Saúde mental não é frescura!

Nos últimos dias, virou manchete no mundo a notícia de que a norte-americana Simone Biles, de 24 anos, desistiu de disputar quatro finais Jogos Olímpicos de Tóquio. A atleta era a favorita à medalha de ouro, já que carrega consigo o título na categoria Individual Geral, conquistado nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, na qual também ganhou o ouro por equipes e no salto e solo, além do bronze na trave. O que chamou a atenção mundial foi o motivo da desistência, que ocorreu após mau desempenho em uma das competições.

Simone afirmou estar sob muita pressão e alegou precisar cuidar de sua saúde mental. A atleta declarou ainda que “temos de proteger as nossas mentes e os nossos corpos, e não apenas continuar a fazer aquilo que o mundo quer que façamos”. A decisão virou alvo de críticas, elogios e debates. Apesar de ter desistido de algumas categorias, Simone decidiu disputar a final da trave, realizada na terça-feira, 3, e finalizou sua trajetória na Olimpíada 2021 levando a medalha de bronze. Mas, nos dias, atuais, por que a saúde mental ainda não é vista com tanta importância quanto a física?

A psicóloga montenegrina Danuzia Silva identifica a saúde mental como a forma com que as pessoas encaram seus desejos e limites. “Não é só felicidade, alegria. Não é fazer tudo que se quer, e sim poder lidar razoavelmente bem com impedimentos e satisfações das vontades. Não é ausência total de mal-estar e sofrimento, e sim conseguir organizar nossas capacidades psíquicas em relação as adversidades e conflitos”, detalha.

Danuzia afirma que dar atenção à saúde mental é extremamente importante e que é preciso desmistificar a ideia de que é menos válida do que a física. “É coisa séria, não é brincadeira, não é mimimi. Temos altos índices de adoecimento mental no Brasil e, com a pandemia, aumentou ainda mais. Precisamos dar atenção para evitar estigmatização e lutar por mais políticas públicas, assim como para abrir janelas para mais questionamentos”. Para ela, o assunto tem que ser constantemente abordado para diminuição do preconceito e julgamento, a fim de se ter uma sociedade mais compassiva, já que é uma questão coletiva.

Fique atento aos sinais
Danuza explica que é perceptível quando alguém está com problemas emocionais quando já não consegue mais lidar ou compreender algo. A irritabilidade, dificuldade para dormir, medo excessivo, ansiedade, falta de concentração e até sinais corporais entre outros se apresentam à medida que saem do equilíbrio. Por isso, fique atento aos sinais de seu corpo e mente e não descarte a ideia de buscar ajuda especializada. “É importante que o indivíduo esteja atento à origem, frequência, intensidade e duração destes sinais e busque ajuda psicológica. O sofrimento não escutado pode se tornar sintomas mais graves. Então, buscar ajuda profissional poderá ajudar a compreender, a elaborar e encontrar saídas saudáveis para suas questões”, ressalta a psicóloga.

Recuar para avançar
Para a profissional, o caso da atleta Simone Biles serviu para mostrar que recuar, mesmo carregando um fardo de expectativas em uma missão, pode ser sinal de solução. “Ficou claro que a saúde mental é igualmente importante a saúde física, e que para cuidar, podemos pensar que, para a saúde física é bom se exercitar e se alimentar, entre outras coisas, assim como para a saúde psíquica também é preciso “exercitar”, se questionar, identificar e reconhecer seus sentimentos e se nutrir de coisas que lhe fazem sentido de vida”, pontua.

O caso faz com que haja a reflexão de que está mais do que na hora de todos se questionarem sobre pressão, produtividade e competitividade excessiva, trazendo para o contexto do dia a dia, não apenas no de Biles. “Em nosso cotidiano, precisamos poder compreender, reconhecer habilidades e fraquezas. Costumo dizer que saúde mental é se questionar sobre seu estilo de vida, sobre suas ações. É ter frequentemente conversas honestas e claras consigo mesmo e não cair no automático. Às vezes, vai sim, precisar buscar ajuda de profissional. E tudo bem! Isso é sinal que você está se cuidando.”

Para ela, o caso exalta a necessidade de aprender a lidar com os próprios limites e se conhecer para superá-los. “Acredito que o que Simone fez pode-se trazer para o cotidiano como pratica diária: identificar, respeitar e se posicionar diante dos próprios limites, das exigências internas e externas, com a possibilidade de superá-los”, finaliza.

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