Orgânicos. Ideia principal dos associados é não deixar ociosa a planta de sucos e óleos essenciais da cooperativa
A Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) está em busca de novos cooperados para ampliar a sua produção e, consequentemente, a renda dos associados. Com os investimentos realizados na fábrica de sucos e óleos essenciais, a associação atende a demanda dos seus participantes, mas pretende aumentar o volume de negócios e combater a ociosidade da planta processadora. Com isso, a entidade fomenta o ingresso de famílias que trabalham ou tenham o interesse de trabalhar com a agricultura orgânica.
Conforme o vice-presidente da Ecocitrus, Ernesto Carlos Kasper, o requisito principal para se tornar associado é de que na cooperativa de produtores orgânicos não se permite o uso de produtos que prejudicam o meio ambiente, além de atender ao regramento estatuário e regime interno da entidade. “Ainda temos dificuldades em relação à sensibilização de agricultores para produção orgânica, pois se criou na sociedade um paradigma de baixa produtividade e pouca qualidade”, lamenta. Ele alerta que isso não é verdade.
O procedimento para um produtor transformar sua propriedade em orgânica certificada leva até 18 meses. Já para a certificação internacional o período aumenta para três anos. É exigido ainda que o agricultor siga diversas regras, como possuir um plano de manejo, manter um caderno de campo e não utilizar insumos que não constem na Instrução Normativa 46/2011. Outro procedimento exigido é o de se utilizar sementes e mudas que tenham origem na produção orgânica. O cultivo convencional paralelo é permitido desde que não seja a mesma espécie.
Kasper salienta que existe uma demanda crescente de mercado por qualidade na alimentação, o que abre chances para a Ecocitrus crescer mais. “Na maioria dos novos associados existe o desejo de ter uma boa remuneração, porém eles já conseguem perceber que o maior ganho está na saúde”, reforça. O vice-presidente aponta ainda que o cooperado possui uma série de vantagens, como garantia de compra do seu produto, fornecimento de composto orgânico, ter o preço da fruta definido em assembleia e assessoria técnica.
Conforme Kasper, a Ecocitrus fomenta parcerias com agricultores em várias regiões do RS, buscando atender a demanda da indústria com frutas de produção mais tardia ou precoce, evitando a concentração de processamento. Neste movimento, a cooperativa tem como parceira a Emater-RS/Ascar e também alguns municípios, que se engajam com políticas públicas que ajudem no transporte de insumos ou compra de mudas, por exemplo.
A entidade salienta que agricultores vinculados a uma cooperativa ou associação tendem a aumentar a arrecadação de impostos do município através da organização. Isso por que tudo circula com emissão de nota fiscal.
Produtores buscam se adaptar ao método orgânico para ingressar na cooperativa
O principal destaque da Ecocitrus é a utilização de frutos orgânicos. Portanto, é necessário que os associados sigam esse método em suas produções. Porém, isso demanda tempo. A adaptação de uma produção convencional para a orgânica demora 36 meses, ou seja, três anos. E é por esse período que passa a propriedade de Simone Kranz Escher, 41 anos, em Alfama.
Com uma família que há anos trabalha na citricultura, a agricultora optou por seguir uma produção orgânica por ter uma preocupação com o meio ambiente e o bem-estar das pessoas que irão consumir suas frutas. “A principal vantagem é a saúde. Não se lida com veneno”, afirma. Inclusive, ela busca passar esses valores para dois de seus filhos, que a auxiliam a cuidar da plantação.
Simone salienta ainda as vantagens de ser uma associada da Ecocitrus — como ganhar os insumos para seu cultivo. “Sendo independente, tu tem que comprar. Se associando, tu só tem a ganhar”, pondera. A citricultora observa ainda que durante o período de adaptação ela pode seguir comercializando suas frutas, mas ainda sem a certificação de produto orgânico.
Parceria também com outras associações
Para ampliar o seu leque de cooperados, a Ecocitrus também busca parceria com associações. Um exemplo disso é a união com a Associação de Produtores Ecologistas Companheiros da Natureza, que tem membros em Pareci Novo, Montenegro, Brochier e Maratá. De acordo com o produtor Antônio José Bays, 51 anos, a ideia é de que os associados da Companheiros da Natureza forneçam à Ecocitrus a bergamota verde para óleo essencial, mas continuem vendendo frutos maduros em feiras na Região Metropolitana. “Se houver excedente da fruta madura, a Ecocitrus também pode absorver”, observa Bays.
Trabalhando com uma produção orgânica há mais de 20 anos em sua propriedade em Pareci Novo, Bays vê a parceria como uma oportunidade de agregar valor a um produto que ele já produz. “A Ecocitrus tem o mercado, e nós, o produto. É uma questão comercial”, resume. O produtor explica que os Companheiros da Natureza têm apenas certificação de produtor orgânico nacional, então a associação com a Ecocitrus é necessária porque a cooperativa tem certificadora internacional. Conforme Bays, quatro de 10 famílias participantes da Companheiros da Natureza estão aderindo à parceria com a Ecocitrus.
Como já trabalha com a produção orgânica, Bays não precisará adaptar a sua propriedade. O agricultor conta que optou por esse método pensando na qualidade de vida que traz para o produtor e para o consumidor. “É um produto de qualidade e sem produtos nocivos”, destaca. Segundo ele, sua maior preocupação é com a saúde de quem produz e de quem consome o fruto.