Meningite: entenda a doença que matou neto de Lula

Aos sete anos. Falecimento de criança causou temor quanto a enfermidade que é transmitida pela via respiratória

Quando foi confirmada a morte de Arthur Lula da Silva, de apenas sete anos, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o assunto tomou conta do País. Independente das questões políticas e jurídicas que envolvem o ex-presidente do Brasil, a morte de alguém tão jovem sempre choca. Arthur havia dado entrada no Hospital Bartira, em Santo André, no ABC Paulista, às 7h20min da sexta-feira e faleceu às 12h01min “devido ao agravamento do quadro infeccioso de meningite meningocócica”, segundo a assessoria da Rede D’Or São Luiz, da qual o hospital faz parte.

A meningite meningocócica é causada pela bactéria Neisseria meningitidis (ou meningococo). Existem 12 subtipos diferentes da meningocócica e, no Brasil, os principais sorogrupos circulantes (que causam a maioria dos casos) são B, C, W e Y. A casa de saúde não informou qual o tipo causou a morte de Arthur Lula da Silva.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2018, foram registradas 1.072 ocorrências de doença meningocócica no Brasil e 218 mortes. Em 2017, no mesmo período, foram 1.138 e 266, respectivamente. Já a meningite pneumocócica, causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, ou pneumococoforam, são 1.030 ocorrências e 321 mortes em 2017, e 934 e 282 em 2018. As meningites causadas por outras bactérias somaram 2.687 notificações e 339 óbitos em 2017, e 2.568 e 316 em 2018. O sorogrupo C é o principal causador de doença meningocócica no Brasil, responsável por cerca de 60% dos casos.

Paulo Ernesto Gewehr Filho, coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento. Foto: reprodução internet

A vacina é a forma mais eficaz de proteger contra a meningite bacteriana, mas, não é possível afirmar se Arthur estava ou não vacinado porque a taxa de proteção da imunização varia em cerca de 80% e porque, uma vez que há vários tipos de meningococo, a imunização não cobre todas as formas da bactéria. Porém, a imunização é a melhor prevenção, já que protege contra os principais sorotipos de meningococo, de pneumococo e de outra bactéria, a Haemophilus.

Para o principal meningococo que circula no País, o do sorogrupo C, há vacina na rede pública. As crianças são obrigadas a tomá-la, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Porém, como tem crescido com outras imunizações oferecidas gratuitamente, há casos em que os pais não levam os filhos para serem vacinados. Um risco, alertam todos os especialistas. Em entrevista concedida ao Jornal Ibiá em julho de 2018, o infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho, coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento destacou a necessidade de levar o calendário vacinal a sério.

Ele citou o fenômeno da não iminização lembrando que “as vacinas sofrem do sucesso da sua eficiência” e diz que isso se trata de um ciclo, de três fases, já observado em outros países. “São três fases que se iniciam com local carente, com muita incidência de doença. Daí, ao longo do tempo, o país se organiza para erradicar a doença através de um programa de vacinação. Os índices melhoram, a mortalidade infantil cai. E a população, sem mais temer aquela doença passa a descuidar da imunização. E as doenças retornam”, diz Paulo Ernesto.

O que é a meningite?
As meninges são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. A meningite ocorre quando há uma inflamação nas meninges – as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal – causada por micro-organismos, alergias a medicamentos, câncer e outros agentes.

Entre os agentes infecciosos, as meningites bacterianas e as virais são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública e também as que causam mais preocupação, devido a sua magnitude, capacidade de causar surtos e, no caso da meningite bacteriana, devido à sua maior gravidade.

Conheça o calendário obrigatório de vacinação
O calendário nacional de vacinação é composto por 17 vacinas, cada uma com seu esquema de idade, intervalos e doses diferenciado.

