A saúde depende do bom funcionamento do intestino

Esse não é o assunto favorito de ninguém. Alguns o ignoram. Outros sentem constrangimento. Palavras como cocô e fezes fazem muitos virar o rosto. Se você está entre essas pessoas e pensa em interromper a leitura dessa reportagem, repense a decisão. Saiba que, apesar de não ser um assunto muito simpático, a saúde do intestino influencia – e muito – no funcionamento do corpo humano.

Apesar de às vezes esquecido – os principais cuidados ficam com coração, rins e pulmão – o intestino é um importante órgão do corpo humano. Até em tamanho ele se destaca. De forma muito compacta, entre grosso e delgado, caso as suas “voltas” fossem esticadas, surgiriam 250 metros de intestino no abdome de uma pessoa adulta.

Esse órgão aloja trilhões de bactérias. E essa é uma notícia boa. Nossa relação com essas bactérias é pacífica e proveitosa para os dois lados. Elas obtêm os nutrientes necessários para sobreviver, mas, em troca, regulam o organismo. É o trabalho da já bastante estudada “flora intestinal”. Após os processos de absorção dos nutrientes, tudo o que não é útil ao corpo humano é descartado e vira cocô.

Acredita-se que o intestino tenha uma ligação direta com o cérebro, incluindo um sistema nervoso próprio e a presença de neurônios, responsáveis por coordenar tarefas como a liberação de substâncias digestivas e os movimentos que estimulam o bolo fecal a ir embora. Outro fator interessante, é a intensa produção de serotonina – hormônio vinculado ao prazer e o bem-estar – no intestino. Isso ajuda a explicar a ligação entre o intestino preso e a sensação de irritação ou mau humor a que muitas pessoas reclamam.

A médica coloproctologista – área que trata as doenças do intestino, reto e ânus – Greyce Berton diz que constipação, diarréia, câncer de intestino e outras alterações – como dor e sangramento – são os principais problemas dessa área a levarem pacientes a procurar ajuda médica. O mais grave é, sem dúvida, o câncer.

Por ser uma doença que demora a se manifestar, ela é considerada grave. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer colorretal é um dos mais frequentes na população brasileira. Nas mulheres, em 2016, foram 17.620 e, nos homens 16.660 novos casos. Para cada 100 mil habitantes, existe na região Norte do país 4,48 casos em homens e 5,3 casos em mulheres, por exemplo. Já na região Sul são 20,43 casos a cada 100 mil homens e 21,85 a cada 100 mil mulheres. A explicação estaria na carga genética, mas, também, no estilo alimentar.

“Como esse câncer não oferece sintomas precocemente, a tendência é que ele seja descoberto mais tarde. Quando já está adiantado, o paciente vai perceber sangue e muco nas fezes, além de alterações nos hábitos do intestino. Mas nesse momento já estará adiantado”, diz Greyce, que lembra a possibilidade de exames preventivos.

A partir dos 50 anos, ou dos 40 para aqueles com caso já registrado na família, a colonoscopia preventiva é indicada. “Nesse exame são descobertas lesões, que podem ser retiradas antes de evoluir ao câncer. E se já há câncer, vai para biópsia”, explica Greyce Berton.

Greyce Berton, coloproctologista

Sem constrangimentos
Por inibições, é comum que sintomas de problemas intestinais não sejam levados ao consultório médico. Isso pode causar agravamento de doenças ou sofrimento desnecessário do paciente. Greyce Berton lembra que esclarecer e tratar é melhor do que ignorar. “Nem todo o sangramento é por hemorróida. Pode ser algo mais grave. E, mesmo que seja hemorróida, não é preciso ficar sofrendo”, finaliza a médica.

Evite o uso de laxantes. Caso necessário, utilize um coquetel laxativo natural:
De ameixa e farelo de trigo

– ½ mamão papaia;
– 4 ameixas secas deixadas de molho na água;
– 1 laranja com bagaço;
– 1 colher de farelo de trigo;
– 50ml de iogurte desnatado.
Modo de preparo: bata tudo no liquidificador e beba por três dias seguidos ou enquanto houver necessidade.

