A campanha do Novembro Azul segue com dedicação na conscientização sobre a saúde masculina também no Jornal Ibiá. Desta vez, o convidado na Rádio Ibiá Web foi o psicólogo Gabriel Lampert, que compartilhou insights valiosos sobre o impacto psicológico do câncer de próstata e a necessidade de enfrentar estigmas culturais que afastam os homens dos cuidados preventivos. A conversa abordou desde a importância do diagnóstico precoce até os desafios emocionais enfrentados durante e após o tratamento.
O diagnóstico de câncer de próstata é um marco na vida de qualquer homem, afetando mais do que o corpo. Gabriel Lampert destaca como essa notícia desencadeia um turbilhão de emoções. “Quando um homem descobre que tem câncer de próstata, ele não enfrenta apenas uma doença física, mas uma verdadeira batalha emocional. Ansiedade, depressão e até mesmo o transtorno de adaptação são muito comuns nessa fase”, explica.
Ele detalha como o transtorno de adaptação se manifesta. “Esse transtorno ocorre quando uma pessoa tem dificuldade em lidar com mudanças significativas, como um diagnóstico grave. É uma resposta ao estresse, marcada por irritabilidade, dificuldade de concentração e até isolamento social. É algo que merece atenção tanto quanto o tratamento médico”.
O transtorno de adaptação é caracterizado por uma resposta emocional ou comportamental desproporcional a um evento estressante, que geralmente se manifesta dentro de três meses após o acontecimento. No caso do câncer de próstata, é comum que o homem sinta uma sobrecarga emocional ao lidar com medos relacionados à saúde, à mortalidade e às possíveis consequências físicas e sociais do tratamento, como alterações na sexualidade.
Enfrentando a disfunção erétil e efeitos emocionais
Um dos maiores medos associados ao câncer de próstata é a disfunção erétil, efeito colateral possível do tratamento. Gabriel explica como essa questão afeta profundamente a autoestima masculina. “Quando um homem enfrenta a disfunção erétil, não estamos falando apenas de algo físico. Essa condição afeta diretamente a identidade dele, a forma como ele se vê como parceiro e até mesmo sua autoestima. Muitos entram em um ciclo de ansiedade e depressão, o que agrava ainda mais o problema”.
Ele também alerta sobre o uso indiscriminado de medicamentos para disfunção erétil. “Muitos recorrem a remédios para resolver o problema rapidamente, mas isso é apenas um paliativo. Esses medicamentos não tratam a causa emocional subjacente. É essencial buscar acompanhamento psicológico para lidar com os aspectos emocionais e resgatar a confiança e a saúde de forma integrada.”
A masculinidade como barreira ao cuidado
Um dos principais pontos levantados pelo psicólogo foi o impacto dos padrões de masculinidade na adesão ao cuidado preventivo. Gabriel destaca que o exame de toque retal, essencial para a detecção precoce do câncer, ainda carrega estigmas associados à masculinidade tóxica. “Muitos homens ainda associam o exame de toque com um atentado à sua masculinidade. Isso é fruto de uma cultura que ensina que os homens não podem demonstrar vulnerabilidade. O resultado? Eles negligenciam a própria saúde, colocando suas vidas em risco”.
Ele também critica as piadas homofóbicas frequentemente ligadas ao exame. “Essas brincadeiras reforçam preconceitos e afastam os homens do cuidado. Precisamos desconstruir essa ideia de que buscar ajuda ou realizar exames preventivos é algo vergonhoso. O câncer de próstata é letal, mas é evitável. Não há espaço para brincadeiras quando falamos de salvar vidas.” Um conceito mais saudável de masculinidade inclui a capacidade de cuidar do próprio corpo, reconhecer vulnerabilidades e buscar ajuda quando necessário. Muitos homens que superaram esse preconceito relatam que o exame é rápido, indolor e libertador, especialmente ao descobrir que sua saúde está em dia.
A espiritualidade como aliada no tratamento
Além do suporte psicológico, Gabriel destaca o papel positivo da espiritualidade no enfrentamento da doença. “A espiritualidade, independentemente de religião, oferece um suporte emocional importante. Há pesquisas que mostram que pacientes com uma prática espiritual têm maior resiliência para lidar com o tratamento. É por isso que muitos hospitais já integram líderes religiosos ao cuidado”. Ele reforça que a espiritualidade não substitui o tratamento médico ou psicológico, mas pode ser um complemento valioso. “Não estamos falando de milagres, mas de como a fé pode oferecer força para enfrentar os desafios. Isso é algo que a psicologia reconhece e valoriza”.
Os pacientes que estão enfrentando um câncer, muito comumente, diante de uma situação difícil como essa, levantam questionamentos sobre seu próprio sentido de vida e o propósito pelo qual estão aqui. Isso, por vezes, pode ser fonte de sofrimento espiritual. Assim, pode ser fonte de uma perda da esperança em algo que faz, que dê um valor maior e mais amplo a sua própria vida. Nesse sentido, trabalhar e lidar com a espiritualidade permite muitas vezes que se encontre um novo significado daquilo que se está vivendo.
O apoio da família e o acolhimento
Para Gabriel, a participação da família é crucial durante o processo de tratamento. Ele ressalta, no entanto, que esse apoio deve ser equilibrado. “A família precisa estar presente, mas sem exageros que possam fazer o paciente se sentir ainda mais vulnerável. Superproteção não ajuda. O ideal é criar um ambiente acolhedor que encoraje o paciente a compartilhar suas angústias.”
A terapia de casal também foi apontada como uma ferramenta importante. “Quando a vida sexual é afetada, os conflitos conjugais podem surgir. A terapia de casal ajuda a alinhar expectativas, resolver problemas de comunicação e fortalecer o vínculo do casal durante esse momento desafiador”, explica. Ele também menciona a importância da psicoeducação, tanto para o paciente quanto para seus familiares. “É fundamental que a família entenda o que o paciente está passando. Assim, é possível oferecer apoio sem julgamentos ou críticas. A escuta ativa, o diálogo e a empatia fazem toda a diferença.”
Campanhas devem ir além da prevenção física
Ao longo da entrevista, Gabriel reforça a importância de campanhas que abordem a saúde de forma integral, incluindo aspectos emocionais e psicológicos. “As campanhas de Novembro Azul têm feito um excelente trabalho em conscientizar sobre o câncer de próstata, mas precisamos avançar. É essencial incluir a saúde mental dos homens nesse debate, porque ela é tão importante quanto a saúde física.” Ele destaca que as redes sociais têm sido aliadas poderosas nesse processo. “Hoje, temos a oportunidade de alcançar milhões de homens com informações corretas. Mas também precisamos de mais investimentos em políticas públicas que garantam acesso a psicólogos e outros profissionais de saúde mental, especialmente para pacientes do SUS.”
Gabriel Lampert encerra com um chamado à reflexão. “Cuidar da saúde não é fraqueza, é coragem. É um ato de amor por si mesmo e por quem está ao seu lado. O câncer de próstata pode ser tratado, mas isso exige que o homem esteja disposto a vencer seus medos e preconceitos. A psicologia está aqui para ajudar nesse caminho.” O Novembro Azul não é apenas sobre exames e tratamentos. É sobre mudar mentalidades, quebrar tabus e promover uma visão mais ampla e humana da saúde masculina. Como Gabriel destaca: “Não somos apenas corpos: somos seres completos, com mente, emoções e espiritualidade. Cuidar da saúde é cuidar da vida em sua totalidade.”