O que? Repete! Fala mais alto! Essas expressões, em geral ditas aos gritos, costumam ser sinal de alerta contra problemas auditivos. O mais grave é que normalmente quem não está ouvindo bem, leva muito tempo até perceber o problema. Começa subindo o volume do rádio e da televisão, acha que os amigos e familiares falam baixo demais e passam a elevar o tom de voz ao falar ao telefone.
A perda auditiva é um problema crescente. Mais de 278 milhões de pessoas têm perdas auditivas de grau moderado a profundo no mundo. Dessas, 80% vivem nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), e apontam que a metade dos casos de deficiência auditiva poderia ser prevenida se fossem detectados precocemente.
A fonoaudióloga Ana Fell explica que existem alguns tipos de perda auditiva. Uma delas é a conhecida como surdez neurossensorial, que ocorre na orelha interna. É quando há um impedimento para que os sinais do ouvido cheguem ao cérebro. Esse tipo de perda auditiva pode ser tratado, através do uso de aparelhos auditivos, e em alguns casos associados a medicação para redução de zumbido que pode surgir.
Já a perda auditiva condutiva ocorre na orelha média. Ela pode ser causada por doenças infecto contagiosas contraídas durante a gestação, como a sífilis e a rubéola. Por isso, atualmente, pouco depois do parto é realizado o “teste da orelhinha” nos bebês. Os casos de perda auditiva condutiva podem ser tratados também com uso de aparelhos auditivos e, muitas vezes, as perdas podem ser revertidas através do tratamento médico.
A junção dessas duas formas de perda auditiva também ocorre e é denominada “mista”. É o resultado de problemas nos ouvidos interno e médio. As opções de tratamento, nesses casos, podem incluir medicamentos, cirurgia, aparelhos auditivos ou implantes auditivos de ouvido médio.
Quando uma criança nasce surda, há uma série de tratamentos que, dependendo do caso, podem lhe devolver a capacidade de ouvir mesmo que parcialmente. Em alguns casos, quando a surdez é profunda, não é possível reparar o dano, apenas minimizar. E, mesmo quando, por meio de aparelho, ela passa a ouvir os sons, será necessário continuidade nos cuidados para que ela os identifique. Esse trabalho é outra área da fonoaudiologia. “De forma associada ao aparelho, a fono trabalha com a criança para que ela aprenda também a falar. Não é colocar o aparelho e pronto, tudo se resolve”, explica Ana.
E há, também, a Presbiacusia, conhecida como a “surdez do idoso” e muito presente na população. “Assim como todo o corpo humano, o ouvido também envelhece e a nossa capacidade de ouvir é afetada pela passagem do tempo”, comenta Ana Fell. Trata-se de uma doença multifatorial, caracterizada pela perda progressiva da audição em ambos os ouvidos ao longo da vida.
Fone de ouvido pode gerar surdez?
Sim. Se usado além dos limites seguros, ao longo da vida, os fones de ouvido são capazes de fazer muito estrago na audição. “Não será agora, enquanto ouve aquela música, mas, a soma dos excessos durante os anos vai lesionando o ouvido”, destaca Ana Fell.
O problema está em passar muitas horas exposto a volumes altos ao longo de muito tempo. A indicação é que não se passe dos 80 decibéis de volume.
Depois disso é considerado alto. Quando se vai além dos 120 decibéis o ouvido já está além do suportável. É o que ocorre se for disparado um tiro ou um foguete muito próximo do ouvido de alguém. Contar decibéis é algo que necessitaria de um equipamento específico. Basta, então, ter bom senso. Se quem está à sua volta está ouvindo nitidamente a música que toca no seu fone de ouvido, é sinal que o volume está além do adequado.
Qual o melhor aparelho?
Essa é uma definição feita pelo fonoaudiólogo responsável pela adaptação da prótese, médico, considerando as preferências do paciente, questões sociais e o dano clínico. Existem muitos tipos e modelos. Não vale, porém, escolher unicamente pela estética. “Existem os modelos que ficam dentro do canal e outros que são externos. Há casos em que, dependendo do grau de perda, o externo é necessário e não adianta o paciente querer outro só por ser mais discreto”, explica a fonoaudióloga. Hoje os aparelhos são digitais e oferecem uma clareza de som muito satisfatória. Assim, os pacientes têm a audição cada vez mais similar à natural.
Cuidado com a audição dos mais idosos
Não é raro um idoso chegar ao consultório do fonoaudiólogo já com a audição muito debilitada e, ainda assim, crer que não precisa estar ali. Em média, a pessoa só percebe que ouve mal de 7 a 10 anos depois que o problema teve início. E isso costuma ser causa de conflitos na família. O problema é que, quanto mais tempo passa mais difícil será o tratamento tanto clinicamente quanto da adaptação do paciente.
Como cuidar dos meus ouvidos:
Evite exposição a ruídos e sons altos;
Se eles forem rotineiros e necessários, como vinculados a ocupação profissional, use protetores;
Cuidado com remédios ototóxicos. Se você está com dificuldade para ouvir e costuma tomar remédios de uso contínuo, converse com seu médico para verificar se algum deles pode estar prejudicando sua audição;
Faça exames anuais. É possível retardar perdas auditivas progressivas, mas não corrigi-las de todo. Por isso, melhor chegar ao médico ainda no estágio inicial.