O impacto da reposição hormonal ainda gera dúvidas

A longevidade humana, crescente em todo o mundo, e a evolução farmacêutica, colaboram para o surgimento de uma série de mudanças de hábitos das pessoas. Tudo a partir da busca – justa e inerente do ser humano – da qualidade de vida. Mas lançando mão de medicamentos que, ao mesmo tempo em que promoveram o fim de incômodos, trouxeram dúvidas quanto às mudanças geradas no organismo. Isso é muito discutido hoje, em especial no que toca à saúde da mulher.

As mudanças hormonais ocasionadas por medicamentos como a pílula anticoncepcional e o impacto de uma reposição hormonal para conter os sintomas da menopausa, mesmo hoje, décadas após o surgimento desses tratamentos, ainda geram questionamentos. O médico geriatra e Diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Newton Luiz Terra, diz que a mulher tem por hábito cuidar mais de sua saúde durante a vida e isso se reflete numa velhice mais saudável. “Elas vivem sete anos a mais que os homens, em média. Isso não é genético nem por questões hormonais. É o estilo de vida, com visitas mais frequentes ao médico e uma atenção às mudanças no corpo”, diz.

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Newton Luiz Terra, diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS foto: Gilson Oliveira/Arquivo PUCRS

Porém, a questão da reposição hormonal é considerada pelo especialista algo polêmico, controverso e capaz de gerar efeitos graves no corpo da mulher. “A reposição tem seus riscos e impactos da saúde da mulher. Por isso, deve ser muito bem avaliada. Houve um momento em que o remédio mais vendido no mundo era hormônio. Era de uma forma muito indiscriminada. E as mulheres pagaram o preço disso mais tarde”, destaca Terra.

O especialista lembra que a geriatria dedica-se não apenas a prolongar a vida, mas em mantê-la com qualidade e que a reposição hormonal mal feita pode trazer complicações à mulher mais tarde. Não se trata ser totalmente contrário à reposição, mas de reconhecer que ela está longe de ser a solução dos problemas e deve ser restrita a alguns casos. “No Japão, a expectativa de vida é 86 anos e não se faz reposição hormonal. É algo realmente muito controvertido e que deve ser muito bem estudado e monitorado”, diz Newton Luiz Terra.

O mesmo, destaca o médico, vale para o que hoje se questiona da saúde masculina. Afinal, o termo “andropausa” vem sendo cada vez mais repetido e, também para eles, a reposição hormonal exige cuidados. “Nos homens o que ocorre com o avanço da idade é um declínio de testosterona. Mas isso é muito distinto do que ocorre com as mulheres. Tentam ‘vender’ essa ideia de uma menopausa masculina, algo que não existe”, enfatiza o médico. Para ele, assim como as mulheres, os homens precisam avaliar o benefício que terão sem esquecer-se de pesar as complicações que inevitavelmente existem.

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