A realização de exercícios físicos regularmente, além de contribuir para a melhora na qualidade de vida no dia a dia, ainda diminui o risco do desenvolvimento de diversas doenças, inclusive o câncer de mama. Mas, e quando já se teve o diagnóstico e já realizou a cirurgia? Nestes casos, os exercícios têm papel importante não apenas na manutenção do condicionamento físico, como também na recuperação das pacientes.
“São fundamentais no processo de reabilitação da paciente que é submetida ao tratamento para o câncer de mama, tanto em relação à parte física, como também na parte psicológica e emocional. Assim que a fisioterapia, que é realizada desde o pós-operatório precoce, reabilita e recondiciona a paciente a realizar os movimentos que fazia antes do tratamento cirúrgico, o exercício físico é a próxima etapa da reabilitação”. É o que explica o mastologista Túlio Farret. Ele afirma que no âmbito emocional e psicológico, a atividade física tem função também de reabilitar a auto-estima. “A paciente percebe-se retornando a sua vida normal, com a condição física que precedia a cirurgia, e muitas vezes, alcançando uma condição melhor que a anterior, pois está motivada a mudar para um estilo de vida mais saudável”, pontua.
Fisioterapia e exercício físico fazem parte da recuperação
A fisioterapeuta Eliane J. Finger Mossmann tem especialização em Oncologia e trabalha junto de Farret, apenas com a reabilitação de pacientes pós-cirurgia de mama. “Percebo que as pacientes que já tinham o hábito de realizar atividades antes da cirurgia têm uma reabilitação muito mais rápida”, destaca. Ela explica que na fisioterapia, dentre os recursos que podem ser utilizados, existe a cinesioterapia, que conta com exercícios terapêuticos que tem o objetivo de restaurar e/ou otimizar determinado movimento. “Este recurso tem papel fundamental, pois grande parte das pacientes apresenta queixas de dor e dificuldade para realizar movimentos com o braço do lado operado. Mas, a fisioterapia não é baseada somente nisto. Existem diversas condutas realizadas, que são determinadas a partir da avaliação inicial e evolução da paciente”, explica.
Eliane ressalta que cada caso necessita desta avaliação fisioterapêutica detalhada, onde realiza a coleta de dados históricos da paciente, por exemplo, sobre a abordagem cirúrgica realizada; se houve ou não reconstrução da mama ou se irá realizar mais algum tratamento, seguida, ainda, de uma avaliação física, para só assim traçar condutas terapêuticas específicas. Estas avaliações são essenciais já que Eliane trabalha com clientes em diversos estágios de tratamento, não só pacientes no pós operatório. “Recebo alguns em tratamento quimioterápico e/ou radioterápico, que apresentam disfunções que também podem ser tratadas na fisioterapia, como alteração de sensibilidade, síndrome da rede axilar, radiodermite, entre outros”, pontua.
A profissional explica que cada atendimento é realizado de forma individual. “A primeira pergunta que normalmente me fazem é “quantas fisioterapias achas que seria bom eu fazer?”. Eu sempre explico que não existe um número exato, que não é receita de bolo. Cada caso é um caso e cada pessoa é única, que responde a um contexto de forma diferente. “Utilizo condutas de terapia manual, fotobiomodulação, orientações, dentre outras que haver necessidade. Busco orientar minhas pacientes quanto a cuidados e exercícios domiciliares, durante o acompanhamento fisioterapêutico e mesmo após a alta, para assim darem seguimento a reabilitação”, destaca.
Exercícios são recomendados, mas com orientação
A fisioterapeuta Eliane afirma que muitas pessoas ainda têm a ideia de que não devem movimentar o braço logo após a cirurgia, porém, já se sabe que se estes movimentos forem realizados com orientação e de forma segura, auxiliam no processo de recuperação. “Nestes casos, busco recomendar que inicie sempre deitada, para a região das escápulas estarem apoiadas e estabilizadas e que, nos primeiros 15 dias após a cirurgia a paciente realize movimentos de 90º de flexão e abdução de ombro”, explica. Ou seja, levantar o braço para a frente e para o lado, somente até estar alinhado com o ombro, não acima disso, para não tracionar a cicatriz, nem o dreno e assim, evitar complicações.
Passado o período dos 15 dias, se não houver nenhuma complicação, a orientação da profissional é a tentativa de aumento dos movimentos, dentro de um limite que não tenha dor e sem cargas: movimentando apenas os braços. A recomendação é realizar movimentos que estimulem a região de ombro, mexendo também a região de cotovelo e punho. Vale ressaltar que a recuperação de pacientes pós cirurgia é importante, mas nunca sem auxílio de algum profissional capacitado.
Eliane não recomenda exercícios com carga nos primeiros 45-60 dias após a cirurgia. “Sempre digo: não quer dizer que não possa tirar uma louça da mesa, ou lavar uma xícara, mas não abuse. Contra indico neste período estender roupas pesadas no varal; pegar utensílios pesados, como uma panela de ferro; ou varrer a casa. Mas, isso é só por um período”, pontua. Ela lembra que a retirada da mama não é contraindicação absoluta para realização de treinos em academia ou outra atividade que seja do agrado de cada paciente, somente é preciso respeitar as fases deste processo de recuperação.