“Se eu fosse um administrador, colocaria muito mais dinheiro para acesso à água potável e esgoto do que em pré-natal”

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Sérgio Martins-Costa, médico ginecologista e obstetra Sérgio Martins-Costa, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e chefe da Equipe de Gestação de Alto Risco do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Foto: reprodução internet

A frase parece polêmica, ainda mais vinda do médico ginecologista e obstetra Sérgio Martins-Costa, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e chefe da Equipe de Gestação de Alto Risco do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Mas a ligação importantíssima das políticas públicas sem relação direta à medicina com a sobrevivência dos bebês e suas mães esclarece a polêmica. Ocorre que a mortalidade infantil está, obviamente, vinculada a um pré-natal de qualidade, mas, esse só será realmente eficiente se vier acompanhado de medidas muito mais abrangentes.

“Sabemos que o que mais impacta na mortalidade infantil é esgoto tratado, aumento da escolaridade feminina e renda do casal. São três coisas que, em período de recessão, a gente sofre muito. Isso tem impacto na mortalidade perinatal (a ocorrida entre o final da gestação e o recente nascimento) muito maior que o próprio pré-natal. Não adianta fazer muitas consultas se a paciente for desnutrida, estiver exposta a infecções, vivendo com esgoto a céu aberto, com higiene precária ou tiver baixa escolaridade”, explica o médico.

Essas intervenções citadas por Martins-Costa fogem ao pré-natal, são questões de saúde pública. “As gestantes carregam na barriga nossa futura geração. Claro que o pré-natal irá ajudar a detectar problemas originados dos substratos básicos à saúde. Porém, é muito mais amplo. Se eu fosse um administrador, colocaria muito mais dinheiro para acesso à água potável e esgoto do que de pré-natal. Ele é importante, mas, é preciso ir muito além”, completa o médico.

Sérgio Martins-Costa faz, inclusive, uma analogia. “O médico é o bombeiro apagando o incêndio. Não adianta colocar mais bombeiro se continuarem ateando fogo. É importante prevenir.” E essa prevenção de problemas passa, inclusive, por planejamento familiar. Na opinião do especialista, devemos, enquanto sociedade, buscar por gestações planejadas. E, quando não for planejada, então que ela comece a ser cuidada o mais precoce possível.Esse cuidado, em quantidade de consultas médicas, vai variar de acordo com cada caso. O pré-natal é importante no sentido de preparar para a chegada do bebê. E também para pesquisar e tratar doenças que podem atuar na grávida, reduzindo assim a mortalidade infantil.

“O pré-natal bem feito tem impacto na redução da mortalidade infantil precoce. São intervenções em que, comprovadamente, temos a oportunidade de diminuir a ocorrência desses óbitos. Não dá pra eliminar, já que existem casos de mortalidade que não são preveníeis, mas, em alguns casos, a gente pode ajudar. Existe uma série de doenças, como Zika vírus, toxoplasmose, sífilis, HIV, por exemplo. Coisas que, descobrindo na mãe, podemos diminuir o risco de que prejudique ao bebê, não só reduzir a mortalidade como aumentar a qualidade de vida do bebê após o nascimento”, esclarece Martins-Costa.

Cesariana deve ocorrer apenas quando parto por via natural não for seguro

A escolha do tipo de parto é um tema polêmico. E que tem, inclusive, regulamentação. Apesar de alguns médicos e muitas mães defenderem a escolha livre por cesariana, além do Brasil apresentar níveis mais altos que a média mundial, a orientação é que se dê preferência aos partos por via vaginal. “O tipo de parto não deve ser uma opção. O parto natural é a via natural para o nascimento. Deve-se reservar as cesarianas para aqueles casos em que há indicação”, destaca ginecologista e obstetra Sérgio Martins-Costa.

O pré-natal bem feito tem impacto na redução da mortalidade infantil precoce

Fazer cesarianas sem nenhuma indicação médica é, também, um risco ao bebê. Principalmente quando ela é feita até a 39ª semana gestacional, o que é proibido por Norma do Conselho Federal de Medicina. “Mas muitas vezes as pacientes não sabem bem, ou estão enganadas sobre o tempo de gestação, e optam por fazer uma cesariana sem esse período estar bem completo. Isso acaba gerando mais risco de mortalidade infantil porque ele sai do ventre antes do tempo” esclarece o especialista.

A recomendação é que se reserve as cesarianas aos casos em que não há possibilidade de que o parto seja natural com segurança.

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