Na última semana, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Montenegro registrou um aumento significativo de pacientes com diarreia e vômitos. Chamado Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA), a vigilância epidemiológica faz o monitoramento dos casos de diarréia que ocorrem no município, semanalmente, onde todos os serviços de saúde passam uma planilha de casos atendidos. Patricia Barros, enfermeira da Vigilância Epidemiológica explica que, desta forma, é possível monitorar a média de casos semanais, fontes comuns de transmissão, grupos de pessoas envolvidas e gravidade da doença. A média semanal de casos registrados é 140, e na última semana foi de 245 casos, número que ainda pode vir a aumentar.
Quanto às possíveis causas, os agentes etiológicos mais frequentes são os de origem bacteriana e viral, como, por exemplo, Salmonella spp, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, rotavírus, norovírus e adenovírus. Todos circulam em nosso meio, sendo possíveis causadores. Porém, vários fatores como mudanças climáticas (exemplo o calor intenso) e contaminações podem fazer a circulação destes agentes aumentar.
Muitos internautas têm se perguntado se a contaminação pode ter relação com a água tratada em Montenegro. Segundo Patrícia, a resposta é clara. “A água é um grande meio de transmissão de doenças quando não tratada, tornando-se insatisfatória para o consumo humano. A água da rede pública passa por tratamentos e é rigorosamente monitorada. Dificilmente exista relação com a água da rede, se houvesse, teríamos um número muito superior aos registrados e em alguma área definida”, ressalta.
Até o momento, o cenário epidemiológico não se caracteriza como surto, mas a população deve estar vigilante. Patrícia explica que há casos espalhados pela cidade, com pessoas não relacionadas. “Isso nos faz acreditar que seja algum agente etiológico, que circula no nosso meio”, afirma. Ela adianta que amostras de pacientes foram enviadas ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) par análise, assim, nos próximos dias será possível ter conhecimento do que exatamente pode estar provocando o aumento de casos.
Fique atento aos sintomas
A enfermeira Patrícia Barros explica que a diarreia infecciosa se caracteriza por diminuição da consistência das fezes com o aumento do número de evacuações (no mínimo três episódios de diarreia em 24 horas). Em alguns casos, há presença de muco e sangue. Outros sintomas são náusea, vômito, febre, suor frio, perda de apetite e dor abdominal. Pode também ocorrer desidratação, principalmente em crianças e idosos. Em geral, os casos de diarreia aguda têm duração limitada e os sintomas podem persistir, em média, por uma semana. Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e gênero, pode manifestar sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas após a contaminação.
Justamente por ter como principal complicação a desidratação, a população infantil (menores de cinco anos) e idosos são os mais vulneráveis nestes quadros que podem levar ao óbito. “No caso de diarreia a pessoa deve consumir muita água e soro caseiro, se a diarreia persistir e surgir febre, vômito, dor abdominal esta deve procurar atendimento médico em uma unidade de saúde de referência”, afirma Patrícia.
Quando o quadro de diarréia vier acompanhado de mais sintomas como febre, vômitos, muco ou sangue nas fezes e não houver melhora após as 24h é essencial procurar por um posto de saúde. No caso de crianças e idosos também precisam ser levados para avaliação médica por desidratarem muito rápido.
Orientações e medidas de prevenção
Para a prevenção das doenças infecciosas gastrointestinais, há o envolvimento tanto de medidas institucionais (saneamento básico e saúde) bem como individuais, com foco em higiene básica. Abaixo, veja como prevenir o problema.
Caso não haja acesso à água potável e/ou encanada, o tratamento caseiro de água envolve filtrar (com filtro doméstico, coador de papel ou pano limpo) e ferver a água durante cinco minutos ou filtrar e tratar com solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água de consumo (neste caso, aguardar 30 minutos para utilizar). O armazenamento da água para consumo deve ser feito em um recipiente limpo e com tampa;
Utensílios e objetos devem ser higienizados frequentemente antes e/ou após o uso, tanto pessoais, como o celular, quanto de manipulação e preparação dos alimentos;
Tome banho todos os dias e evite utilizar água de rios, lagos, riachos contaminados para banho ou beber;
Consuma alimentos com maiores riscos microbiológicos de maneira apropriada. Carnes bem cozidas e seus derivados, em especial o leite, após devido processamento térmico (fervura, UHT e pasteurização); Na higienização de vegetais, utilize a esfregação mecânica e água potável. Para vegetais crus, a limpeza deve ser acompanhada pela desinfecção por molho em hipoclorito (1 col/sopa para cada litro de água);
Lembre-se: incentivar o aleitamento materno é fundamental para desenvolvimento e maturação do sistema imunológico das crianças, sempre referenciado pelas Diretrizes de alimentação dos primeiros anos de vida.
Lave frequentemente as mãos após troca de ambientes (rua-casa); antes e após troca de fraldas; após contato com animais; antes e após preparar comida; antes de comer e alimentar crianças; antes e após o cuidado com pessoas idosas e imunocomprometidas e após o uso do banheiro;
Benefícios comprovados da fervura da água
• Eliminação de microrganismos: a fervura é uma medida eficaz para destruir bactérias, vírus e outros patógenos presentes na água, tornando-a segura para consumo;
• Redução de toxinas: o processo de fervura em altas temperaturas pode diminuir a concentração de toxinas, como cloro e metais pesados, presentes na água;
• Eliminação de microplásticos: estudos indicam que apenas cinco minutos de fervura podem eliminar até 90% dos microplásticos presentes na água, protegendo assim a saúde humana.
Precauções e orientações importantes
• Tempo adequado de fervura: recomenda-se ferver a água por no mínimo dois minutos em altitudes superiores a 2.000 metros e por cinco minutos em altitudes mais baixas para garantir a eficácia do processo;
• Ebulição vigorosa: certifique-se de que a água atinja uma fervura vigorosa e mantenha essa condição pelo tempo recomendado para assegurar a eliminação completa de contaminantes;
• Resfriamento adequado: após a fervura, deixe a água esfriar antes de consumí-la para evitar queimaduras;
• Utilização de filtros e purificadores: além da fervura, o uso de filtros e purificadores de água pode oferecer camadas adicionais de proteção contra contaminantes.
Água potável segura
Em meio à crescente preocupação com a qualidade da água potável, um hábito aparentemente antiquado como ferver a água ganha relevância. Um estudo recente levanta alertas sobre a presença de microplásticos em águas engarrafadas e de torneira em todo o mundo, destacando a necessidade de medidas preventivas.
Embora ferver água possa parecer um método simples, sua eficácia na eliminação de microrganismos, toxinas e microplásticos a torna uma prática essencial para garantir a segurança e a saúde, especialmente em um contexto de crescente preocupação com a qualidade da água potável.