Não há nada mais lindo do que amor entre mãe e filho. E quem vê toda a dedicação com a prole, não imagina as inseguranças das mamães, principalmente de primeira viagem. Medo de estar fazendo algo errado ou de não poder proteger debaixo da asa, para sempre, o filho amado.
Medo de não educar adequadamente, de estar sendo rígida ou liberal demais. Insegurança de que a criança adoeça ou de que esteja pouco agasalhada ao sair. Mãe é mesmo tudo igual, e no melhor sentido da expressão, só muda de endereço.
E é na primeira gestação que a sensação de insegurança pode estar mais acentuada, quando tudo é muito novo, desde a mudança do corpo até a dos pensamentos. Três montenegrinas, duas delas que já deram à luz e outra gestante, nos contam um pouco sobre os anseios e inseguranças ao ser mamãe pela primeira vez.
Cuidado redobrado até no banho
Tatielen da Costa Flores, 24 anos, fotógrafa, é mãe do pequeno Miguel, de apenas dois anos. Sendo seu primeiro e único filho, ela relata que a gravidez foi uma boa surpresa, descoberta aos três meses. “Eu já estava em um relacionamento, planejando morar junto e, posteriormente, construir uma família. Soube que estava grávida e a primeira insegurança, sem dúvida, foi sobre como a minha família reagiria, mas eu tive a melhor resposta possível. Todos foram muito compreensivos e apoiadores”, conta.
O início da gravidez, segundo ela, mesmo com a vida emocional estabilizada e a profissional encaminhada, recém contratada em um emprego, foi conturbado. “Tive bastante tensão e riscos por conta de sangramentos e fiquei com muitas restrições”, comenta.
A descoberta de ser mãe é ter a certeza de que essa será uma responsabilidade para a vida toda. É comum que um turbilhão invada a cabeça da mamãe desde quando o bebê é apenas um feto. Mas depois do nascimento são só alegrias, não é verdade? Por um lado, sem dúvidas, segundo Tati.
“Mas aí vem aquele medo de trocar até a fralda, de não saber pegar ou dar banho, porque no começo eles são bem molinhos. O bom é que nessas horas todo mundo da família vira ‘médico’ e sabe curar assadura e cólicas, diminuindo um pouco a ansiedade de mãe inexperiente”, brinca ela.
Primeira gripe, primeiro dentinho e primeiro dia na escolinha também marcaram o coração fraternal da jovem mãe. E as noites em claro, de acordo com ela, iniciam junto com o crescimento da barriga.
“No período de adaptação na escola é uma angustia só, mas acho que para qualquer mulher que tenha filhos, não apenas para as de primeira viagem. Mas sei que todos esses processos são muito importantes para o desenvolvimento dele, esse contato com as outras crianças e desabrochar para a vida”, encerra.
Hora certa para ser mãe?
Com maturidade e carisma de sobra, Josiele Machado de Souza, 28 anos, ganhou, neste ano, o pequeno Pedro Miguel, para sua grande realização pessoal. Namorando há 4 meses, ela confessa que o medo inicial era o da rejeição do companheiro com a notícia da gravidez. Com residência fixada há pouco no bairro Santa Rita, onde alugaram uma casa, os dois assumiram juntos o compromisso de criar o filho, dividindo todas as tarefas. Quando um está limpando a casa, o outro embala Pedro, e assim por diante.
“A primeira pessoa que descobriu a gestação foi a minha madrasta. Eu enjoava muito e então ela indicou que eu fizesse um teste de gravidez de farmácia, que acusou positivo. Sempre tive o sonho de ser mãe, mas não sabia o momento certo”, explica Josiele.
Como foi tudo tão rápido, da desconfiança à descoberta através do exame, ela conta que no início pensou: ‘meu Deus, uma pessoa dependerá de mim para o resto da vida, e que após o nascimento, o turbilhão de pensamentos ainda persiste. “De não saber pegar no colo, ou sobre o que fazer quando o bebê começar a chorar e tiver cólica. Mas a principal de todas é a hora do banho, de deixar escorregar e não entrar água no ouvido. Quando estou dormindo, às vezes acordo, pensando se ele está respirando ou se mexendo”, descreve.
Educar e dar o melhor exemplo é uma conversa que agora faz parte da rotina do casal, conforme relata. “Eu nunca tinha convivido com uma criança pequena, por isso tive medo e que aprender a fazer tudo. Tanto eu quanto o Marcelo, meu namorado. Para mim foi e tem sido tudo muito novo”, afirma.
O bebê, atento à fala da mãe, parece entender tudo o que é dito. Cada palavra. Mas logo o sono vem e ele protesta com o choro, pedindo para ser embalado.