De mamão com melancia
– 200ml de suco de laranja;
– ½ fatia de mamão;
– 1 rodela de abacaxi;
– 1 fatia de melancia com caroço.
Modo de preparo: liquidifique com acréscimo de água. Não é necessário colocar açúcar.

 

 

O papel da nutrição na saúde do intestino
Muitas pessoas sofrem de intestino preso, passando dias sem evacuar e, quando o fazem, é algo que demanda esforço e até mesmo dor. A Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 68% da população consome quantidades insuficientes de fibras. E essa seria a principal explicação para os problemas de intestino preso.

Nutricionista Laiala Pithan

A nutricionista Laiala Pithan, orienta que na alimentação laxativa, aquela que visa facilitar a evacuação, o ideal é evitar alimentos refinados como farinhas brancas, massas e biscoitos sem fibras e ingerir frutas como ameixa, mamão, abacaxi, amora e abacate. A nutricionista lembra, ainda, que o consumo de alimentos probióticos também auxiliam numa alimentação saudável para o intestino. Os probióticos são aqueles alimentos ricos em bactérias que produzem efeitos benéficos na flora intestinal.

O consumo de probióticos aumenta a resistência e até mesmo elimina os microorganismos potencialmente patogênicos. O resultado disso, entre outras questões, já comprovadas pela ciência, é a melhora da evacuação intestinal. Autores de estudos relacionados a essa área afirmam que o consumo de probióticos pode acelerar o trânsito intestinal no cólon por alterar a capacidade de absorção de água, melhorando o funcionamento intestinal. No entanto, é necessário atentar para algumas situações que podem alterar a população de bactérias probióticas do intestino, como o uso de antibióticos, estresse ambiental e mudanças na alimentação, podendo prejudicar o equilíbrio da microbiota intestinal do hospedeiro.

Já em ocorrências de diarréia, o indicado é investir em alimentos constipantes como maçã sem casca, goiaba, banana prata, pêra sem casca, maracujá, limão, lima, pêssego, cenoura, batata, chuchu e beterraba. “Durante a diarréia, devemos redobrar o consumo de água para evitarmos uma desidratação. A água de coco, chá de goiaba, água filtrada e fervida, chá de erva-doce, cidreira e camomila podem ser consumidos”, diz Laiala. Carnes brancas, arroz, água de arroz e biscoitos de maisena também estão na lista dos alimentos indicados para quem está com diarréia.

Na lista do que deve ser evitado aparece açúcar, mel, doces, leite, queijo prato e parmesão, melancia, melão, mamão, ameixa, abacaxi, uvas, figo, frituras, condimentos e alimentos ricos em enxofre como brócolis, cebola, couve, couve-flor, nabo, pimentão, repolho, rabanete, grão de bico, feijão preto, carnes vermelhas e manteiga.

Cuidar do intestino é mantê-lo trabalhando bem
Se você não tem problemas de intestino preso, provavelmente já encontrou alguém que tenha. Passar dias sem evacuar é uma reclamação muito mais presente entre a população do que a de diarréia. Mas a causa de grande parte desses problemas é a mesma: alimentação inadequada. “Existe uma tendência pessoal. O intestino de algumas pessoas é mais lento do que de outras. Mas a alimentação ajuda muito a se ter uma rotina saudável de evacuação”, diz a coloproctologista Greyce Berton.

Para se ter um intestino considerado saudável, porém, não é necessário defecar todos os dias. “Não é exatamente a quantidade. Tem de ser um processo tranquilo. O problema de ficar muitos dias sem evacuar é que as fezes ressecam e isso gera dor”, diz Greyce Berton. Um intervalo de até três dias pode ser considerado normal.

Alimentação
rica em fibras colabora para o funcionamento do intestino

O que não é normal é alguém depender de remédios laxativos para evacuar. “Poucos laxantes não oferecem riscos. Alguns tendem a deixar lesões e, com o uso frequente, perdem o efeito”, diz a médica. Em caso de real necessidade, quando a prisão de ventre é frequente mesmo com mudanças alimentares, é preciso de orientação médica para qual remédio é mais adequado.

Já os casos de diarréia são situações agudas, resultado de gastroenterites ou infecções estomacais. Em geral, duram no máximo cinco dias e o quadro vai enfraquecendo conforme os dias passam. Se levar mais tempo, é preciso investigar o que ocorre.

 

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