SÁBADO ocorreu Caminhada em Defesa das Mulheres e homenagens a vítima de feminicídio
Passados onze dias da morte da fisiculturista Debora Michels Rodrigues, a Debby, de 30 anos, a repercussão deixada pelo crime ainda é grande nas redes sociais e principalmente no sofrimento dos familiares e amigos. “A dor e o sofrimento é grande. Estamos tentando suportar”, diz o pai, Davi, que no último sábado participou da missa de sétimo dia, na Catedral São João Batista.
Também no sábado, depois da missa, aconteceu a Caminhada Iluminada em Defesa da Vida das Mulheres. A saída foi justamente na frente da Catedral. As integrantes do Coletivo Força Feminina Montenegro e outros participantes, vestidos de preto e carregando velas, percorreram o Centro da cidade, até o Cais do Porto das Laranjeiras. No caminho, com cartazes e megafone, pediam segurança e justiça. Segundo Monaliza Furtado, uma das organizadoras, a caminhada prestou homenagem a Debora e demais mulheres que sofreram e sofrem todo o tipo de violência. “O objetivo de mais essa ação é continuar mobilizando a opinião pública para a importância de pedirmos justiça, punição aos agressores e lembrar da importância da educação para mudarmos essa realidade tão perversa”, ressaltou. “Queremos que os meninos cresçam respeitando as mulheres e que as meninas possam identificar situações de abuso, denunciando e tendo espaço de acolhimento”.
Também integrante do Coletivo Força Feminina Montenegro, Pâmela Menezes Flores participou da caminhada pedindo por justiça para todas as mulheres vítimas de violência. Ela destaca que a intenção foi fazer a sociedade repensar e refletir sobre o problema da violência contra a mulher. “Cotidianamente a gente tem vários tipos de violência acontecendo contras as mulheres, tanto física, psicológica e financeira. Então, com esse ato, a gente busca se fortalecer, uma dando a mão para a outra para poder reagir”, conclui.
A secretária de Desenvolvimento Social, Cidadania e Habitação, Josi Paz, foi outra participante da caminhada. Ela lembrou da rede de proteção que existe para dar amparo às mulheres vítimas de violência. “Na Secretaria temos o Centro de Referência da Mulher, com psicóloga para dar esse suporte. Tem também o Cras, Creas, Delegacia da Mulher, Patrulha Maria da Penha e o Conselho da Mulher. Não precisa ser a própria mulher para buscar ajuda. Familiares e amigos também podem denunciar, evitando que mais mulheres sejam vítimas desta triste estatística”, declarou.
Conclusão do inquérito
O inquérito policial sobre a morte de Debby deve ser concluído nos próximos dias. A Polícia Civil segue realizando diligências e tomando depoimentos, além de aguardar o resultado dos laudos da perícia e da necropsia.
O acusado, de 48 anos, está recolhido ao sistema prisional, após voltar a se apresentar na Delegacia dois dias após o crime, depois de sua prisão preventiva ser decretada pela Justiça. Em depoimento, ele confessou que pegou a personal trainer pelo pescoço e jogou contra um guarda-roupa, durante uma briga na casa em que residiam, na localidade de Vendinha. Ele afirmou que após ver que ela passava mal, disse que iria levá-la ao hospital em Montenegro, mas no caminho percebeu que a educadora física não estava mais respirando e decidiu largar o corpo na frente da casa dos pais dela, no bairro Centenário, na madrugada de 26 de janeiro.
Fazia quatro anos que Montenegro não registrava um feminicídio. Conforme familiares, ela foi morta no dia que deixaria a casa em que morou com Alexsandro Gunsch, após um relacionamento de mais de 11 anos. O irmão Alex Michels informou que ela já havia alugado um apartamento e aparentemente ele estava aceitando o término da relação. Com base nisso e em um áudio que o acusado enviou para familiares pedindo perdão pelo que iria fazer, a Polícia ainda investiga se o crime foi premeditado.
Alto índice de violência
Os casos de violência contra a mulher continuam com índices elevados em Montenegro e região. Só no mês de janeiro deste ano, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do Vale do Caí instaurou 117 novos inquéritos. No Estado foram pelo menos 12 mulheres assassinadas no primeiro mês de 2024, o que representa um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado, quando aconteceram dez casos. A média é de um assassinato de mulher a cada 62 horas no Rio Grande do Sul.
A Brigada e a Polícia têm agido com rigor, inclusive decretando várias prisões de agressores. Em muitos casos algo em comum: o fato de homens não aceitarem o fim do relacionamento. Assim foi na madrugada de segunda-feira, quando uma mulher de 43 anos levou um soco na cabeça de um homem de 30, em Triunfo, o qual alegou que “se não vai ser minha não vai ser de mais ninguém”. Ele foi preso. No domingo outro homem, de 39 anos, também em Triunfo, foi preso ao ameaçar de morte a companheira de 36 anos. Já em Montenegro, na madrugada de sábado, um homem de 43 anos foi preso após desferir socos em uma jovem de 18 anos, durante um desentendimento do casal.
As ocorrências de violência doméstica contra mulheres ocupam grande parte dos atendimentos da Brigada e da Polícia. E isso que a maioria das vítimas acaba não denunciando, temendo represálias e em razão da dependência econômica. Mesmo assim, graças à rede de proteção, mais mulheres têm se encorajado a denunciar, inclusive motivando as prisões e medidas protetivas. As denúncias podem ser encaminhadas mesmo de forma anônima, em todas as Delegacias e Brigada, além de pelos telefones 180, 190, 197 ou 98444-0606.