Escola celebrará aniversário com festa neste domingo, dia 16
Uma escola integrada com a comunidade e por ela abraçada. Assim pode ser resumida a história da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) São José do Maratá, que teve seu decreto de criação publicado no Diário Oficial do Estado em 15 de junho de 1959. No entanto, a história da instituição que está completando oficialmente 60 anos remete há tempos mais antigos. Antes de ser decretado Escola Rural Reunida de São José do Maratá, o educandário era organizado como uma escola paroquial sustentada pela comunidade e que ficava próximo da igreja local.
A construção do que viria a ser a EEEM São José do Maratá, localizada no quilômetro 280 da BR-470, em São José do Sul, iniciou em 1958. Em 5 de agosto de 1959, com professores contratados pelo Estado, tiveram início as atividades no novo prédio. Naquele ano, as aulas iniciaram ainda na Casa Paroquial, com docentes cedidos por Montenegro, cidade a qual São José do Sul pertencia na época. A escola possuía então 48 alunos de 1ª e 5ª série. Na década de 1970, em decorrência de problemas estruturais, o educandário foi demolido e um novo prédio foi construído no local com auxílio da comunidade e aporte da Prefeitura de Montenegro. Enquanto as obras eram executadas, os alunos foram alocados no Salão Kirst.
Antes disso, em 13 de agosto de 1969, a instituição foi classificada como Escola Rural de São José do Maratá. Em 5 de dezembro de 1979, reorganizou-se a natureza do educandário de Escola Rural para Escola Estadual de 1º Grau Incompleto. Outra alteração ocorreu em 1º de outubro de 1985, com a publicação de decreto que permitiu a oferta da 6ª série na escola. Em 7 de agosto de 1987, por meio de portaria, a secretaria de Educação do Estado autorizou o funcionamento da 7ª e da 8ª série na escola, que passou a ser designada como Escola Estadual de 1º Grau São José do Maratá. Em 15 de março de 2007, foi concedido parecer favorável para implantação do Ensino Médio no educandário, com a primeira turma deste nível iniciando em 2008.
Hoje, a escola atende 140 alunos entre Ensino Fundamental e Ensino Médio, além de disponibilizar aos estudantes oficinas de música e teatro. O quadro funcional é formado pela equipe diretiva, 15 professores e cinco funcionárias. O educandário possui ainda uma quadra de esporte, laboratório de ciências, biblioteca, sala digital e sala de recursos multifuncional.
Eleito diretor da escola para um segundo mandato no ano passado, o professor de História e Sociologia Júlio Ricardo Hoerlle destaca que a EEEM São José do Maratá é uma das poucas escolas do campo com Ensino Médio. “A importância dela é manter esse elo da comunidade de São José do Maratá como a representação de educar os filhos da comunidade, sendo uma referência”, comenta. O gestor escola ressalta a importância da comunidade para o desenvolvimento e crescimento da escola.
Ao longo dos anos, através de cafés coloniais, galinhadas, rifas e outras campanhas beneficentes, foi possível a arrecadação de dinheiro para o investimento de melhorias na estrutura do educandário. Segundo Júlio, a cobertura da quadra poliesportiva e a construção do prédio aos fundos da escola são exemplos de obras possibilitadas pelo esforço da comunidade.
“Foi tudo com suor e trabalho das pessoas da comunidade, por isso elas têm esse vínculo grande com a escola, esse sentimento de pertencimento”, afirma.
Domingo de festa para celebrar a história
Para celebrar os 60 anos de existência da EEEM São José do Maratá, um almoço será realizado neste domingo, dia 16, para a comunidade escolar, ex-alunos e ex-professores. A festa será realizada na Sociedade Santa Cecília, localizada perto do colégio, a partir das 11h30min. Haverá venda de cartões de almoço na hora.
Entre as atrações da festa estão um curta sobre a história da escola, recepção da banda escolar, apresentações artísticas com canto coral e danças folclóricas, sorteio de brindes e anúncio da Garotinha e do Garotinho Estudantil. Haverá animação com o grupo Ômega 3. De acordo com o diretor da escola, a ideia é promover um encontro da comunidade escolar e história da EEEM São José do Maratá.
Escola recebe gerações de famílias da comunidade
A EEEM São José do Maratá é intimamente ligada com a história de diversas famílias da comunidade. Não são raros os casos de famílias onde pais, filhos e netos estudaram na escola. É caso de Alice Terezinha Endres, 67 anos, e seus descendentes. Ela fez parte das primeiras turmas que estudaram no colégio e, com muito orgulho, já viu um neto se formar no 3º ano do Ensino Médio e aguarda por celebrar a formatura de outro ao final deste ano. Além disso, seus dois filhos, Leandro e Aline, estudaram na escola do campo. “Era uma maravilha. Naquela época, de manhã cedinho, eles pegavam e iam a ‘pezinho’ (para a aula)”, recorda.
Alice guarda com carinho as memórias de como foi entrar na nova escola, em 1959. “Foi maravilhoso. Foi uma festa. A gente acompanhou a construção. Primeiro foram duas salinhas e depois foi aumentando”, conta. A ex-aluna lembra que seu primeiro professor foi Helmuth Lutckmeier, que viria a ser também o primeiro diretor da escola.
Nesses muitos anos como membro da comunidade escolar, Alice observou a escola evoluir muito. Primeiro, com o aumento do número de alunos, que começaram a vir de outras localidades, e depois através do envolvimento da comunidade para garantir melhorias no educandário. Ela cita como exemplo o café colonial que era realizado no Salão Kirst e tinha seu lucro revertido para a escola. “Claro que o governo ajuda, mas se a comunidade não se envolve ‘a coisa não vai’”, comenta.
