Cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos – 17% do total disponível aos consumidores em 2019 – foram para o lixo de residências, do comércio varejista, de restaurantes e de outros serviços alimentares, segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU). O montante equivale a 23 milhões de caminhões de 40 toneladas carregados, o que, segundo a entidade, seria suficiente para circundar a Terra sete vezes.
O Índice de Desperdício de Alimentos 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e da organização parceira WRAP, do Reino Unido, divulgado semana passada, analisa sobras alimentares em pontos de venda, restaurantes e residências – considerando partes comestíveis e não comestíveis.

Foram observadas, ao todo, 152 unidades em 54 países. As perdas de alimentos foram substanciais em quase todas as nações onde o desperdício foi medido, independentemente do nível de renda. A maior parte desse desperdício, segundo o relatório, tem origem em residências – 11% do total de alimentos disponíveis para consumo são descartados nos lares. Já os serviços alimentares e os estabelecimentos de varejo desperdiçam 5% e 2%, respectivamente.
Já pensou em como desperdiçamos alimentos, muitas vezes sem necessidade? Denise Garateguy, nutricionista montenegrina e mestre em Saúde e Desenvolvimento Humano, lembra que segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam comida no mundo. “Existem indícios de que temos um dos lixos mais nutritivos. Algumas pesquisas já revelam que talos, folhas, sementes e cascas de vários alimentos são muito mais nutritivos do que sua própria polpa”, salienta. Portanto, já pensou em conhecer e aproveitar partes dos vegetais que normalmente são jogados fora, como talos, folhas, cascas e sementes em preparações que podem ser altamente nutritivas e gostosas?
Como utilizar partes dos alimentos que geralmente são descartadas?
Talos
Denise afirma que os talos são cheios de fibras, vitaminas e minerais. Podem ser picados ou triturados e, depois, inseridos em massas de bolos, panquecas, omeletes, pães e sopas. Ela sugere o aproveitamento de talos de brócolis e espinafre. Podem ser usados em quiches, pães e bolos.
Sementes
Segundo a nutricionista, podem ser ricas em vitaminas e minerais, além de fibras e gorduras boas, como é o caso das sementes de abóbora. “Elas podem ser consumidas em saladas ou como snacks, por exemplo”.
Folhas
Denise explica que, em geral, são ricas em carotenoides, substâncias que dentro do corpo são convertidas em vitamina A, que apura a visão e reduz a formação de placas nas artérias. “Se tiver a oportunidade, compre as cenouras e beterrabas com as folhas e incremente saladas com elas”, sugere. Já as folhas de abóbora, batata doce, couve flor e rabanete podem ser refogadas com alho e azeite.
Cascas
São campeãs em fibras, que estimulam o bom funcionamento do intestino. “Além disso, algumas cascas apresentam altas doses de polifenóis, compostos que previnem o envelhecimento celular”, acrescenta Denise. As cascas da cenoura, do abacaxi e da laranja merecem destaque, já que oferecem potássio, cálcio, fósforo e vitamina C. As cascas se prestam muito bem para receitas de bolo, por exemplo. “Nunca esquecendo de que, quando possível, é aconselhável comer as frutas com casca, pois irão ofertar mais fibras, que ajudarão, também, na saciedade”, ressalta.
Importante
O cuidado antes da preparação de refeições. “Antes de qualquer coisa, é necessário higienizar bem estes alimentos para reduzirmos a carga de agrotóxicos que, por ventura, estejam neles. Pode-se usar uma escovinha para lavá-los em água corrente e, após, deixá-los de molho em solução clorada por 15 minutos, seguido de novo enxágue em água corrente”, finaliza.