O final da tarde de domingo, dia 1º, foi de jardim lotado para a sessão do Cinema de Rua, terceira etapa do Projeto Angular que revive a história do Seminário Jesuíta São José. Ao lado da imponente estrutura com mais de 123 anos, moradores do Vale do Caí recordaram e aprenderam a respeito daquele espaço, e do trabalho dos religiosos que serviu de alicerce ao desenvolvimento.
O documentário “Seminário São José – Berço de Humanidades”, produção do parecienses Eduarda Nedel (diretora) e Igor Rosa (produtor) – através da Lei Paulo Gustavo – confirmou sua importância de registro definitivo da história, documentando depoimentos inéditos de historiadores, intelectuais, religiosos e cidadãos que estudaram no que popularmente era chamada de “escola de padres”.
O legado audiovisual faz referência ao surgimento da Fazenda Teixeira – berço da comunidade que viria a se transformar em Pareci Novo – no Século XIX; também o contexto político e econômico da época, atrelado a chegada dos alemães em 1824. Fato curioso foi que o período de Seminário foi muito pequeno, e, tecnicamente, ali era de fato um Noviciário Jesuíta.
Os depoimentos revelaram a organização e rigor dos padres jesuítas, que impunham silêncio e isolamento do mundo externo, quebrado por uma leitura semanal de notícias, escolhidas e realizadas por um dos mentores. Algumas histórias são bem humoradas, especialmente sobre as peripécias dos jovens para driblar essa severidade, como foi para ouvir um jogo de futebol da seleção brasileira em uma Copa.
Município começou naquele espaço
O público reagia que um misto de surpresa, alegria e nostalgia. Os depoimentos de cidadãos contemporâneos e de ex-alunos reforçam a intelectualidade daqueles padres, que apresentaram os filhos de agricultores à Botânica, criando as primeiras teorias para cultivo de citros, flores e mudas de plantas ornamentais.
Os próprios tinham uma produção de subsistência que permitira venderem hortigranjeiros, gerando comércio e empregos, o que permite assinalar décadas de muito desenvolvimento aquela comunidade, então distrito de Montenegro. Algumas das primeiras floriculturas em Pareci Novo foram fundadas por ex-noviços.
De suas salas saíram nomes proeminentes da ciência, como do padre Balduíno Rambo, botânico reconhecido mundialmente pelo seu trabalho de mapeamento do Rio Grande do Sul, que inclusive alertou sobre as características hidrológicas que poderiam levar a grandes enchentes.
O passar do tempo trouxe mudanças soiciais, com novas opções de formação aos jovens e descentralização das escolas pela igreja, levando a sua extinção. Na década de 90 foi adquirido pelo empreendedor local Delmar Fell, que alugou espaços comerciais, inclusive para banco e a primeira sede do restaurante Mato Verde, além de ceder salas à Administração da recém emancipada Pareci. O Município adquiriu em 2006 e em 2023 iniciou o processo de restauração.