Durante 40 dias, a mãe de Josiele, que reside em outra cidade, veio para Montenegro ajudá-la cuidar de Pedro e trazer mais segurança a sua inexperiência. Mas após retorno da mãe, Josiele precisou por em prática todos os conselhos recebidos. “Dá aquele medo, né? Mas ser mãe é tudo de bom, é um amor incondicional que já inicia na barriga. E tudo compensa quando ele sorri. Tudo muda. A gente se desmancha”, conclui.
O tão esperado nascimento
Os olhos cor de mel escondem toda a ansiedade de quem está gestando o primeiro bebê. Na fala, o encantamento da mulher que descobriu ainda jovem a maternidade e abraçou-a apesar de todos os percalços. Ilana Domingues, 23 anos, está no sétimo mês de gravidez. Com sorriso fácil, ela confidencia o nome que a filha carregará: Luna.
“A minha menstruação atrasou por 15 dias e eu já fiquei desconfiada. Nunca havia parado para pensar na possibilidade de ter filhos. E fiquei muito insegura pelo fato de não ser casada, apesar de que, na época, estava em um relacionamento, e também por ser muito jovem. Mas para a minha alegria e da minha família, a Luna foi bem aceita e nos uniu ainda mais”, destaca.
Contando com a ajuda da mãe e da irmã para montar o enxoval à espera da pequena, ela diz que quase não aguenta esperar a hora de ver o rosto da filha pela primeira vez. “Fico pensando, imaginando como ela será. Quando a gente descobre que vai ser mãe, os primeiros sentimentos são de muitas dúvidas, porque você será o exemplo e terá que cuidar de outra pessoa até a vida adulta dela. É preciso ensinar a fazer as coisas certas. Pensamos muito adiante, nós, mães”, conclui.
Inseguranças são normais, explica psicóloga
A psicóloga Rose Oliveira afirma que a gravidez é um momento muito especial na vida de uma mulher. Um período de sentimentos intensos como a ansiedade, alegria, dúvidas, preocupações e expectativas. “São variáveis as mudanças corporais, psicológicas e sociais que envolvem a gestação. Nesse período, compreende a necessidade de estruturação e readaptação da vida pessoal e profissional da mulher que se inicia pela concretização de um novo papel, o de mãe. Para as que estão sendo mães pela primeira vez, também conhecidas como “mães de primeira viagem” estes sentimentos tornam-se ainda mais intensos pela falta de experiência”, explica.
Porém, toda a insegurança, de acordo com a especialista, é mais comum do que se possa imaginar, também pela responsabilidade e necessidade de readaptação a uma nova rotina ‘mãe-bebê’.
“Através da minha experiência com puérperas durante internação hospitalar, sentimentos como ansiedade e insegurança são visíveis, principalmente nas mães de primeira viagem quando se aproxima da alta do bebê, tendo assim que assumir um cuidado que durante a internação estava sendo compartilhada com profissionais qualificados. São muitas preocupações e medos provenientes dessa nova situação, por isso a importância que a mãe as divida com alguém”, enfatiza.
A profissional declara que um ponto fundamental durante esse processo, seja antes ou depois do parto, é buscar apoio de outras mães para compartilhar das mesmas dúvidas e medos.
“Muitas vezes, a mulher sente que é dever estar sempre feliz durante a gravidez, como se as todos esses sentimentos tornasse ela uma mãe ruim e infeliz. Existe uma cobrança social grande e os profissionais especializados, principalmente, da psicologia, ajudam a diminuir essa sensação de incompreensão e culpa”, esclarece.
A importância paterna
Rose ainda destaca a importância da figura paterna neste momento para trazer mais segurança à nova mamãe e ao bebê.
“Costumo explicar aos pais que os bebês têm uma capacidade maior de sentir o que passa ao redor deles. Consequentemente, é comum que quando a mãe está muito nervosa, angustiada e cansada, que o bebê chore mais, podendo ter cólicas mais frequentes. Por isso é importante que a mãe sinta-se emocionalmente bem durante seu contato ou amamentação com bebê. Existe uma tendência das mães de primeira viagem, após o parto, ficarem mais sensíveis emocionalmente e irritadas pela mudança na rotina e pelas novas adaptações”, salienta.
Contudo, a especialista orienta a atenção a qualquer alteração no humor, e que há, atualmente, profissionais que auxiliam as mães desde a gestação até os primeiros anos de vida do filho.
“O que mostra a importância da ajuda prática e emocional às novas mães. Sendo assim seja durante a gestação ou já após o nascimento do bebê, buscar ajuda não é sinal de fraqueza. Cada mulher vai encontrar a sua melhor forma de ser mãe, porém não hesite em procurar auxilio de um psicólogo ou psicanalista se achar que o apoio da família e do obstetra não estão sendo suficientes”, conclui.