Arteterapia: uma maneira artística de expressar os sentimentos

Katherine Lerner Bilhar, graduada em Arteterapia começou a trabalhar no Hospital Montenegro (HM) 100% SUS em 2008, como estagiária, depois como voluntária e desde 2012, graduada, é efetivamente a arteterapeuta do HM. Além de aplicada diretamente na ala de saúde mental, desde 2019 a Arteterapia é desenvolvida dentro da instituição para reabilitação pós Acidente Vascular Cerebral, o AVC, para os próprios pacientes tanto individualmente como em grupo. Com estes pacientes, é bastante trabalhada a parte de recuperação cognitiva. Katherine conta que os encontros ocorrem de segunda à sexta-feira em uma sala específica à atividade. Dentro da instituição, como os enfoques são dependentes químicos, alcoolistas e pessoas com outros transtornos além de pacientes que tiveram AVC, muitas vezes é preciso que se trabalhe de maneira individual cada situação.

Katherine Lerner Bilhar é a arteterapeuta do HM e explica todos os passos das sessões realizadas na instituição

Mas, afinal, o que é Arteterapia? Esta é uma arte terapêutica que utiliza de meios expressivos como dança, canto, escrita e até mesmo desenhos, pinturas e modelagem para os pacientes poderem se expressar e buscar seu autoconhecimento. “Nas sessões, se trabalha toda a questão de expressão dos sentimentos, auto-cuidado, atenção, concentração. Mas, o foco principal é promover uma forma diferente de o paciente expressar o que sente, além da fala”, detalha a arteterapeuta. Segundo ela, qualquer pessoa pode participar das sessões, desde que, pelo menos no HM, haja a recomendação pós consulta, para pessoas a partir dos 12 anos.

As sessões ocorrem em etapas. No início, é apresentada a proposta ao paciente, onde se conversa sobre quais são as questões a serem trabalhadas; após, ocorre o momento da expressão em si, da produção com o material que o paciente decidiu utilizar e, por fim, a parte da reflexão, que segundo Katherine, é parte fundamental na instituição. Geralmente, as intervenções duram cerca de 1h, 1h30min. “Como as internações aqui são bem curtas, as intervenções têm que ser muito breves. Então, muitas vezes a gente têm que fazer em um dia e trabalhar nisso porque talvez no dia seguinte ele já não vai mais estar na instituição”, ressalta.

Expressão, reflexão e autoconhecimento
A especialista pontua que o objetivo não é ter habilidade em alguma área da arte, e sim, escolher uma delas para se comunicar e expressar seus sentimentos. “A pessoa não precisa saber desenhar ou pintar, por exemplo, para participar. O foco realmente é o que vai ser expresso. A pessoa vai se descobrindo. Aqui não tem feio e bonito porque não importa o resultado final, e sim todo o processo que o paciente passou para chegar até ele.” Mesmo assim, Katherine afirma que dentro da Arteterapia se descobre muitas habilidades e potencialidades nos pacientes. “Isso porque muitas vezes eles dizem que não sabiam que gostavam tanto de fazer o que acabam fazendo na sessão”, conta.

A profissional diz que, em sua visão, a Arteterapia é algo novo, mas que já se utiliza há muito tempo. “Desde sempre o homem utilizava a arte rupestre para poder se expressar, para poder se colocar no mundo. Hoje, a Arteterapia é utilizada não somente para isso, mas sim como uma terapia mesmo, algo que pode realmente te remeter à infância e muitas questões que, às vezes, como nosso dia a dia é tão corrido, a gente esquece que tem outras potencialidades.”

Produções dos pacientes do HM durante as sessões

Com a terapia, Katherine afirma que as pessoas acabam se redescobrindo e vendo que as possibilidades de reflexão durante as sessões são infinitas. “Vamos utilizar habilidades que tu tem lá da infância. Eu sou apaixonada por isso e vejo que podemos utilizá-la em vários meios. É importante lembrar que a Arteterapia não é algo pronto, não é algo que tu copia de algum site. É algo que tem que se criar”, afirma.

Os principais pontos positivos que a especialista nota durante as sessões são a melhora na auto-estima, a melhora na hora de se expressar, maior concentração, atenção e, claro, o desenvolvimento da habilidade motora nos pacientes que tiveram AVC. Além da parte mais humanitária, sempre presente na instituição. “Quando se trabalha em grupo tem a questão da valorização do outro, de poder valorizar a expressão do outro e até mesmo se comparar”, acrescenta Katherine.

A arteterapeuta salienta que, de todos os materiais utilizados nas sessões, seu favorito é o mosaico justamente por ele já trazer em sua representação, uma reflexão aos pacientes. “Tem a questão de com pedaços pequenininhos do material que se utiliza se faz uma comparação com a vida. Muitas vezes nossa vida tem pedaços que estão fragmentados, machucados, ou que a gente acha que não vai conseguir juntar com outras questões. Quando a gente trabalha com mosaico, conseguimos juntá-los e transformá-los não só em algo bonito esteticamente, mas algo que já é utilizado para a reflexão”, explica. “Fica um pensamento do tipo, se com pequenos pedaços reutilizados eu consegui fazer um belo trabalho, será que na minha vida também eu não preciso refletir e reutilizar algumas coisas que eu sei fazer? Quem saber retomar algumas questões emocionais”, indaga.

Mas, é importante lembrar que, ao contrário do que muitos pensam, para trabalhar com a Arteterapia o profissional deve ser especializado na área. “Muitas vezes o pessoal acha que é só ir lá, fazer um desenho e pintar que é Arteterapia. Na verdade não é bem assim. Como a gente utiliza alguns materiais específicos, cada material vai trabalhar algum sentimento ou reflexão na pessoa”, ressalta.

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