Para a ex-aluna é justamente a participação da comunidade para o bem da escola o diferencial da EEEM São José do Maratá. “A nossa escola sempre pode contar com o povo”, assegura. Alice salienta ainda a dedicação do quadro de profissionais do colégio. “Os professores se comprometem com as crianças. Eles fazem um esforço enorme, eles gostam daqui assim como as crianças gostam deles”, afirma.
Alice também recorda com carinho das amizades feitas e diz estar ansiosa pela comemoração que será realizada domingo, dia 16. “Ah, meus colegas! A gente tem muita saudade”, garante. Ela observa que, infelizmente, alguns deles já faleceram, no entanto as boas memórias da época da escola, as amizades e o coleguismo se mantêm. “Com essa programação toda que está sendo feita para a festa, a comemoração, a gente relembra tudo e sente muita saudade”, reforça.
Vivências escolares no passado e também no presente
Fernanda Kirst, 44 anos, atua há 26 como professora na EEEM São José do Maratá. O ano em que entrou no quadro de funcionários da instituição também foi o ano que sua mãe, Nair Kirst, se aposentou após anos dedicados à escola da comunidade. Enquanto que Nair trabalhava com primeiras e segundas séries, Fernanda atende alunos do 1º ao 5º ano. Mais do que atuar na instituição, Fernanda também foi aluna da EEEM São José do Maratá, estando numa das primeiras turmas de 8ª série a serem formadas no educandário.
“A escola é muito importante. Os pais são todos engajados, participativos. Todo mundo participa”, garante Fernanda. Inclusive, ela vem de uma família que muito ajudou no desenvolvimento do colégio. Em tempos mais antigos, o salão de bailes Kirst já serviu de sala de aula para ou alunos e recebeu, sem custos, edições do café colonial promovido pela escola. Sobre a chance de trabalha na escola onde estudou, Fernanda diz que gosta muito da instituição e que vê outros servidores retornando. “Eu tenho colegas que foram meus alunos também aqui na escola. O pessoal acaba retornando porque gosta muito da escola”, afirma.
A servidora Dábila Aline Koch, 26 anos, exemplifica a afirmação de Fernanda. Ela estudou da 5ª série do Ensino Fundamental até se formar no Ensino Médio da EEEM São José do Maratá e há dois anos passou a integrar o quadro de funcionários da escola. Para ela, estar de volta é algo especial. “A escola me apoiou em muitos momentos da minha vida”, revela. Dábila conta ainda que seu pai, tios e irmã também estudaram no colégio.
Para Dábila, trabalhar no local onde estudou lhe proporciona um ótimo ambiente por já conhecer o funcionamento da escola e muitos dos professores. A servidora observa ainda que a estrutura do educandário apresentou um avanço significativo se comparada com o período no qual estudava lá.
Lutas e desejos de avanços estão no horizonte
Para manter seu histórico de crescimento, a EEEM São José do Maratá tem pela frente a luta por manter o atendimento aos alunos do Ensino Fundamental. Conforme o diretor Júlio Ricardo Hoerlle, desde a gestão de José Ivo Sartori, o Estado tem o desejo de passar ao Município os alunos que são atendidos no Ensino Fundamental. A entrada de um novo governador não mudou o panorama e a comunidade escolar mostra-se aflita com o que pode ocorrer.
Conforme a Constituição Brasileira, é de competência do Estado a oferta de Ensino Médio à população. Aos Municípios cabe atender o Ensino Fundamental e a Educação Infantil. Já a União é a responsável pelo Ensino Superior. Mesmo ciente disso, Júlio entende que isso não se aplica ao fato de a EEEM São José do Maratá atender turmas do Ensino Fundamental e também do Ensino Médio. “Nós temos a convicção que somos uma escola do campo, então tem a lei que assegura a permanência da escola. Que só mude o seu sistema se a comunidade aceitar”, afirma.
“A gente procura se mobilizar como escola do campo para permanecer com esses alunos. A essência da escola é que ela foi criada para atender os filhos da comunidade”, destaca Júlio. O diretor ressalta ainda o grande vínculo entre comunidade e a escola e destaca que a gestão escolar está atenta a esse desafio. Outro desafio, para o gestor escolar, será a mudança na metodologia da escola em razão do Novo Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “No futuro vamos ter que direcionar o planejamento vinculado a questão da pesquisa e de o estudante ser o protagonista. Vai ser um processo lento”, projeta.
Além das lutas pela frente, também há projetos que a direção da escola quer tirar do papel. Para a quadra poliesportiva, por exemplo, já está feito um projeto de iluminação para o qual foi pedido apoio do Sicredi para se concretizar. Outras obras previstas para o local são o fechamento do ginásio e a construção de banheiros e churrasqueiras no local. “A ideia é com o lucro da festa (de aniversário) começar a aplicar para terminar as obras”, comenta Júlio.
Paralisado em razão da falta de verbas do Estado, o projeto de ampliação da escola com a construção de duas novas salas e banheiros também estão no radar da equipe gestora. O diretor revela, ainda, o desejo de passar a oferecer cursos técnicos na escola com aulas à noite. Porém, esse é um sonho bastante distante. “Isso depende da demanda, tem que fazer uma pesquisa para ver a demanda da região”, explica.