Criada em 2014, a campanha Janeiro Branco é uma iniciativa voltada à conscientização sobre a importância da saúde mental e emocional. Com 11 anos de existência, a ação ocorre estrategicamente no primeiro mês do ano, período em que muitas pessoas estão refletindo sobre suas metas, analisando a vida pessoal e avaliando seus objetivos. O psicólogo Gabriel Lampert diz que o início do ano é um momento que favorece reflexões, não apenas no âmbito pessoal, mas também nas relações familiares, intensificadas pelas festividades do final de ano. Aproveitando essa predisposição, o Janeiro Branco busca trazer o debate sobre a saúde mental para o centro das atenções, em um contexto onde essa questão é frequentemente negligenciada.
Em entrevista ao programa Estúdio Ibiá, Lampert explicou importantes aspectos relacionados ao tema Saúde Mental. Segundo ele, a campanha desenvolvida neste mês tem como foco principal a “psicoeducação”, termo utilizado na psicologia e na psiquiatria para descrever a prática de educar as pessoas sobre suas emoções, a importância de buscar ajuda profissional e a superação do estigma que associa problemas emocionais à fraqueza. Essa conscientização é fundamental para que mais pessoas reconheçam a necessidade de cuidados com a saúde mental e se sintam encorajadas a buscar apoio.
Além de promover debates e orientações, o Janeiro Branco reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à saúde mental. A ação destaca a importância de leis que garantam o acesso a tratamentos, serviços e informações sobre o tema. Segundo Lampert, o aumento nos transtornos mentais observado nos últimos anos, especialmente após a pandemia, torna essa conscientização ainda mais urgente.
Fatores que podem gerar transtornos mentais
No Brasil, transtornos mentais como ansiedade e depressão estão entre os mais comuns. Segundo Gabriel, 9,3% da população brasileira sofre de ansiedade e os casos de depressão aumentaram 25% após a pandemia, colocando o país entre os com maior prevalência desses transtornos no mundo.
Lampert destaca que, embora questões financeiras e a busca por sucesso estejam entre as demandas atuais nos consultórios psicológicos, problemas relacionados a relações interpessoais e padrões de comparação também aparecem com frequência. A pressão social por alcançar metas intangíveis e a constante comparação com os outros têm contribuído para o aumento dos transtornos mentais.
Redes sociais e sua influência na saúde mental
As redes sociais têm exercido um impacto significativo na saúde mental das pessoas, segundo o psicólogo Gabriel Lampert. Embora ofereçam benefícios, como a possibilidade de comunicação à distância e a conexão com pessoas queridas, elas também apresentam desafios que podem levar ao aumento do estresse, da ansiedade e da depressão.
Lampert observa que muitas redes sociais apresentam uma realidade idealizada, frequentemente marcada por padrões intangíveis de felicidade e sucesso. Essas plataformas exibem tanto o cotidiano de influenciadores quanto conteúdos relacionados ao desempenho profissional, criando, em muitos casos, uma pressão por perfeição. Quando os usuários internalizam esses padrões rígidos, há uma tendência de frustração ao perceberem que são metas utópicas, difíceis ou inalcançáveis.
O psicólogo destaca que a busca por atender padrões sociais pode causar sintomas emocionais e físicos, como os associados à ansiedade. Ele menciona ainda a influência de tendências digitais que reforçam ideias inflexíveis sobre felicidade, desconsiderando o equilíbrio emocional necessário para lidar com as adversidades e as variações naturais do estado mental.
Para lidar com esses impactos, Gabriel sugere que as pessoas reflitam sobre o que realmente é importante em suas vidas e avaliem se suas ações estão alinhadas com seus valores e objetivos pessoais. Ele reforça a necessidade de evitar comparações e buscar metas realistas, que sejam compatíveis com as possibilidades e desejos individuais, fugindo da pressão de padrões promovidos pelo mundo digital. É preciso desenvolver um olhar crítico sobre os conteúdos consumidos nas redes sociais, promovendo um uso mais saudável dessas plataformas e priorizando o bem-estar mental.
Sinais de transtornos psicológicos
Sinais que podem indicar transtornos psicológicos variam entre crianças, adolescentes e adultos, conforme explica o psicólogo Gabriel Lampert. Ele destaca a importância de reconhecer essas manifestações e buscar ajuda profissional caso tragam prejuízos no dia a dia.
No caso das crianças, o especialista explica que a maturação cerebral ainda está em desenvolvimento, o que faz com que lidem de maneira diferente com as emoções. Sinais como aumento da irritabilidade e agitação podem indicar dificuldades emocionais. Se esses comportamentos se tornarem frequentes e prejudicarem a funcionalidade no dia a dia, é recomendável procurar um especialista.
Entre os adolescentes, é comum o surgimento de sintomas associados à ansiedade. Quando tais sintomas começam a comprometer atividades rotineiras, também é necessário buscar ajuda psicológica.
