COM SAÚDE. Citros sem venenos fazem bem em todas as direções
No mês que lembramos a importância de uma preservação ambiental de fato, o trabalho da Associação de Produtores Ecologistas Companheiros da Natureza é exemplo de eficiência. Uma característica que pode ser medida pela qualidade dos alimentos, em especial citros; a capacidade de comercialização, em sete feiras especializadas; e o mais importante, a utilização do Meio Ambiente preservado como elemento produtivo.
O atual presidente, Antônio José Bays, 57 anos, explica que a organização foi fundada em 1998, como alternativa à agricultura com agrotóxicos e adubos químicos. Nela estão reunidas sete famílias, não apenas da cidade-sede Pareci Novo, mas também de Montenegro, Brochier e Harmonia. “A união destas famílias é importante para a troca de experiências, além da comercialização em conjunto”, confirma.
A Companheiros está em alguns dos principais comércios ao ar livre (não vende em mercados), sendo seis na Capital Porto Alegre e uma em Canoas. Sua expertise é avalizada pelos selos de Produto Orgânico do Ministério da Agricultura e da Secretaria de Agricultura do Estado. Com essas qualificações, a tendência é desenvolver, sendo o projeto atual a constituição de uma agroindústria para venda de Moranga Aipim. Bays explica que serão alimentos minimamente processados, ou seja, passando apenas pelo ciclo plantio, colheita, descasque e embalagem. Ele não descarta futuramente comercializarem também o suco de citros que é sucesso no Pavilhão da Agricultura Familiar da Expointer.
Grupos como a Companheiros também dedicam seus dias a disseminar o conhecimento a cerca da preservação, sendo que ultimamente uma de suas perturbações é em relação ao uso indiscriminado de agrotóxico no Brasil. O citricultor observa que estes matam um inseto ruim, mas também aquele benéfico; como o caso as abelhas, responsáveis pela polinização. “Você está matando os dois, então quanto mais uso de veneno, mais você está prejudicando a biodiversidade do pomar, e isso acaba prejudicando mais”, declara.
Percepção do problema na pele
O ingresso de Bays no sistema de produção ecológica foi impulsionado por um choque de realidade. “Comprei um trator e um pulverizador, achando que eu estava me realizando. Mas no primeiro ano já vi que não era o caminho, porque eu andava como um astronauta para me proteger”, descreve. Conversando com agricultores que haviam abandonado a agricultura convencional e com consultoria da Emater, adotou o método de produção em conjunto com o Meio Ambiente. O resultado foi produto de qualidade e garantia de valor agregado.
“É ecologicamente correto, porque a gente não degrada o solo; usamos bastante matéria orgânica e adubação verde, sem nenhum uso de aditivo químico”. Outro diferencial é o manejo da terra, com preservação da cobertura natural (capim), o que garante formação de matéria orgânica e retenção de água. “O que se deixa de uma roçada virá cobertura morta e se transformar em matéria orgânica, e assim sucessivamente”, explica. Inclusive, quando não há vegetação nativa, como no inverno, a adubação verde é semeada.
Este sistema é ‘qualidade de vida’
Existem muitas vantagens aos agricultores ecológicos ou orgânicos no que tange o empreendimento, que atende um exigente e crescente nicho de mercado. Mas o presidente da Companheiros da Natureza salienta que a grande vantagem é para quem come essa fruta. Primeiro pela ausência do já citado insumo químico. “Tive essa experiência com o morango que produzo. O cliente me disse que a filha não conseguia comer morango, por isso ou por aquilo; mas começou a consumir o morango orgânico e não teve mais problemas”, comenta.
Bays resume esta história com a expressão “qualidade de vida”; aspecto que também beneficia o produtor que não trabalha exposto a venenos, tampouco está intoxicando o solo do qual depende. Em relação a produtividade destes pomares, confirma que, fazendo um bom manejo, não há diferença produtiva para um convencional. Uma excelência alcançada também pelo uso de insumos certificados, somada ao manejo.
A cadeia perfeita da natureza
Em meio à maior catástrofe climática na história do Rio Grande do Sul, Bays avalia a influência de métodos agrícolas agressivos ao planeta. Ele observa as ocorrências de deslizamentos, vistos onde a vegetação foi suplantada; ainda que não possa ser ignorada a quantidade absurda de chuva em maio. “Então, é muito do volume da chuva. Mas o que acontece hoje, a gente vê o rio buscando a área que era dele. Você vê muitos lugares aqui (na região) que eram banhados antigamente e hoje é cidade”, observa.
O citricultor também assinala à correlação entre os ecossistemas, apontando que a formação das chuvas que caem na Região Sul acontece ao Norte do Brasil, justamente onde há grande desmatamento. A contradição surge ao se perceber que ainda há locais ao sul com muito verde, como no Vale do Caí, inclusive talvez mais do que há alguns anos. Mas na Floresta Amazônica as áreas derrubadas são muito grandes, o que afeta as demais regiões do país.