Caso do menino José trouxe à tona problemas na rede
O caso do menino José Adão de Oliveira, morto após longa espera por leito de UTI pediátrico e o transporte especializado até o Hospital Universitário de Canoas, gerou revolta. Nas redes sociais, acabou evidenciando várias queixas da comunidade sobre o atendimento da Saúde em Montenegro. Dentre as pautas levantadas, destacam-se dificuldades para conseguir marcar consultas na rede municipal, críticas ao atendimento oferecido, falta de medicamentos e a longa espera para a realização de cirurgias. O tema também repercutiu na Câmara de Vereadores.
“Eu já estou há um mês tentando consulta com o pediatra no posto da Germano”, conta a montenegrina Samanta Basilio, que tem um casal de filhos – um menino de quatro anos e uma menina de dois anos e meio. “A agenda dele abre nas terças, às 14h. Eu comecei a ligar antes e já dava ocupado. Às 14h06, eu consegui a ligação e já tinha ido as doze fichas. A quem recorrer se na Assistência não agendam porque não é zoneamento e no posto não conseguimos? Nós, pais, nos vemos de mãos atadas.”
Moradora do Passo da Amora, no interior, a dona de casa Claudia Marisa Rodrigues Nunes narra dificuldade para conseguir consulta ginecológica. “Eu ligo pra agendar, mas não consigo. Falei com uma responsável pelo setor. Ela falou que é pra ir lá bem cedo, tipo às seis horas, pois a marcação é a partir das 8h. Mas como vou fazer se o primeiro ônibus é só às 7h20?”, relata. Já o montenegrino Luis Britto conseguiu a consulta para o pai, que fez exames, mas agora precisa aguardar vários dias para que a médica olhe os resultados no posto de Saúde do Santo Antônio. “Faz duas semanas que os exames estão ali”, expõe.
O episódio com o menino José Adão trouxe à tona outras queixas ao fluxo de atendimento. “Quando se vai na Assistência, médicos dão apenas paracetamol e mandam procurar o posto de saúde. Aí você tenta uma consulta e demora para conseguir agendar. Às vezes, quando se consegue a consulta, o problema já se agravou”, lamenta Elizabete Azevedo. Moradora da localidade de Costa da Serra, Gessi Machado Gonçalves aponta para a longa espera no pronto atendimento. “Eu fui com a minha bisnetinha no posto e fiquei duas horas esperando, levando ela toda hora no banheiro para vomitar, e eles disseram que estavam atendendo primeiro só quem tinha febre”, conta.
Secretário de Saúde aponta crescimento da demanda
Procurado através da Assessoria de Comunicação da Prefeitura, o secretário de Saúde de Montenegro, Rodrigo Streb, garantiu que estão sendo buscadas soluções aos problemas. Ele aponta que a procura pelos serviços da rede municipal aumentou muito; algo que, em sua avaliação, é resultado de uma demanda reprimida gerada pelos dois anos de pandemia, quando alguns munícipes deixaram de realizar consultas. É o que estaria aparecendo, agora, de forma mais intensa.
“Estamos buscando soluções para sanar e atender melhor aos usuários”, garante. Está sendo estudada a viabilidade de compra de novas linhas telefônicas e a criação de uma central de marcação de consultas. Além disso, deve ocorrer a contratação de mais médicos no Município.
Streb ainda falou da falta de medicamentos nas farmácias, outra queixa que surgiu nos últimos dias. “Alguns itens adquiridos pelo Município e também pelo Governo do Estado estão em falta porque não foram entregues pelos laboratórios. Eles alegam falta de insumos, mas o problema deve ser resolvido em breve”, traz.
Vereador sugeriu CPI da Saúde na Câmara
O caso de José Adão e as reclamações sobre a Saúde chegaram à Câmara de Vereadores. Na quarta-feira, 27, Paulo Azeredo (PDT) provocou a formação de uma Frente Parlamentar da Saúde – grupo que, por sua iniciativa, foi criado ano passado, mas ainda não foi constituído. “A frente tem o poder de ouvir entidades, fazer reuniões, audiências públicas. A busca é pautarmos algo para melhorar, do atendimento nas UBS’s, nos hospitais, das consultas, das cirurgias que não estão acontecendo”, declarou. O pedetista também requereu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a morte do menino e denúncias de problemas na rede de Saúde. O requerimento tem a assinatura de Camila Oliveira (Republicanos), mas precisaria de mais duas para formalizar a formação.
O vereador Talis Ferreira (PP), que é presidente da Casa, defendeu que o primeiro passo é unir as partes envolvidas em uma reunião que norteie a busca por soluções. Aprovado o requerimento na quinta-feira, 28, o agendamento do encontro deve ser feito em regime de urgência. “Está na hora de sentarmos todos os envolvidos na questão Saúde para debatermos Saúde. Nós temos que gastar essa energia em busca de soluções”, disse na última sessão ordinária. Uma das defesas do parlamentar é a criação de um leito pediátrico no Hospital Montenegro 100% SUS.
Funcionário público na secretaria de Saúde, o vereador Sérgio Souza (PSB) usou a tribuna quinta-feira e confirmou que a demanda por atendimentos vem crescendo. Ele atribui a constatação a dificuldades econômicas de famílias que deixaram planos de saúde privados e migraram para o SUS; mas defende que há esforço da pasta em prol de soluções. “Nós temos cobrado o secretário todos os dias. A comunidade está ansiosa por isso”, declarou.
O parlamentar disse entender que, ao invés de CPI, caberá ao Ministério Público investigar o caso do menino José Adão. Falando da Saúde em geral, Souza ainda criticou a fila pela realização de cirurgias entre os montenegrinos; e como algumas, como as de catarata, têm que ser realizadas fora do Município, não no Hospital Montenegro. Em sua fala, Camila foi ao encontro da pauta. “Se o recurso está sendo repassado, porque é que as cirurgias não estão sendo feitas?”, questionou a vereadora.
Ao Jornal Ibiá, o diretor executivo do Hospital Montenegro esclareceu que ainda é grande a demanda reprimida por cirurgias eletivas a serem realizadas; resultado do período da pandemia. “O Hospital não tem estrutura física para ter tanta sala de cirurgia e darmos conta disso tudo. Nós temos contrato de que é para fazer 72 cirurgias eletivas por mês e elas são divididas em várias especialidades. Teria que aumentar o número de cirurgias que o hospital tem no contrato – para isso precisa ter mais recurso – e montar alguma estratégia com os municípios”, aponta. Sobre a crítica do vereador Sérgio Souza, Batista explica que, há anos, os municípios definiram que o serviço de oftalmologia seria centralizado no Hospital de Portão.