O alimento orgânico é produzido sem o uso de agrotóxicos. O consumidor, na hora da compra, além de saber que está pagando por um produto mais saudável, também recebe a garantia de que ele foi plantado de forma sustentável; preocupada com a preservação do Meio Ambiente. E essa garantia é a certificação.
“O produto orgânico de agroindústria, que é transformado, como uma laranja que virou suco, vai trazer no rótulo o selo de orgânico”, explica Carmen Regina da Silva, varejista dedicada exclusivamente ao comércio de orgânicos em Montenegro. “Tendo aquele selo, quem entrar no site do Ministério da Agricultura, vai localizar o nome do produtor e tudo o que ele produz.”
“Já pra quem é do produto in natura, não vai ter um selo para cada fruta. Isso se tornaria bastante caro e até difícil para o consumidor”, complementa a comerciante. “Então, o produtor tem um certificado que leva consigo ou deixa exposto para o cliente. Ali tem os dados onde o consumidor consegue rastrear para ver quem é aquele produtor e se o que ele produz é certificado como orgânico.”
Em linhas gerais, as certificações são administradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Inmetro; num processo que é auxiliado por agências certificadoras terceirizadas. No site do Ministério encontra-se o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, atualizado periodicamente com dados de identificação e o que cada produtor orgânico produz.
De Montenegro, hoje, são 45 os listados – muitos, associados à Cooperativa Ecocitrus. Dentre eles, está o agricultor Norberto Haas, o único produtor orgânico que comercializa na Casa do Produtor Rural do Município. Ele destaca que é tudo bastante controlado. “A produção de orgânicos não é só não usar agrotóxicos. Envolve a proteção das nascentes, a proteção do solo, questão do lixo”, comenta. “Se for um inspetor na tua propriedade e ele enxergar plásticos no chão, por exemplo, ele já te autua na hora.”
Vendendo citros, variados tipos de outras frutas e verduras – parte de sua produção própria em Vapor Velho; parte de parceiros – o produtor explica que guarda consigo não só o certificado, mas também documentos como a divisão dos lotes de sua propriedade; e notas fiscais, inclusive, das mudas e do esterco que comprou para aplicar. É tudo parte dos controles da certificação. Ele também precisa manter um caderno de campo com o relatório diário de sua propriedade.
“Se aparece um agrotóxico na geleia de uma agroindústria feita com uma fruta minha, eles vão ver que a fruta veio de mim e de qual lote”, exemplifica Norberto. “Vai constar no meu caderno em qual dia eu colhi pra ela.” A garantia da qualidade da produção passa por vistorias internas, feitas por meio da associação a qual o agricultor está ligado, e da certificadora, que atesta a produção como orgânica anualmente.
Desafios de mercado
O processo de certificação tem alguns custos. Para Norberto Haas, que encaminha a avaliação através de uma associação com outras nove propriedades e já tem décadas no ramo, o valor, já dividido, fica em torno de R$ 1.200,00 por ano. Além disso, o manejo orgânico conta com processos mais caros como alternativa ao uso de agrotóxicos; pois demanda mais mão de obra e, muitas vezes, impossibilita produções de larga escala para baixar os custos. “Pra ter uma muda orgânica de hortaliças é quase três vezes mais caro”, adiciona o agricultor.
Alguns itens, com isso, tendem a custar mais que os convencionais. A diferença de preço ao consumidor final, mostra pesquisa feita no mercado local, gira em torno de 100% a 200%. “Se tivesse mais produtores, pessoal poderia produzir em escala maior e, de repente, ter menos custos”, pondera Norberto. São os próprios custos e o tempo de transição, ele avalia, que acabam afastando alguns interessados.
Venda
Ligado a associação Companheiros da Natureza, que reúne famílias de Montenegro, Pareci Novo, Maratá e Brochier, Norberto comercializa na Casa do Produtor e também conseguiu um importante mercado para sua produção fornecendo para a merenda escolar das escolas do Município. “Sendo produtor orgânico, a gente ganha 30% a mais que o preço tabelado. Motivou bastante e dá boa diferença”, destaca.
Localmente, o agricultor também tem ponto de venda no armazém de orgânicos de Carmen Regina, próximo ao Centro. Mas seu principal mercado, ao lado dos associados, são as feiras de orgânicos em Porto Alegre – praça que, efetivamente, impulsionou seu trabalho no início dos anos 2000. “O que evoluiu nos últimos quinze anos é impressionante. No início, era só um ponto de venda lá, mas aumentou muito os pontos de feira e a procura”, relata. “Hoje, a gente pegou três condomínios, em bairros nobres, onde os moradores também se organizaram e conseguiram feiras pra gente fazer.” A luta é que, também em Montenegro, mais pessoas passem a valorizar a produção orgânica; dando força ao mercado e permitindo que ainda mais agricultores façam adesão à prática.