Durante todo o esse mês, assuntos de muita relevância foram tratados dentro da campanha do Outubro Rosa, como a importância do diagnóstico precoce, prevenção primária e secundária, sintomas, cuidados e tratamentos. Primeiro, deve-se lembrar sempre que o câncer de mama não pode estar em foco apenas no mês de outubro. Cuidados, auto-exame e atenção ao próprio corpo devem fazer parte da vida de toda mulher e os alertas sobre a doença sempre evidenciados. Para fechar a campanha com chave de ouro, é fundamental que estejam em pauta histórias de superação de mulheres que nunca desistiram ou perderam a fé durante a luta travada contra esta doença, que é a segunda que mais acomete mulheres no Brasil.
Maria de Lourdes Krauspenhar, 70, trabalha em Montenegro há muitos anos e foi diagnosticada com câncer de mama aos 53 anos de idade. Ela conta que a descoberta foi um grande choque, que mudou sua vida. “Hoje, com 70 anos e mesmo após tanto tempo dada como curada, faço sempre o auto-exame, as consultas regulares e exames preventivos para garantir minha saúde e tranquilidade”, pontua. “Sem medo e com muita fé sigo em frente e faço um alerta a todas as mulheres que não deixem de lado esses cuidados que eu tomo, porque o câncer de mama tem cura desde que seja diagnosticado precocemente”, destaca.
“Eu senti o pavor de não saber o que viria a seguir”
A montenegrina Cátia Jocelaine da Rosa da Motta, 36, é outro exemplo de guerreira. Durante um auto-exame no final de 2019 ela descobriu o câncer. De fevereiro para março de 2020 o diagnóstico foi comprovado. Cátia destaca ponto importante: teve o diagnóstico com 34 anos, bem antes da idade que começam a rastrear, já que é recomendado o rastreamento na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos. “Eu senti muito medo na hora do diagnóstico porque é tudo desconhecido e você não tem o controle de nada. Senti o pavor de não saber o que viria a seguir. Coisas do tipo se iria ter que operar ou não, fazer quimioterapia ou não… era tudo muito incerto”, relata.
Ela relembra que seu marido, Jonas Silva da Motta, estava junto no dia que recebeu a notícia e que seu apoio e força foram essenciais para seguir, assim como da família. “O apoio incondicional do meu marido, filhos e pais foram determinantes. Nem todas as mulheres têm o apoio da família e amigos e eu fui abençoada nisso. Minha mãe se mudou para a minha casa por alguns meses para me ajudar com as crianças. Jonas esteve me apoiando incansavelmente durante todo o processo”, afirma. Cátia têm três filhos, uma menina de 12 anos; e dois meninos, um de cinco e outro de três anos de idade.
Em todos os momentos desde a descoberta do câncer, Cátia, que realizou 16 sessões de quimioterapia, conta que a fé foi ponto crucial. “Meu relacionamento com Deus se transformou. Eu orei a Ele e disse “se eu morrer que seja pra tua glória, e se eu viver que seja pra tua glória”. Eu vi o mover da mão dele em cada parte do processo. Creio que tudo que eu passei só fez aumentar a minha total dependência em Deus”, conta. Mas, isso não significa que não tiveram momentos ruins ou de angústia. Cátia relembra de dois episódios que a abalaram: perder os cílios durante a quimioterapia e o dia em que não pode pegar seu filho no colo após a cirurgia de mastectomia para remoção dos dois seios.
“Tive que ressignificar muita coisa e acabei me redescobrindo”
Gabriela Rodrigues Corrêa, 32, descobriu que estava com câncer de mama em julho de 2020, durante o banho, quando, ao se observar, notou anomalia em seu mamilo. Mesmo não tendo sentido nenhum nódulo após o toque, Gabriela estranhou. Isso ocorreu em um fim de semana e já na segunda-feira ela procurou um mastologista para realização de exames e biópsia. “Os médicos estavam esperando que não fosse câncer pela minha idade. Porém, desde o dia que notei a alteração na minha mama algo já me dizia que era, porque meu corpo não ia ter aquela resposta se não tivesse algo muito errado acontecendo com ele. Então o diagnóstico confirmou o carcinoma”, relembra.
Mesmo já se preparando para que o diagnóstico fosse de câncer, Gabriela conta que receber a notícia foi muito difícil. “Foi como se um buraco se abrisse embaixo de mim. É um susto muito grande e a gente se desespera porque a palavra “câncer” é muito carregada de uma bagagem pesada. Eu trabalho na área da saúde, sou fisioterapeuta, então eu já vi muita coisa e aí automaticamente eu pensei em coisas ruins. Foi um processo de entender que aquilo estava acontecendo e que eu tinha que reagir da maneira que eu pudesse”, relata.
