A influência do El Niño nas fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul tem sofrido nos últimos meses com fortes chuvas, causando cheias de diversos rios e tragédias, como a que tirou a vida de dezenas de pessoas no Vale do Taquari recentemente. Montenegro e região também sofrem com os efeitos das precipitações acima da média, registrando enchentes nos últimos meses. Além disso, o restante do Brasil tem enfrentado ondas de calor incomuns para essa época do ano. Segundo os meteorologistas, o fenômeno El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, é o grande responsável pela atual condição climática. Na Região Sul do Brasil, o El Niño tem um impacto marcante nas chuvas e na circulação de ventos.

Durante o El Niño, a Região Sul do Brasil experimenta um aumento na probabilidade de chuvas acima da média. Isso é atribuído à interferência nas circulações de vento de grande escala causadas pelo fenômeno, que cria uma barreira para as frentes frias que normalmente avançariam pelo país. Consequentemente, as frentes frias tendem a se concentrar na Região Sul por um período mais longo, resultando em um aumento das precipitações nessa área.

Gráfico mostra oceano Pacífico em uma situação normal e com ocorrência de El Niño

Conforme o meteorologista Guilherme Borges, do Climatempo, durante a Primavera, que ocorre entre setembro e dezembro, o El Niño vai seguir desencadeando mudanças drásticas nos padrões climáticos. “Segundo as análises climáticas mais recentes, a Primavera pode ser bastante influenciada pelo fenômeno, que acaba por manter uma maior frequência e intensidade das precipitações no Sul do Brasil, algo que pode aumentar ainda mais os problemas com enchentes e inundações como as que ocorreram recentemente”, pontua.

O meteorologista enfatiza que, durante a Primavera de 2023, a projeção é de chuvas muito acima da média na região Sul, especialmente sobre o Rio Grande do Sul. Por outro lado, o próprio El Niño gera um maior risco de estiagem no Norte e no Nordeste, algo que está previsto para acontecer nessa estação, com chuvas muito abaixo da média e episódios de precipitação muito irregulares e espaçados, o que pode ser um grande influenciador para o aumento das queimadas.

Principais características do El Niño
– El Niño (que em português é “o menino”) é o fenômeno de aquecimento das águas do oceano Pacífico. Sua ocorrência promove alterações atmosféricas, afetando todo o mundo.
– Sua grande característica é o aumento das temperaturas nas águas do oceano Pacífico na região do Equador.
– Sua ocorrência é cíclica. Ele começa nos meses do final do ano e pode durar até um ano e meio.
– O enfraquecimento dos ventos alísios reduz o deslocamento das águas aquecidas do oceano, produzindo alterações no regime de chuvas em boa parte do mundo.
– O Brasil é um dos países mais afetados pelas alterações provenientes do El Niño. As regiões têm seus índices de chuvas alterados e mudanças nas temperaturas.

Impactos ambientais
Os impactos do El Niño também são acompanhados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que divulgou recentemente um boletim em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad). O objetivo é apresentar o monitoramento do fenômeno e suas consequências no clima do País.

Rua Dr. Flores durante a enchente que atingiu Montenegro em junho

De acordo com o boletim, desde junho de 2023 as condições observadas de temperatura da superfície do mar mostram um padrão típico do fenômeno El Niño. Este padrão se apresenta na forma de uma faixa de águas quentes em grande parte do Oceano Pacífico Equatorial que, próximo à costa da América do Sul, são superiores a 3°C. Entre agosto e o início de setembro, essa região apresentou sinais de atividade convectiva anômala em associação ao desenvolvimento de nuvens profundas. Neste ano, um dos efeitos do El Niño foram as chuvas registradas no Rio Grande do Sul, entre 1º e 19 de setembro, cujos volumes ficaram em torno de 450 milímetros (mm). Nos demais estados do País, foi registrado um déficit de precipitação, com volumes superiores a 50 mm, abaixo da média histórica, na Região Norte.

Conforme a meteorologista Marcely Sondermann, do Clima Tempo, muitas vezes, as mudanças médias nos padrões climáticos podem ser sutis em escala global. Contudo, as alterações nos extremos climáticos tendem a ser mais expressivas. Isso ocorre devido ao aumento da temperatura global corroborar com uma maior energia no sistema climático, resultando em eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes.  “O El Niño é um fenômeno natural associado às anomalias na temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico equatorial. Mas vários estudos têm indicado que esses eventos devem se tornar mais frequentes e intensos ao longo dos próximos anos devido às mudanças climáticas”, enfatiza a meteorologista.

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