Ex-vereador teve avanço significativo após implante de um estimulador cerebral
Quatro meses após a realização da cirurgia para o tratamento de Parkinson, o ex-vereador Carlos Einar de Mello, o Naná, se recupera bem em sua casa na localidade de Santos Reis, interior de Montenegro.
Naná convive com a doença desde 2012 e viu os sintomas piorarem ao longo dos anos. Ele conta que viveu momentos difíceis: “assim como eu tremia, tinha vezes que eu ficava paralisado e não conseguia me movimentar”. Foi realizando a cirurgia que o ex-vereador encontrou uma alternativa para melhora da qualidade de vida. Em novembro do ano passado ele passou por uma cirurgia que consiste no implante de um estimulador cerebral profundo, conhecido como DBS (Deep Brain Stimulation). Esse estimulador atua substituindo o efeito químico do medicamento pelo efeito físico da estimulação elétrica cerebral.
Ainda em processo de recuperação, Naná faz fisioterapia duas vezes na semana e realiza mensalmente uma consulta de acompanhamento do tratamento. Ele conta que ficou no hospital apenas três dias e que logo que veio para casa já notou a melhora. “Sem dúvida, a cirurgia do Parkinson foi um sucesso. Não tenho mais nada de problema de tremedeira, a melhora foi quase que imediata. Ainda tomo alguns remédios, mas reduziu bastante”, relata o ex-vereador.
Naná conta que ficou sabendo da existência do tratamento através de um amigo que também tinha a doença e realizou o implante do estimulador cerebral. Mas, até a realização da cirurgia ele teve que vencer alguns desafios, o principal deles foi o financeiro. Para arcar com os custos da cirurgia, o ex-vereador conta que teve de vender um terreno e contou também com a ajuda da comunidade, através de uma vaquinha virtual. Naná se diz muito agradecido a todos que colaboraram das diferentes formas, tanto financeiramente como com pensamentos positivos. “Me surpreendeu positivamente essa campanha, porque fui muito ajudado. Quem não pode ajudar com mais ajudou com menos e também com telefonemas, pensamento positivo, nem esperava que fosse tanto”, conta Naná.
Aos 68 anos de idade, o ex-vereador se diz otimista com a evolução do tratamento e planeja voltar à ativa assim que possível. Ele pretende ajudar levando as reivindicações, principalmente do interior, para o legislativo e o executivo municipal. “Pra quem não acreditava, dá para acreditar que é possível vencer, o principal é a força de vontade, e isso nunca faltou pra nós”, afirma Naná.
Entenda a doença de Parkinson
Para entender mais sobre a doença de Parkinson e a cirurgia realizada pelo ex-vereador Carlos Einar de Melo, conversamos com o médico do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Carlos Rieder.
Segundo Reider, o Parkinson é uma doença neurodegenerativa, a segunda mais comum, atrás apenas da doença de Alzheimer, cujo fator de risco mais importante é o envelhecimento. “À medida que a população envelhece, se tem mais casos. No Brasil, em estudos epidemiológicos na população acima dos 65 anos, 3,3% das pessoas são portadoras da doença de Parkinson. Portanto, é uma patologia bastante prevalente na população idosa” destaca o médico.
Ainda, segundo Reider, a doença é caracterizada por uma série de sintomas motores e não motores. Os motores decorrem da degeneração de áreas cerebrais nos circuitos que envolvem uma substância química conhecida como dopamina. Os mais característicos são o tremor de repouso, a lentidão global dos movimentos e rigidez muscular.
Mas não é uma doença unicamente do sistema motor. Também envolve uma série de sintomas não motores, como distúrbios do sono. “São sintomas que, muitas vezes, antecedem o aparecimento dos sintomas motores. Tem também a perda do olfato e outras consequências que são importantes e impactam diretamente na qualidade de vida do indivíduo”, afirma o médico.
Reider explica que, apesar da existência dos sintomas não motores, o diagnóstico ainda é baseado no aparecimento dos sintomas motores. “Os sintomas clínicos importantes para o diagnóstico são o aparecimento do tremor de repouso e a lentidão do movimento. Lembrando que, usualmente, a doença de Parkinson começa só de um lado do corpo. Com a evolução, ela pode se tornar bilateral e envolver os dois lados”, aponta.
Depois de diagnosticado o Parkinson, a primeira linha de tratamento é baseada no uso de medicamentos que façam a ação da dopamina. O médico explica que inicialmente o medicamento funciona muito bem, e o paciente se mantém estável. O problema é que à medida que a doença progride, a duração do efeito desses medicamentos no organismo torna-se pequena, de três a quatro horas.
“A pessoa toma o medicamento, faz uma boa resposta, mas como não tem mais aquele neurônio que armazena dopamina, vai perdendo efeito. Isso ocorre na fase em o paciente começa a ter o que chamamos de flutuações motoras. É um liga e desliga, um estado on e off, pela terminologia médica usada”, destaca Reider.
No estado on, a pessoa está ligada, com bons movimentos, praticamente com os sintomas controlados. Passadas algumas horas, no off, ela começa a ficar mais lenta, a caminhar com os pés arrastados e há uma exacerbação do tremor. É para esses casos de flutuação que o médico salienta que a cirurgia é indicada. “Para essas pessoas que respondem bem à medicação, mas ela não se mantém por muito tempo no organismo, a cirurgia pode ser alternativa”, explica.
A cirurgia também é indicada para pacientes que tomam a medicação, mas não conseguem manter uma coordenação de movimentos. Nesses pacientes, a cirurgia também traria benefício, porque o estimulador funcionaria sem provocar os paraefeitos que o remédio pode ocasionar.
Ainda, segundo o médico, não são todos os pacientes que vão ter um bom benefício cirúrgico ou, eventualmente, a cirurgia pode não conseguir atingir o objetivo adequado. Existe também uma série de contra-indicações à cirurgia como, por exemplo, sintomas não motores ou pessoas que já atingiram um estágio avançado do Parkinson, com complicações cognitivas como prejuízos da memória.
Principal causa da doença ainda é desconhecida
De acordo com o Dr. Carlos Reider, a maioria dos casos de Parkinson não tem origem genética e a principal causa ainda é desconhecida. “Muitos apostam em questões ambientais, pois a doença de Parkinson é mais comum em quem esteve exposto a herbicidas, pesticidas ou trabalhou em indústrias de metais pesados”, explica o médico.
Dessa forma, a prevenção se baseia em evitar contato com produtos como agrotóxicos, pesticidas, solventes e outros químicos ou metais pesados. “É algo cada vez mais difícil nos dias de hoje evitar alimentação com agrotóxicos. Mas, quanto melhor o ambiente, menor o risco da doença de Parkinson”, aponta Reider.