LUZ & FORÇA. Ainda era vila de Montenegro, mas comunidade já tinha enérgia elétrica
Maratá ainda era vila de Montenegro, mas já se mostrava diferenciada devido ao empreendedorismo dos cidadãos. Na década de 1930, aquela comunidade rural foi uma das poucas a ter energia elétrica, algo que até mesmo algumas áreas urbanas ainda não tinham. A luz era gerada a partir de uma pequena usina hidrelétrica privada, instalada na cascata “Victória”. Com poucos registros históricos, hoje o fato se tornou um pouco folclórico, e traz curiosidade – e lendas – para quem visita o Parque Cascata Vitória.
A empresa Luz & Força Maratá Ltda foi fundada pelos empresários Albino Ko Freitag, Afonso Dhamer e José Emílio Gallas. A guia turística da Secretaria de Turismo, Liani Teresinha Fritzen, salienta a vocação empreendedora dos sócios, sobretudo da família Ko-Freitag, que foi referência regional no negócio de funilaria e dá nome à avenida central. Eram abastecidas casas e comércios em Maratá e Brochier, de famílias com poder aquisitivo para pagar a taxa mensal. O serviço incluia a rede elétrica.
Mas muito desta história se perdeu, havendo apenas duas fotografias da usina que são catalogadas. O relato oral é um dos últimos arquivos, como do filho de José, o senhor Rudi João Gallas. Hoje com 70 anos, o comerciante tem apenas as lembranças de infância, ainda que guarde alguns documentos da Luz e Força, mas tem poucas informações de ordem técnica. Ela ressalta que seu pai era exímio mecânico, com conhecimentos matemáticos de um engenheiro; o que lhe colocou com o responsável pela operação diária da usina. “Lembro que a gente levava café e almoço lá para ele”, diz.
Rudi Gallas é um arquivo desta história
Segundo o arquivo da cidade, a usina foi fundada em 1928; mas há divergências quanto ao tempo de operação. Com base em sua data de nascimento em 1955, e em documentos datados das décadas de 50 e 60 que guarda em casa, Gallas aposta em cerca de 30 anos. “Pra mim, ela funcionou até 1964”. Entre suas lembranças, é bem clara a de acompanhar o pai nas cobranças de casa em casa. Inclusive, possui páginas de um livro-caixa com 85 nomes, o que permite projetar cerca de 200 clientes nas duas cidades.
Sobre o maquinário, acredita que veio da Alemanha, mas não faz ideia qual o destino após a extinção da usina. Gallas explica que a turbina não era movida pela queda d’água de 30 metros. O mecanismo usava o efeito da gravidade, com um grande cano descendo pelo lado esquerdo com água acumulada na represa que hoje ainda está no topo da Cascata Vitória. Sobre a lenda das peças submersas, a única hipótese é a estrutura da tubulação ter caído no poço de 11 metros, pois não havia máquinas dentro do lago.
Outra recordação nítida é a excelência da rede; ao menos em seu inicio. Ter luz elétrica era um privilégio que empolgou os moradores a comprarem eletrodomésticos, em especial geladeira. Uma postura compreensível, mas que gradualmente reduziu a tensão. Chegou a haver racionamento nos períodos de estiagem, com a usina sendo desligada à noite.
As recordações são do pai
Fica claro que as recordações de Rudi João Gallas, na verdade, são a respeito do pai. Lembra dele pegando peixes com rede na entrada da turbina; lembra também de seu trabalho duro, de encontrá-lo com os cabelos colados na cabeça, umedecidos pela neblina da cascata e confinado na casinha onde ficava a gerador.
Após o fechamento da usina, a propriedade foi adquirida por montenegrinos e transformada em espaço de lazer privado. Rudi Gallas afirma que precisou assinar este documento de venda. Foi comprado pelo Município de Maratá em meados 1995, no governo Miguel José Haupenthal, após processo judicial de desapropriação, e transformado em parque com administração privada.
