mercado estão sendo feitas uma vez por mês.
Há três meses nessa rotina mais isolada, a aposentada diz ter se acostumado e que busca se ocupar cuidando de uma horta que possui. Ela salienta, ainda, a necessidade de todos tomarem as medidas de prevenção. “Se não, não termina (a pandemia)”, diz. Irena critica também aquelas pessoas que estão saindo sem necessidade e, até mesmo, fazendo festas.
Já no interior, em Morro do Cedro, o aposentado – mas “não parado”, como ele mesmo diz – Paulo Viegas, 65 anos, também mudou a sua rotina, principalmente, quando precisa sair de casa. “Quando saímos temos que tomar as devidas precauções”, assegura. Buscando sair o mínimo possível e só fazer o necessário no Centro da cidade, ele comenta que o maior impacto foi na rotina da sua esposa e da sua mãe, que fazem suas aulas de hidroginástica desde março por conta da pandemia.
“É mais fácil fazer entender que um tem que cuidar do outro”
Com pouco mais de três mil habitantes segundo estimativa do IBGE e localizado no limite do Vale do Caí com a Serra Gaúcha, Alto Feliz é outro Município da região que não registra casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Lá, segundo boletim divulgado pela Prefeitura na quarta-feira, dia 17, 28 casos suspeitos já tinham sido descartados e um estava em análise. Além disso, havia duas pessoas com síndrome gripal em isolamento domiciliar.
Apesar de não registrar nenhum caso, a cidade está inserida numa Região Covid-19 de bandeira vermelha no sistema de Distanciamento Controlado do Governo do Estado, o que implica em, por exemplo, regras mais restritas ao funcionamento do comércio. de acordo com o secretário municipal de Saúde, Tito Antônio Frozi, isso se dá por o Município ter sido colocado na macrorregião Serra por ter divisa com Farroupilha e também ser próximo de Caxias do Sul.
No entanto, o gestor diz que a comunidade está consciente da necessidade de prevenção para conter o avanço do novo coronavírus. “A Vigilância em Saúde está sempre orientando e o pessoal aceita bem as instruções”, garante. Além disso, Tito aponta que as próprias características do Município ajudam nesse combate. “Temos 79 quilômetros quadrados de área, então os munícipes já vivem com seu distanciamento”, comenta.
Para Tito, trabalhar a prevenção em Municípios pequenos torna mais fácil a comunicação. “A gente sabe onde tem que ir, onde tem que chegar”, diz. Ele cita que a população acaba avisando o Executivo em casos de aglomeração. Há um senso de comunidade. “É mais fácil fazer entender que um tem que cuidar do outro”, resume.
Linha Nova tem 11 testes negativos
O boletim mais atual sobre a situação do coronavírus em Linha Nova foi publicada no quarta-feira, dia 17. Nele, é detalhado que a cidade possui 11 casos suspeitos, sendo que todos eles tiveram o resultado do exame negativado. A análise de 10 casos foi feita por meio de teste rápido e um foi feito através do teste de RT-PCR, o de laboratório. Além disso, conforme os dados divulgados pela secretaria municipal de Saúde e Assistência Social, há atualmente duas pessoas em isolamento domiciliar por apresentarem sintomas gripais.
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