Tabagismo: doença comum entre os homens também precisa ser tratada

“Vi que já tinha passado mais tempo da minha vida fumando do que não fumando, faz tempo que isso me incomodava”. Esta é a maior justificativa que fez Ferdinand Pölking, 36, decidir parar de fumar. Ele começou com o hábito aos 16 anos de idade e afirma que entre os 18 e 20 anos foi o auge. Faz quase três meses que decidiu largar o vício, onde destaca mais dois fatores. “Parei também devido ao Coronavírus, porque eu fiquei com muito medo. Também por falta de desafios em minha vida. Parar de fumar e enfrentar a si próprio foi um baita desafio que está fluindo e trazendo frutos para o meu caminho”, destaca.

O tabagismo é uma doença que tem relação com aproximadamente 50 enfermidades, dentre cânceres, doenças no aparelho respiratório e doenças cardiovasculares. O Novembro Azul também serve para sugerir aos homens ter hábitos mais saudáveis, entre eles, abandonar o cigarro. O câncer de bexiga é uma das consequências do cigarro. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa de novos casos é de 10.640, sendo 7.590 em homens. A instituição também estima que para cada ano sejam diagnosticados 31.270 novos casos de câncer de pulmão, traqueia e brônquio, sendo a maioria em pessoas do gênero masculino: 18.740.

Ainda segundo o Inca, homens que fumam têm menor resistência física, menos fôlego e pior desempenho nos esportes e na vida sexual do que os não fumantes. Além disso, envelhecem mais rapidamente e ficam com os dentes amarelados, cabelos opacos e pele impregnada pelo odor do fumo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o uso do cigarro mata mais de oito milhões de pessoas por ano no mundo todo. Conforme dados mais recentes da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, em 2020, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil foi de 9,5%, sendo 11,7% entre homens e 7,6% entre mulheres.

Ferdinand Pölking está longe dos cigarros há quase três meses. Foto: arquivo pessoal

Abandonar um vício como o do tabaco não é tarefa fácil, ao contrário, exige muito esforço. Fedinand relembra que o primeiro passo para se livrar do vício foi tentar entender o que acontecia, além de buscar ajuda. “Comecei a fazer alguns movimentos para entender o meu vício, minha condição de tabagista e projetar os passos para parar de fumar. Busquei o auxílio do grupo de ex-fumantes que tem um material de apoio sensacional. O trabalho deles foi um grande apoio pra mim que me fez dar conta de quando eu sentia vontade de fumar, quando não sentia e o que é a vontade de fumar”, conta. Ferdinand considera essencial que se entenda que a nicotina é um vício. “Isso é uma dependência, fazia parte da minha rotina e da minha existência. Tive que encarar como uma doença ou mau hábito meu que ia me levar a problemas se eu não mudasse.”

Ferdinand ainda relembra que as primeiras semanas “foram trabalhosas”. “Eu tinha minha rotina dividida em cigarros e de repente eu não tinha eles para me nortear, então eu sentia a sensação de que me faltava alguma coisa”, pontua. Ele relembra, ainda, que em um primeiro momento parou totalmente de beber e ter contato social. “Agora já consigo ir à uma festinha, tomar um chopp com meus amigos, me controlando, pois o chopp e o cigarro são companheiros. É uma série de adaptações”, destaca.

Saúde tem melhora já nos três primeiros meses
Atualmente, Ferdinand afirma estar bem e já sentindo alterações, mesmo com ajuda de adesivos de nicotina. “Estou até hoje com os adesivos, ficando um dia sim e um não, por exemplo, para não sentir vontade de fumar. Agora eu não estou passando trabalho. É como acordar para a vida depois de um tempo que eu não vou dizer que foi ruim, mas tempo que eu tinha outras prioridades. Consegui graças ao grupo de apoio, medicação e conscientização que eu tive”, ressalta.

Dentre as principais mudanças em sua saúde, Ferdinand destaca melhora no fôlego e paladar, assim como aumento da disposição. “Já que fumei há 20 anos, nos últimos tempos eu tinha um perfil mais sedentário. Na condição de tabagista eu tinha pouco fôlego, morria subindo escada. O pigarro também era problema. Isso deu uma mudada imediata, passou. O doce ficou muito mais doce. Minha disposição melhorou, já estou a fim de praticar exercícios. Tenho ido na academia, feito crossfit também para saber para qual lado vou focar. Sinto interesse de me mexer, fazer alguma atividade para substituir meu vício”, destaca.

Para o ex-fumante, uma das melhores coisas do processo é não precisar sair durante a noite para comprar cigarros ou largar tudo que estava fazendo para fumar. Em contrapartida, confessa que dormir tem sido mais difícil. “A nicotina deixa a gente relaxado, então, como eu era dependente, vai demorar um pouco para o meu corpo se adaptar”, finaliza.

Programa Municipal de Controle do Tabagismo
A rede de apoio, muito citada por Ferdinand, se trata do Programa Municipal de Controle do Tabagismo. Os profissionais envolvidos no programa são a odontóloga Cristina Helena Vaccari Lopes, enfermeira Mariana Luft de Vargas e o médico Mário do Canto. Cristina conta que as ações realizadas em grupo visam assegurar melhor qualidade de vida para a população. “Assim, proporcionando ambientes propícios que protegem contra exposição à fumaça do tabaco, ajudando os fumantes a abandonar o uso e impedindo que outros comecem fumar”, destaca.

O grupo tem encontros nas segundas-feiras pela manhã na Estação da Cultura. Quem tiver interesse em participar ou conhecer o programa, deve entrar em contato através do telefone (51) 3632-7250 ou se inscrever na Secretaria de Saúde, no Setor de Exames Especializados. Cristina conta que em função da pandemia, os encontros ainda estão sendo pré-agendados e com horários individualizados, onde passam por consulta de enfermagem, avaliação do caso e orientações. Posteriormente passam por consulta com médico do Programa. “Temos pessoas que estão na fase inicial do processo, outros na fase de transição e por fim pessoas que já pararam totalmente com o vício, mas mantêm vínculo com grupo para suporte”, conta Cristina.

Ferdinand afirma que indica o grupo a outras pessoas. “O fumante tem dificuldades como todo mundo, mas conhece um amigo que é o cigarro. Ele tem que conhecer ex-fumantes para se apoiar. Vício não é vergonha para ninguém. A pessoa tem que ter força de vontade e meter bronca”, finaliza.

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