Vítima de tentativa de feminicídio relata momentos de pavor nas mãos de agressor

“ELE disse para eu dormir porque não conseguiria me matar se estivesse olhando para ele”

Uma mulher de 39 anos de idade viveu momentos de tortura e pavor nas mãos do companheiro, de 31 anos, com quem estava junto há um ano. O homem a espancou com socos, golpes de faca e prometeu matá-la assim que ela adormecesse. Para sobreviver, a vítima teve que convencer o agressor de que não o entregaria para a polícia e que ambos continuariam juntos, como se nada tivesse acontecido.

A vítima conta que desde o início da relação ele demonstrava comportamento manipulador e controlador, mas não era violento. “Até não me fazer nada de ruim, tentei ajudar ele mostrando que eu não estava fazendo nada de errado”, conta a mulher.

Há alguns meses, o casal saiu de Montenegro para morar em São José do Sul, lá o temperamento dele piorou. Aos poucos ela se convenceu que precisava colocar fim na relação, mas cada vez que tocava no assunto o companheiro começava a manipulá-la. Contudo, desde o dia 16 deste mês a situação se agravou cada vez mais. Na ocasião, o homem ficou incomodado ao ver ela pegar o telefone. “Ele achou que eu ia falar com alguém, mesmo sem saber se seria com meu pai ou minha mãe, simplesmente jogou o celular pela janela”, relata.

Não satisfeito, o indivíduo se apropriou do chip da companheira e passou a monitorar mensagens e ligações. “Mesmo a gente ainda estando junto, ele estava conversando com uma outra pessoa, acho que ele pensava que eu faria a mesma coisa”, detalha a mulher.

Depois de, sem êxito, tentar convencer o companheiro que a relação não poderia continuar da forma como estava, ela resolveu separar as coisas dele e deixar na sacada do apartamento onde viviam e voltar para Montenegro, para passar uns dias na casa da mãe dela. O homem não se conformou com o ato e passou a perseguir a vítima.

“Na quinta-feira da semana passada, fui na missa com meu filho pequeno. Quando saí da igreja vi que ele estava me perseguindo. Ele fechou meu carro e pulou pra dentro”, conta. “Disse pra ele ir pra casa que no dia seguinte conversaríamos, mas ele afirmou que não voltaria sem mim. Então, pra me livrar dele, falei para conversarmos mais tarde. Ele concordou e eu fui pra casa da minha mãe”.

O homem não foi embora e passou a vigiar a casa da família da vítima. No começo da madrugada, ele pulou o portão e quando ela saiu, para falar com ele, foi agarrada e arrastada até um veículo de transporte particular. “O motorista disse que não ia aceitar que eu fosse colocada a força no carro e saiu”, conta. Para tentar acalmar o, até então, companheiro ela propôs ir até São José do Sul, abrir o apartamento para ele passar a noite, desde que ele a deixasse voltar para dormir na casa da mãe dela. O homem aceitou e novamente acionou o carro para levá-los.

Logo que entraram no automóvel, ele deu o primeiro tapa no rosto dela. “Comecei a me desesperar dentro do carro, pedi para o motorista não me deixar sozinha com ele. Ele disse para o motorista que não machucaria o amor da vida dele. Eu disse para irmos pra delegacia, mas ele não me deu atenção”, lembra a vítima.

Para ela, o motorista do veículo teve a oportunidade de ajudar, mas optou por não fazer. “Quando chegamos na frente do apartamento, segurei o banco do carro e pedi para o motorista não deixar me tirar de lá, mas fui puxada e arrastada para o apartamento. O motorista disse que, se eu quisesse, era para atravessar a rua e chamar a polícia. Como eu ia conseguir chamar a polícia com a pessoa me carregando?”, relata.

As marcas da tentativa de feminicídio estão por todo o corpo da vítma

“Ele me batia dizendo as coisas que achava que eu tinha feito de errado”
“Tá apanhando porque tu foi na porta da casa do teu ex-marido buscar teu filho, sem eu estar junto. Tá apanhando por que tu não me quer mais…”, essas são algumas das “justificativas” do agressor para espancar a mulher durante mais de quatro horas.

“Eram socos no rosto, golpes com cabo de faca na cabeça, ele só parava de bater quando eu implorava por água. Eu precisava que ele parasse de bater para tomar fôlego e pensar no que poderia fazer pra sobreviver”, diz a mulher. “Ele falava o tempo todo que daquele dia não passaria, que eu morreria e que tinha planejado tudo”, acrescenta. O plano já estava pronto, disse ele para a companheira. Ele diria que ela saiu com suas amigas e desde então não a teria mais visto.

Com sangue escorrendo pelo corpo, a mulher pediu para seu agressor a colocar no chuveiro. Depois do banho, ele a forçou a colocar a mesma roupa suja de sangue. Novamente, ela pediu água e quando ele saiu do quarto, correu para trancar a porta. A ideia era fugir pela porta-janela, mas ele foi mais rápido e arrombou a porta do quarto e voltou a bater nela.

Em meio aos socos e tapas, o homem insistia que ela dormisse. “Disse que era para eu ficar na cama e dormir, porque não conseguiria me matar se estivesse olhando para ele”, acrescenta. “Comecei a pensar o que poderia dizer para convencer ele a me deixar viva. Falei dos meus filhos, disse que ele estaria jogando a vida dele fora, mas, nada o convencia. A obsessão dele era ficar comigo”.

A saída encontrada para sobreviver foi convencer o agressor de que ele seria perdoado por seus atos e a vida de ambos seria retomada, juntos. “Pedi pra ele parar de me bater, disse que aquela situação ainda tinha conserto. Disse que a gente fingiria que tinha sido um assalto. Falei para ele esperar amanhecer e ir para o serviço, ai eu chamaria a polícia e diria que fui assaltada. Ele aceitou, disse que tínhamos de ter um plano e bagunçou a casa para parecer que foi um assalto”, detalha. O homem fez a companheira prometer que cumpriria o combinado, caso contrário, mataria ela e os três filhos dela. Mas a ameaça não impediu que ela o entregasse.

Depois de tomar banho e lavar a faca que usou para bater e ameaçar a mulher, ele se arrumou, foi até a cama e deu um beijo nela. Quando saiu, ela correu até o posto policial para pedir socorro. A polícia foi ao trabalho, onde o homem aguardava para registrar sua entrada, e o prendeu em flagrante. Na delegacia, o agressor negou a acusação. O homem disse que quando saiu para trabalhar a mulher ficou em casa, descansando na cama deles.

A vítima quis relatar o próprio sofrimento para impedir que outras mulheres possam se deixem levar pela conversa do indivíduo no dia em que ele sair da prisão. O desfecho dessa história ocorreu no final de semana passado, nessa terça-feira, dia 26, ela quis falar ao Jornal Ibiá.

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