Conscientização é principal desafio para diminuir a espera pelo transplante

Demora. Professora aguarda na fila do transplante há quatro anos

Há sete anos a professora aposentada Elisabete Kauer Honig convive com a dor e o desconforto nos olhos em razão da doença Fuchs, conhecida como distrofia de córnea. O diagnóstico veio após uma consulta com sua médica oftalmologista. Na época a doença se apresentava ainda em fase inicial e o tratamento indicado foi à base de colírios.

Mas com o passar do tempo, o quadro da doença acabou piorando e há cerca de quatro anos dona Elisabete teve que ingressar na fila do transplante de córnea. “Meu olho direito começou a ter horas que parecia que estava cheio de espinhos, e eu ficava desesperada. Fui na oftalmologista e ela me disse que tinha criado micro bolhas na córnea do meu olho direito. Então tive que passar a usar uma lente especial, porque ela é uma proteção para que a pálpebra não fique raspando naquelas bolhas”, conta.

Com o agravamento da doença, dona Elisabete teve também a sua rotina alterada, tendo que deixar de fazer coisas que se dedicava, como o artesanato com decoupage. “Hoje pra eu ir na rua só com óculos de sol. Dentro de casa também, se eu ligo a luz eu tenho que usar o óculos de sol. Por isso, eu deixo tudo mais no escuro, que é o que eu consigo aguentar”, relata.

A esperança da professora aposentada agora está na realização do transplante. Hoje dona Elisabete é a paciente número 317 na fila de espera. A oftalmologista Andréia Noal Polett, uma das profissionais que atende dona Elisabete, explica que a lista de espera para o transplante é única para uma região ou Estado, a fim de promover o acesso ao transplante para todos os pacientes de forma justa, independente de condições econômicas, evitando favorecimentos. “Esta lista funciona respeitando uma ordem cronológica de ingresso. Quem entra antes será atendido primeiro”, destaca a médica.

No entanto, existem casos especiais, nos quais é possível acelerar o transplante de córnea. Nos chamados casos urgentes, existem critérios para permitir o acesso mais rápido ao procedimento. “É o caso de pacientes com perfurações oculares e infecções graves, sem resposta ao tratamento clínico”, explica a médica.

Doação de córnea
Segundo a oftalmologista Andréia Noal Polett, o transplante de Córnea é uma cirurgia que consiste em substituir uma porção da córnea doente de um paciente por uma córnea saudável, a fim de melhorar a visão ou corrigir perfurações oculares. Mas o que diferencia esse tipo de transplante para os demais é quem pode doar o órgão. De acordo com a médica, como em todo transplante, a córnea vem de pessoas que faleceram e as famílias autorizaram a doação. Os Bancos de Olhos são as instituições responsáveis pela retirada, transporte, avaliação, classificação, preservação, armazenamento e disponibilização dos tecidos oculares doados.

Dra. Andréia Noal Polett

Mas o diferencial está em quem pode doar. “A vantagem da córnea em relação aos outros órgãos transplantados é que é possível a captação até seis horas após a morte de um indivíduo”, destaca Dra. Andréa. A médica explica ainda que a doação pode ser feita por qualquer pessoa que queira doar seus órgãos após a morte e ajudar outras quem sofrem de problemas visuais. Mas para a córnea ser usada no paciente, antes, é realizado um controle rigoroso do Banco de Olhos com relação à qualidade do órgão, a fim de evitar a transmissão de doenças infecciosas e para assegurar a boa qualidade do tecido doado.

A médica explica que o transplante é indicado para pacientes portadores de diversas doenças, entre elas as principais são: Ceratocone; Degeneração Marginal Pelúcida; Distrofias Corneanas; Distrofia de Fuchs; Infecções Corneanas Graves; Leucomas e Perfurações Oculares. Para Dra. Andréa, apesar do número de transplante de córnea ter crescido nos últimos anos no Brasil, ainda é insuficiente em relação ao número de pessoas que esperam por essa cirurgia. “Algumas pessoas estão hoje praticamente cegas e, após a cirurgia, vão poder voltar a levar uma vida normal. O desafio é a divulgação e explicação da importância da doação após a morte. O índice de recusa familiar ainda é o fator preponderante para o número tão reduzido de doações e, consequentemente, aumento da fila de espera por órgãos”, diz a oftalmologista.

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