Ao falar de meio ambiente precisamos levar em conta mais do que o fator ambiental. Como explica o ecologista Paulo Roberto Lenhardt, é preciso pensar o meio ambiente como algo formado por três eixos: ambiental, econômico e social. Hoje, no entender de Lenhardt, o eixo econômico é o que se sobressai e atinge diretamente os outros dois.
O ecologista, que é diretor da BioC, reforça que esse avanço do eixo econômico impacta o eixo ambiental por meio, principalmente, da tecnologia. “Uso o exemplo das colheitadeiras: são cada vez maiores, cada vez consomem mais combustíveis e cada vez exigem mais manutenção. E elas têm uma patente”, aponta. Impulsionada pela economia, analisa Lenhardt, a tecnologia entra no eixo ambiental por meio da agricultura e acaba fazendo esse eixo refém.
“Elas (as colheitadeiras) só se viabilizam em grandes extensões de terras, com monoculturas gigantescas, que exigem muita tecnologia, mas uma tecnologia que só interessa ao (eixo) econômico. Ele não está preocupado com a questão ambiental, ele está preocupado em causar dependência para ele ter mais ganho e mais poder. O que isso está causando? Está desequilibrando todo o ambiente, o ecossistema”, afirma o ecologista. É na contramão dessa forma de fazer agricultura que entra a produção orgânica, regenerativa e sustentável.
Trabalhando com a harmonia ambiental, a agricultura orgânica busca manter o meio ambiente em equilíbrio. E, segundo Lenhardt, a principal forma de fazer isso é cuidando do solo transformando-o rico em húmus e, consequentemente, rico em microorganismos que auxiliam no desenvolvimento das plantas. “Um solo rico em húmus é um solo saudável. Um solo saudável vai produzir um alimento saudável. Um alimento saudável vai gerar pessoas saudáveis”, lista. De acordo com o ecologista, a transição de uma produção convencional para uma orgânica pode ser rápida. No entanto, ela depende de diversos fatores como clima e condições do solo.
Lenhardt também alerta para os perigos que o uso de agrotóxicos e outros defensivos geram ao ser humano. Ele observa que a maioria desses produtos, hoje, é sistêmica e acaba absorvida pelas plantas. “Qual o problema disso? Ele (o agrotóxico) está dentro da fruta. Não adianta mais lavar nem descascar. Não tem o que fazer, ele está dentro dos alimentos e tu não tem como se livrar disso”, afirma. O ecologista aponta que, além disso, a deriva dessas aplicações, acaba contaminando o solo e água que, por sua vez, contamina o plâncton, a base da cadeia alimentar. Assim, o agrotóxico acaba entrando, sucessivamente, na cadeia alimentar, chegando ao topo desta – o ser humano –, em concentrações altíssimas.
O ecologista observa que, seja também pela ingestão direta de grãos e derivados, bem como, frutas e verduras contaminadas ou por ingerir animais que tenham comido alimentos contaminados, o ser humano vai acabar ingerindo indiretamente esses e outros produtos, como o plástico, por exemplo. Como explica Lenhardt, o plástico não é biodegradável, porém vai se fragmentando, com o tempo, em partículas cada vez menores. “Hoje, já em nanopartículas, o plástico entrou na cadeia alimentar e nós, humanos, e muitos seres que coexistem conosco neste planeta já estão comendo plástico”, aponta.
“O que é necessário é a tua mente entrar para o orgânico”, diz produtor
No interior de São José do Sul, Antônio Ademir Carlotto se destaca com sua produção orgânica. Há sete anos envolvido com o manejo orgânico da sua propriedade, ele conta com plantios de morangos, citros, aipim, batata doce, alho, pepino, brócolis, couve-flor, beterraba, abobrinha e pimenta de bico.
Indo de encontro ao que prega Lenhardt, a propriedade de Carlotto abrange os três eixos que compõem o meio ambiente. Na parte econômica, há um avanço preparado com o próximo passo que a família dará: inaugurar uma agroindústria familiar. “Eu sempre coloquei assim: quem quer se dar bem e não perder dinheiro, é começar com orgânico”, afirma o produtor que faz parte da Associação dos Produtores Ecológicos Dom Diogo (Aspedd).
O eixo social apresenta-se nos companheiros de trabalho de Carlotto. Além dele, também trabalham na propriedade uma de suas filhas, o genro, uma neta e um sobrinho. O eixo ambiental é abrangido pela essência da produção orgânica, que preza pelo equilíbrio da natureza para se concretizar. “Para nós trabalhar no orgânico nós temos que proteger o meio ambiente, a gente tem que trabalhar tudo ao natural”, comenta. Um exemplo desse trabalho “ao natural” são os microorganismos que o agricultor busca na mata para reproduzi-los na compostagem para, depois, serem usados nas plantações.
Para Carlotto, mais do que estudos e conhecimento para adotar o manejo orgânico, é preciso ter uma mudança de mentalidade para entrar nesse tipo de agricultura. “O que é necessário é a tua mente entrar para o orgânico, que tu vê que aquilo ali é uma coisa perfeita, que aquilo ali vai te dar benefício pessoal, para o meio ambiente e para teus fregueses”, assegura.