Nos últimos dias, a notícia de que o jogador de futebol Jean Pyerre, de 23 anos de idade, meio campista do Grêmio, está com câncer testicular repercutiu no Brasil inteiro. O assunto, ainda considerado um tabu entre os homens, é delicado, mas sério e muito necessário. Pyerre tinha chegado ao time Girensunspor, da Turquia, para cumprir um período de empréstimo de 15 meses e o câncer foi detectado em exames requisitados pelo clube de futebol. De acordo com anúncio feito em seu Instagram, o atleta volta ao Brasil para realização do tratamento em Porto Alegre.
No vídeo publicado pelo jogador, ele tranquiliza os seguidores e agradece pelo apoio. “Eu estou bem. Não tem nada demais. Claro que a palavra assusta, pega de surpresa. Eu fui pego de surpresa. É uma situação delicada. Me desejaram força e só agradecer a todos. Vou cuidar um pouco de mim e focar na minha saúde para estar de volta o mais rápido possível. Obrigado pelo carinho”, declarou.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o tumor de testículo corresponde em 5% do total de casos de câncer entre pessoas do sexo masculino, além de ser facilmente curado quando detectado precocemente e apresentar baixo índice de mortalidade. Mesmo casos avançados, com metástases fora do testículo, têm um bom índice de cura através de quimioterapia e radioterapia.
João Waldir Kleber, urologista montenegrino, afirma que apesar de raro, este câncer preocupa por ter sua maior incidência entre homens em idade produtiva, entre 15 e 50 anos de idade. Ele explica que nesta fase, o câncer pode ser confundido com uma inflamação na área. Ter histórico familiar deste tumor é um dos fatores que aumentam o risco de incidência do câncer, assim como ter história prévia em testículo contralateral; infertilidade; criptorquidia, que é a não descida de um ou dois testículos para a bolsa escrotal e trabalhadores expostos a agrotóxicos.
Exames periódicos e o diagnóstico precoce
Segundo Waldir, o câncer se manifesta através de um nódulo endurecido ou pelo aumento de tamanho do testículo. Por isso, adianta: a melhor medida preventiva é o autoexame. “Na hora do banho, verifique se existe algum nódulo ou endurecimento em algum dos testículos. Uma visita periódica ao urologista também ajuda a tirar dúvidas”, destaca. O tumor costuma ser silencioso e muitas vezes é descoberto de forma acidental em exames de rotina, como o caso do jogador.
A detecção precoce do câncer através de exames periódicos é a principal estratégia para encontrar o tumor em fase inicial e possibilitar uma maior chance de tratamento. “O exame crucial para avaliar alterações no testículo é a ecografia. Também existem exames de sangue que permitem saber se existe alguma alteração na função testicular”, complementa o urologista. Ele reitera a importância da realização dos exames preventivos na adolescência. “Isso porque nesta faixa etária ocorrem poucas doenças graves e muitas vezes os exames são esquecidos.” Em fases mais avançadas, sintomas e sinais de metástases podem estar presentes, como falta de ar, massa abdominal e emagrecimento.
Waldir destaca que os homens devem, finalmente, vencer a barreira que, ainda em muitos casos, os impedem da realização de exames preventivos ou até mesmo simplesmente falar sobre o assunto. “O constrangimento que alguns adolescentes e até adultos têm para falar ou consultar o médico quando suspeitam de alguma alteração na área genital deve ser superado. Esconder o problema é uma péssima ideia, porque pode fazer com que o tratamento inicie tarde demais”, ressalta o médico.
O que acontece após a descoberta?
Após descoberta do câncer, é preciso realizar uma cirurgia relativamente simples com a retirada do testículo afetado. “Se o outro testículo estiver normal, o homem vai ter vida normal, tanto no desempenho sexual como na fertilidade. Pode ter filhos sem problemas”, suaviza. Waldir explica que após a retirada, se não houver metástases, o paciente já estará curado.
Por outro lado, se houver lesões em outros órgãos, será necessário fazer radioterapia e quimioterapia. “Mesmo neste caso o índice de cura é de 95% dos pacientes.” O urologista explica que se o homem tem uma evolução gradual para um quadro mais grave, há a alternativa de retirar seu sêmen enquanto ainda está fértil para que ele seja capaz de gerar filhos no futuro.
Depois da retirada do testículo, a biópsia é feita para que os médicos descubram o subtipo do tumor. Pode ser seminoma, que tende a se espalhar mais lentamente, ou não-seminoma, que são mais agressivos, mas menos frequentes. No caso do atleta Jean Pyerre, até o momento, não foram divulgadas características específicas sobre o quadro.