Gabriela afirma que, para ela, não tem como destacar apenas a parte mais difícil ao longo do processo, mas afirma que a biópsia, o recebimento do diagnóstico e, por incrível que pareça, o pós-tratamento são muito pesados. “A biópsia para mim foi muito difícil, porque foi muito dolorida e eu sofri bastante. Receber o diagnóstico também é muito ruim. Mas, por incrível que pareça, quando acaba todo o teu tratamento também é uma parte difícil, porque o entendimento geral é de que tudo passou e está tudo bem, mas não está. Tu tem toda uma desordem para tomar conta, junto com todos os efeitos da quimioterapia. É muita coisa”, pontua.
Um dos pontos gerais é o desconhecimento do novo corpo e pessoa como um todo. “Enquanto tu está em tratamento tu está ali enfrentando aquilo e usa toda a tua energia para passar pelas fases do processo, assim, acaba não se dando conta de tudo que está acontecendo com teu corpo. Então, quando termina e tu começa a melhorar, começa a ver a desordem em que foi deixada. Tu olha no espelho e não reconhece a figura que vê. Tudo fica mais difícil a partir daí.”
“A parte mental é 50% ou mais do processo”
Sobre o fortalecimento emocional, Gabriela destaca que família, amigos e rede de apoio são pontos cruciais que de certa forma “amenizam” um pouco da dor do processo. “É imprescindível e o que mais te mantêm em pé. Tanto o apoio familiar, quanto de amigos e a rede de apoio que a gente cria entre nós, mulheres que tiveram câncer e que conseguem se entender entre si”, destaca. Para ela, os detalhes dos cuidados fizeram toda a diferença. “A família é quem está todos os dias contigo, vê os piores momentos e faz isso passar um pouco. Se não fosse minha família eu não teria dado conta da forma que dei e nem com a tranquilidade que eu acho que lidei. Minha recuperação também não teria sido como foi principalmente nas cirurgias. Minha irmã é enfermeira e cuidou muito bem de mim, sempre com muita atenção e carinho”, relembra.
Ainda, Gabriela teve acompanhamento com uma psicóloga durante todo o processo e segue até os dias atuais. Para ela, o papel da especialista também é fundamental. “Com a terapia eu conseguia ter uma visão de algumas coisas que eu menosprezava, como achar que eu não estava sendo forte o suficiente. Minha terapeuta me elencava com exemplos de atitudes que eu vinha tendo de como meu enfrentamento estava sendo com muita força e coragem. É muito importante ter alguém que te fortaleça e faça enxergar algumas coisas. A parte mental é 50% ou mais do processo.”
Gabriela afirma que o processo lhe trouxe amadurecimento e acima de tudo, vontade inquietante de viver. “Eu passei a ver a vida com olhos mais maduros. Valorizo mais a minha vida e as pequenas coisas. Eu já era uma pessoa que valorizava muito meus amigos e família, mas isso foi levado a outro nível. Eu também já era extremamente intensa e isso me deu mais vontade de viver e aproveitar a vida, e talvez me preocupar um pouco menos com as coisas. Aproveitar mais isso de querer viver cada segundo. Aproveitar quem eu sou, minha essência. Aprendi também a usar a minha experiência para impactar e ajudar outras pessoas”, pontua.
“Acreditem em vocês e na vitória”
Ela dá uma dica de apoio às mulheres que recentemente tiveram o diagnóstico: a leveza no processo é essencial. “Quando eu recebi o diagnóstico, a minha tia que já tinha tido câncer de mama me disse: seja leve. Eu digo para vocês, mulheres que receberam o diagnóstico recentemente: levem todas as jornadas com leveza. Encarem com força. Eu sei que é extremamente difícil e desafiador receber este diagnóstico, mas a gente se redescobre e também se descobre muito mais forte do que possa imaginar”, afirma.
Ainda, reitera a importância da busca por apoio neste momento. “Contem sempre com a rede de apoio com mulheres que já passaram ou estão passando por isso, pois é aí onde a gente encontra maior conforto e muita força. Acreditem em vocês e na vitória ao final da jornada porque ela vem. Contem conosco que já passamos por isso para sempre estender a mão à vocês e se permitam se conhecer e se escutar durante o processo. Sejam gentis com vocês mesmas”, finaliza.