O dia em que o campo se transforma em sala de aula

Economia solidária. Todos os meses, associados da Ecocitrus se reúnem para aprender, compartilhar e crescer

Nem individualismo, nem intolerância, nem bolhas de tecnologia em que as pessoas passam as horas no Facebook e no Whatsapp. As horas foram de conversa olho no olho, pés no chão, ar fresco, debaixo de muita sombra, num clima de harmonia e parceria. Foi assim que os cerca de 40 associados da Cooperativa dos Agricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) tiveram, na última semana, mais uma edição do Dia de Campo. O anfitrião foi Gilmar Kinzel, que possui propriedade rural numa encosta de morro em Barão, a cerca de 40 quilômetros de Montenegro, e cuja calma e serenidade contrastam com a correria cotidiana de quem vive na cidade.

O diferencial dele é a produção de uvas orgânicas com certificação biodinâmica — o conceituado selo Demeter, que é bastante valorizado principalmente nos mercados europeus em função da consciência dos consumidores. Além disso, o associado produz mudas de árvores nativas e frutíferas que abastecem viveiros de toda a região. “Na Alemanha, ele já trabalhou em propriedades com produção biodinâmica e fez cursos nesta área. Tem muito conhecimento sobre biodiversidade e agroecologia”, enaltece o vice-presidente da Ecocitrus, Ernesto Kasper.

A lógica desses encontros é todos aprendem um com o outro. O contato pessoal, lembra Ernesto, forma vínculos, troca experiências, nutre o espírito comunitário. “A conversa não se resume à produção, a números. É também um momento de reflexão, de compartilhamento, de educar pelo exemplo. As famílias levam junto seus filhos, que brincam no mato, debaixo das parreiras. Quantos têm essa possibilidade hoje em dia?”, analisa.

Associado da Ecocitrus, o baronense tem suas terras na parte mais alta do Vale do Caí e agora se prepara para mais uma vindima. Uma boa parte das uvas à destinada à produção de suco, que depois é fornecido aos próprios membros da cooperativa e também abastece o mercado da merenda escolar. “Entre nós acontece bastante trocas, e não apenas de conhecimento, mas também de produtos. Um produz batata, outro cebola… alho, sucos. O Gilmar, por exemplo, faz a sua própria farinha para produzir seus pães”, relata Ernesto.

Os dias de campo dos citricultores são também uma forma de incentivo à alimentação saudável e ao consumo consciente: “Além da troca de conhecimentos e experiências entre os agricultores, existe a importância da atuação das mulheres dentro da família com a educação para o consumo de produtos que mantenham a saúde familiar”.

Agricultores também são auditores

Infância rica: dias de campo também contam com a participação dos filhos dos produtores rurais, o que estimula os vínculos comunitários. foto: Ecocitrus/Divulgação

Visitar um colega de trabalho rural tem outros significados para além desse processo de ensino-aprendizagem entre os cooperados da Ecocitrus. Segundo o vice-presidente, os dias de campo, que ocorrem mensalmente, também servem para que os agricultores façam auditorias internas — uma exigência do Instituto Brasileiro de Biodinâmica (IBD), órgão responsável pela certificação de que a produção é realmente orgânica. “Os dias de campo geram documentos, atas e fotografias. Isso se junta ao acompanhamento do agrônomo da Ecocitrus, nosso responsável técnico”, explica Ernesto.

Safra deve aumentar 15% este ano

Ecocitrus calcula que a produção vai aumentar cerca de 15% neste ano. foto: Ecocitrus/Divulgação

Em assembleia realizada no último dia 11, os integrantes da Ecocitrus apresentaram suas estimativas para a safra de citros deste ano, que indicam crescimento em relação ao ano passado. Os cálculos se baseiam na experiência de cada família ligada à cooperativa e ajudam os gestores a planejar o manejo da produção dentro da indústria. “O produtor consegue olhar para seu pomar e estimar como será a colheita. A produtividade está estabilizada, mas o volume produzido vai aumentar em torno de 15% porque a área plantada também aumentou”, antecipa Ernesto.

Esses números, conforme o dirigente, são fundamentais para gerir a indústria da cooperativa de forma otimizada. As projeções levam em conta não apenas o tipo de fruta, mas até mesmo a variedade, porque essas questões influem no planejamento dos processos internos da fábrica.
O vice-presidente salienta que a organização continua de portas abertas a qualquer citricultor que cultive pomares orgânicos. “Damos apoio, incentivos, insumos, assistência técnica e apoio logístico. Somos 80 associados, o que envolve em torno de 65 famílias”, contabiliza Ernesto.

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