Para os adultos, alguns sinais de alerta incluem irritabilidade frequente, isolamento social, perda de prazer em atividades antes apreciadas, dificuldades para dormir, problemas de memória e atenção, sudorese e dores de cabeça recorrentes. Esses sintomas, embora comuns em muitos transtornos psicológicos, não devem ser generalizados, mas podem indicar a necessidade de uma avaliação mais detalhada.
Lampert ressalta que, mesmo sem um diagnóstico fechado, o acompanhamento profissional pode ajudar a entender melhor os sintomas e estruturar um tratamento adequado. A identificação precoce desses sinais é essencial para promover o bem-estar e prevenir o agravamento de condições psicológicas.
Como identificar se uma pessoa tem TDAH ou ansiedade
Distinguir Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) de ansiedade exige uma avaliação detalhada, realizada por meio de um processo chamado avaliação neuropsicológica. Esse procedimento combina entrevistas estruturadas com familiares e uma bateria de testes para analisar funções como inteligência, atenção, memória e funções executivas, explica o psicólogo.
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta antes dos 12 anos. Ele não desaparece com o crescimento, mas seus sintomas podem ser manejados. Durante a avaliação, são analisados os critérios diagnósticos e investigadas as raízes dos sintomas, como desatenção, que também podem aparecer em casos de ansiedade ou depressão.
Lampert explica que a ansiedade e o TDAH compartilham algumas características, como dificuldades de concentração. No caso da ansiedade, o funcionamento cerebral altera a atividade da amígdala, uma região do cérebro associada às respostas de luta ou fuga. Isso faz com que a pessoa foque excessivamente em riscos, medos e previsões, reduzindo a capacidade de atenção a outros estímulos.
Já o TDAH está ligado a processos formados durante o neurodesenvolvimento. Essas diferenças podem ser esclarecidas durante a avaliação neuropsicológica, que busca identificar a origem exata dos sintomas. Essa investigação permite diferenciar entre TDAH, ansiedade ou outras condições, possibilitando um diagnóstico preciso.
Cuidados e hábitos para quem enfrenta transtornos mentais
Práticas simples podem ajudar a enfrentar os problemas causados por transtornos mentais, como ansiedade, depressão e estresse. Tais práticas são divulgadas durante a campanha Janeiro Branco.
Entre as medidas recomendadas pelo psicólogo estão a prática de exercícios físicos, que estimulam a liberação de hormônios benéficos ao funcionamento cerebral. Outro hábito essencial é manter uma boa noite de sono. Para aqueles com dificuldade leve, a higiene do sono – um conjunto de práticas que promovem o descanso noturno – pode ser suficiente. Em casos mais graves de insônia, pode ser necessário um tratamento mais específico, como a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCCRI).
A alimentação equilibrada também é fundamental para manter a saúde mental, já que influencia diretamente no bem-estar geral. Além disso, Lampert reforça a importância de manter uma vida social ativa, que pode incluir encontros com amigos, participação em atividades de lazer e reuniões familiares.
A importância da socialização no enfrentamento de problemas mentais
A socialização desempenha um papel significativo no cuidado com a saúde mental. Gabriel observa que, atualmente, há uma redução no número de encontros sociais e na frequência com que as pessoas procuram espaços físicos para interagir, como bares e eventos sociais. Esse movimento é acompanhado pelo aumento do tempo dedicado a atividades individuais, como assistir a séries ou usar redes sociais, o que reflete uma busca por prazer imediato e acessível.
Apesar disso, Lampert reforça que interações com familiares e amigos são essenciais. Esses momentos podem funcionar como uma forma de “catarse”, permitindo que as pessoas compartilhem suas preocupações e emoções, aliviando parte da carga emocional.
Organize metas de forma contextual e mensurável
Para evitar a sensação de frustração pessoal ao se autoimpor objetivos, o psicólogo Gabriel Lampert sugere o uso da metodologia Start como ferramenta prática para alcançar metas de forma estruturada e eficiente. A abordagem, segundo ele, é cientificamente comprovada e pode ser aplicada em diversas situações, como a busca por melhorias nos estudos ou em outros aspectos da vida.
A metodologia Start é baseada em cinco etapas que orientam o planejamento e a execução das metas. A primeira é especificar o objetivo. Em vez de adotar metas amplas como “quero estudar mais”, o ideal é definir claramente a ação, como “vou estudar duas horas por dia”.
Em seguida, é importante definir a relevância do objetivo, ou seja, entender porque ele é significativo. Lampert destaca que associar a meta a valores pessoais aumenta o compromisso e a motivação para alcançá-la.
Outro ponto essencial é mensurar os resultados. Avaliar se as estratégias adotadas estão funcionando. Por exemplo, ao perceber que um método de estudo não está sendo eficaz, pode-se buscar alternativas mais adequadas.
O tempo também é uma variável importante. Determinar uma duração específica para a atividade, como o período em que o objetivo será trabalhado, contribui para um planejamento mais organizado e realista.
Por fim, é fundamental considerar o contexto em que a meta será executada. Lampert explica que fatores externos, como um ambiente conturbado, podem dificultar a execução do plano. Nesse caso, a flexibilidade é necessária para adaptar as ações ao cenário disponível, como estudar em uma biblioteca algumas vezes por semana.