Com a volta da rotina escolar, o problema passar a preocupar pais e educadores. É preciso ficar atento aos sinais dos ataques para agir o quanto antes
O Brasil ainda tenta entender a tragédia ocorrida na última quarta-feira, 13, em Suzano, na Grande São Paulo. Diferente de outros dramas recentes sentidos no Brasil, desta vez não foi um acidente de trânsito ou uma tragédia natural. Uma dezena de pessoas morreu após dois ex-alunos da Escola Estadual Professor Raul Brasil entrarem armados no local e matarem com tiros e outros armamentos alunos e funcionárias da instituição de ensino. Os assassinos são Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos; e Luiz Henrique de Castro, 25 anos. Antes, eles já tinham executado um tio de Guilherme em uma locadora de carros. Depois do ataque, segundo a polícia, um deles abateu seu parceiro e depois se matou.
Muitas dúvidas pairam sobre o caso. Principalmente a respeito das causas que levaram os dois jovens a cometer um ato tão bárbaro. Até o momento, a polícia ainda investiga o caso. Porém, em crimes desse tipo, infelizmente não tão incomuns pelo mundo, um problema comumente está presente: bullying. E isso não é problema apenas nas escolas onde tragédias já ocorreram. Ele é percebido também nas escolas da nossa região.
O ano escolar já começou para todos os níveis em Montenegro e todo o Vale do Caí. Tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio, um tema merece atenção especial na volta da rotina nas escolas. Esse é um momento de alegria e, mesmo que muitos não concordem em acordar cedo ou ter que fazer aqueles deveres de casa complexos, reencontrar os amigos é sempre um motivo para celebrar. Porém, para alguns o retorno das aulas ou a chegada como um novo aluno em uma escola pode trazer uma situação desagradável e traumatizante, o bullying.
A prática se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. A psicóloga Roberta Nedel, especializada em psicologia da criança e do adolescente, explica quais as consequências do bullying nessa faixa etária.
“Entende-se que cada vítima pode ser afetada de forma diferente, dependendo da sua estrutura interna, sua base familiar, seu grupo e sua escola [enquanto suporte atento e adequado nas intervenções]. É importante que a sociedade esteja sempre em uma luta constante contra esses impulsos violentos e desumanizadores, que transformam a vida da vítima em pesadelo no qual alguns não sobrevivem”, ressalta a psicóloga.Para quem enfrenta o problema, as consequências são graves e podem gerar comportamentos violentos e autodestrutivos, exclusão social, depressão, ansiedade, ideação suicida, problemas de autoestima, uso de álcool, entre outros. “O espírito de grupo, ser aceito por amigos e se afastar de forma saudável dos pais, é fundamental para a autoestima e aquisição de identidade, autonomia e emancipação emocional, desde que esse processo seja acompanhando”, acrescenta Roberta.Esse é um assunto que preocupa a professora Tais Richelieu Lopes Martins, 35, que também é mãe do pequeno Carlos Eduardo Haas Kalender, 9.
“Eu fico inquieta porque não é simplesmente uma questão de deboche, mas de algo que fere a pessoa”, destaca Tais, acrescentando que normalmente o bullying acontece quando alguém tem uma determinada característica exaltada, chegando ao ponto de comprometer sua estabilidade emocional.
“(…) o bullying só gera mais e mais raiva…”
Mesmo com pouca idade, o pequeno Carlos já enfrentou diversas situações de bullying e tem claro o que problema significa para ele. “Eu acho que isso é uma coisa muita chata, porque o bullying só gera mais e mais raiva quando a pessoa que sofra acaba revidando”, desabada Eduardo. “Na escola eu sofro com isso quase todo dia por causa do cabelo, mas eu não tenho motivos para revidar, porque além de raiva, eles vão fazer mais comigo”, revela o estudante.Por ter cabelo grande, Carlos conta que é incomodado com comentários que o machuca. “Falam que ele é feio, que por ser grande eu me pareço com menina”, disse o pequeno. “Eu fico brabo e também triste, mas não posso revidar.”
“Eu acho que esse problema está tão mascarado na sociedade, que a gente fala sempre do bullying como o caso mais grave, aquele que já causou depressão nas crianças e que, ás vezes, reflete índices de suicídio”, disse Tais, ressaltando a importância de mais diálogo e com as crianças.
É preciso ficar atento aos indícios
Uma pesquisa realizada com mais de 100 mil alunos da rede pública e particular em todo o Brasil, mostrou que um em cada cinco estudantes disse já ter praticado bullying na escola, pelo menos uma vez. O levantamento foi realizado pelo Ministério da Saúde e aplicado pelo IBGE.
O medo e a vergonha, entretanto, muitas vezes fazem com que crianças e adolescentes não revelem que são vítimas dos ataques. Por isso, é fundamental reconhecer os sinais para agir o quanto antes. Veja como identificá-los.
-Criança pode se tornar agressiva;
-Pode ter queda no rendimento escolar;
-Não quer ir para a escola;
-Sintomas psicossomáticos (dores de cabeça e barriga);
-Isolamento;
-Problemas para dormir e/ou comer;
-Chorar com facilidade;
-Está sempre triste e/ou com medo;
-Sintomas depressivos e ansiosos;
-Baixa autoestima.