O envelhecimento é um processo natural e contínuo, mas nem todo mundo atinge a terceira idade com a saúde mental ideal. A adoção de uma rotina de atividades para idosos é o principal passo para envelhecer não apenas com saúde, como também bem-estar. Envelhecer com qualidade de vida é fundamental e por isso cada vez mais os idosos buscam manter sua mente ativa. Mas, como e por que fazer isso? Ao longo da vida, o cérebro vai perdendo neurônios. A partir dos 40 anos começa-se a perder a capacidade de armazenamento do cérebro, e quanto antes as pessoas colocarem atividades em prática, menores as chances de futuras deficiências cognitivas, como a perda de memória. Lembre- se: nesta idade mais avançada você precisa se sentir sempre lúcido e útil no meio em que vive.
Noelia Schmidt Hack, 82, fecha 17 anos participando no Maturidade Ativa este mês e afirma que a iniciativa do Sesc com o projeto foi essencial para a comunidade idosa, destacando-o como uma ponte para uma boa qualidade de vida. Noelia participa de quase todas as atividades propostas, como a realização de trabalhos manuais com crochê, aulas de dança, canto, campeonatos de canastra, bingo, gincanas, aulas de câmbio, academia, pilates e até mesmo passeios. “Fazer parte deste grupo para mim é como uma vitamina que fortalece mente, corpo, alma e espírito, elevando minha auto-estima. Com tudo isso que faço tenho saúde, paz e alegria no coração”, destaca.
Mara Beatriz Muller da Silva, 62, também participa do grupo Maturidade Ativa. Há 10 anos como integrante, ela explica que as alterações são sentidas rapidamente no dia a dia. Ela diz que após se aposentar, sentiu o desejo de fazer alguma atividade para se entreter. “Foi aí que eu fiz um passeio para Gramado e lá encontrei um grupo da maturidade. Eles me convidaram para participar, porque tinham várias atividades. Resolvi ir, conheci e gostei”, relata. Mara participa não apenas de ações sociais com da organização de doações, mas também de bingos, aulas de dança, passeios e até mesmo gincanas.
“Sou bastante ativa no grupo e sinto que minha saúde mental e até física ficam muito bem. Gosto demais de viver em grupo e fazer amizades. Não gosto de ficar sozinha”, destaca. A senhora ainda relembra que durante a pandemia o grupo foi sua salvação. “No período mais crítico da pandemia tiveram muitas atividades on-line e eu participei de quase todas. Isso me salvou. Eu até interagi com outros grupos de maturidade, de outras cidades. Conheci amigas virtualmente. Eu estou muito bem”, conta.
A psicóloga clínica montenegrina Danuzia Silva, explica que a importância de manter a mente dos idosos ativa está relacionada ao seu bem-estar, independência relativa e interação com o meio em que vive. Por isso, entra uma questão de responsabilidade com os idosos. “Manter a mente dos idosos ativa envolve essa interação e possibilita ganhos individuais e coletivos. Nessa interação, o idoso poderá compartilhar, contribuir e estar se sentindo socialmente pertencente, ativo, aprendendo coisas novas e contribuindo com seu saber”, afirma.
Estimule a mente
Mas, afinal, como estimular a mente na terceira idade? O primeiro ponto a ser levado em consideração é a singularidade de cada pessoa, suas habilidades, gostos particulares, contexto vivido, capacidade cognitiva, limitações e possibilidades. Algumas atividades, desde as mais básicas até as mais complexas são importantes e destacadas por Danuzia, como escrever, fazer atividade física, ler, dançar, praticar yoga, crochê, hidroginástica, fazer algum curso na área de interesse, artesanatos, realizar jogos individuais ou em grupo e até mesmo manusear plantas e hortas. “Essas e outras opções de atividades que exercitem o cérebro podem ajudar a manter e estimular as funções que geralmente podem ir sendo prejudicadas com o envelhecer, como os sentidos de visão, o tato, audição, olfato e paladar; assim como a memória, a capacidade de criar e organizar coisas, questões motoras, por exemplo.
É importante salientar bons hábitos alimentares e horas de sono também são fundamentais”, ressalta.
Perda de memória pode ser evitada
Uma das maiores preocupações na terceira idade é a perda de memória. Vale lembrar que a questão envolve a atenção, armazenamento, aprendizagem e resgate de informações que são apresentados ao longo de toda a vida. O processo de envelhecimento geralmente tem alterações da memória, entretanto alguns fatores podem estar associados a acelerar e/ou causar a perda de memória. “Questões clínicas e psicológicas, como estresse, depressão, ansiedade, alterações do sono, deficiência de vitaminas e doenças neurológicas podem ser fatores. Ainda pode estar relacionada a um trauma, acidente ou uso de medicamentos sem acompanhamento médico”, pontua. Por isso, a psicóloga relembra que é de extrema importância estar atento à frequência com que os idosos procuram um profissional qualificado para analisar estas questões.
Danuzia afirma que Mara e Noelia estão no caminho certo ao realizarem as atividades destacadas, pois são alternativas muito interessantes não apenas de entretenimento, mas socialização e auxílio do exercício da mente, potencializando as questões motoras e de aprendizagem, atenção, lógica e sem dúvidas a memória. “É importante sempre avaliar o nível de dificuldade da ação realizada, aumentando à medida que irá se desenvolvendo. Com o jogo de varetas, por exemplo, o idoso irá estudar o possível movimento, a habilidade em retirar a vareta estará acrescentando algo ali, exercitando áreas diferentes da mente”, salienta a profissional.
A leitura também não fica atrás, já que a ação estimula o cérebro. “O idoso exercita a atenção, já que precisa compreender e relacionar uma coisa com outra, pode resgatar informações, fazer associações com o que leu antes, estimulando a imaginação também”, pondera Danuzia. Lembre-se: é muito importante escolher uma leitura que faça sentindo para o idoso, um assunto que goste e o nível de dificuldade também. Caso contrário pode ser desestimulante e frustrante.
A tecnologia também tem papel importante neste contexto, pois está associada como dispositivo aliado à qualidade de vida dos idosos de diversas maneiras. Danuzia destaca o uso de celulares, que com acesso à internet e uso responsável, pode auxiliar o idoso a aprender coisas novas e interagir com filhos, netos e até mesmo grupos da mesma geração. “Existem sensores de queda, assistentes virtuais e até mesmo sapatos com localizador GPS, entre outros dispositivos que podem auxiliar muito no cuidado com os idosos”, conclui.