BCG – deve ser feita o mais precoce possível, em recém nascidos com peso acima de 2 kg. Protege contra as formas graves de tuberculose.
Pneumocócica 10V – Feita em esquema de 2 doses, aos 2 e 4 meses de vida. Reforço aos 12 meses mas podendo ser aplicado até 5 anos incompletos. Protege contra 70% das doenças graves causadas por 10 tipos de pneumococos (pneumonia, meningite, otite, etc).
Rotavírus – Feita em esquema de 2 doses, aos 2 e 4 meses. O bebê pode receber a primeira dose somente até completar 3 meses e 15 dias. Se ao atraso for maior, o bebê acaba perdendo essa vacina.
Polio inativada (VIP) – Vacina contra Poliomielite, Injetável. Feita em esquema de 3 doses, aos 2, 4 e 6 meses de vida.
Pentavalente – Feita em 3 doses, aos 2, 4 e 6 meses de vida. Protege difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e doenças causadas pela bactéria Haemophilusinfluenzae tipo B (Hib).
Meningocócica tipo C – Feita em 2 doses, aos 3 e 5 meses de vida. Reforço aos 12 meses, podendo ser aplicado até os 5 anos incompletos. Protege contra a meningite e doença meningocócica, que pode causar surdez, epilepsia e até a morte.
Febre amarela – Feita em dose única, aos 9 meses de vida. Protege contra a doença Febre amarela. Pode ser aplicada até 60 anos incompletos. A partir desta idade, necessário liberação médica para aplicação.
Tríplice Viral – Protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Dose inicial aos 12 meses de vida. Se o esquema for feito entre 12 meses e 5 anos incompletos: 2 doses, sendo a primeira com a tríplice viral e a segunda dose coma tetra viral, agregando a varicela no composto. Se o esquema fora feito após 5 anos até 29 anos: fazer com 2 doses de tríplice viral. Se o esquema for feito entre 29 e 49 anos: 1 dose de tríplice viral.
Tetra viral – protege contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela. Utilizada como complemento de esquema da tríplice viral, podendo ser aplicada somente se a criança já tiver recebido uma dose de tríplice viral. Aplicada de 15 meses a menores de 5 anos.
DTP – protege contra difteria, tétano e coqueluche. Utilizada como reforço aos 15 meses e 4 anos. Idade máxima para o reforço 7 anos incompletos.
Hepatite A – dose única, aos 15 meses de vida, podendo ser aplicada até 5 anos incompletos. Protege contra a hepatite A.
Polio Oral (VOP) – protege contra a poliomielite. Aplicada como reforço aos 15 meses e aos 4 anos. Vacina conhecida pelas “gotinhas”.
Varicela – integrada ao calendário vacinal em 2018, em dose única, para crianças de 4 anos a 7 anos incompletos.
HPV– Protege contra a infecção pelo papilomavírus, agente causador de diversos tipos de câncer de útero, pênis, garganta, entre outros. Feita em 2 doses, com 6 meses de intervalo entre elas. Meninos: de 11 a 15 anos incompletos. Meninas: de 9 a 15 anos incompletos. Caso o intervalo entre uma dose e outra ultrapasse os 6 meses, não há prejuízo para o adolescente. O esquema deve ser completo para que haja imunização.
Dupla Adulto (dT) – Protege contra difteria e tétano. Esquema de 3 doses e reforços a cada 10 anos ou em caso de exposição em acidentes graves com último reforço feito há mais de 5 anos.
dTpa – Protege contra difteria, tétano e coqueluche, indicada para gestantes a partir de 20 semanas de gestação. Importante ressaltar que os anticorpos dessas doenças serão transmitidos ao feto. Deve ser feita em todas as gestações.
Hepatite B – Recém-nascidos recebem a primeira dose imediatamente após o nascimento, ainda no hospital. Demais doses encontram-se na vacina pentavalente para as crianças ou separadamente para as demais faixas etárias. Esquema único de 3 doses, com intervalos 0, 1 mês e 6 meses.

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