REFORÇO. Atendimentos individuais e focados prometem discrição e agilidade
Foram inaugurados nesta segunda-feira, 14, em Montenegro, a Sala das Margaridas e o Cartório Especializado de Combate ao Abigeato. A Sala das Margaridas servirá para atender, de forma mais humanizada, às vítimas de violência doméstica. Já o Cartório promete dar retorno mais imediato aos casos de roubo e furtos de gado na região. A cerimônia de inauguração ocorreu na Central de Polícia do Vale do Caí e contou com a presença da Chefe da Polícia Civil do Estado, Nadine Anflor, além de outras autoridades policiais, membros da Rede de Proteção à Mulher e convidados.
Por medo ou por vergonha, muitas mulheres não denunciam as agressões sofridas no âmbito familiar. A delegada Nadine Anflor destaca que 70% das vítimas de feminicídio no Estado não registraram sequer um boletim de ocorrência contra seu agressor. A Polícia Civil conta com as delegacias especializadas no atendimento à mulher, mas estas não possuem condições de funcionar 24 horas. Diante disto, surgiu a necessidade da criação das chamadas Salas das Margaridas.
Em Montenegro, a Sala das Margaridas foi instalada junto à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). As vítimas de violência doméstica que chegarem ao plantão serão encaminhadas para atendimento individual e personalizado, com agentes capacitados para entender suas necessidades e dar o encaminhamento cabível ao caso. “É um espaço mais acolhedor, em que existe respeito e proteção a essas vítimas. Isso vai fazer com que elas venham denunciar mais seus agressores, porque esse é o único mecanismo que temos para impedir os crimes de feminicídio”, destaca a chefe de Polícia.
A Sala das Margaridas de Montenegro é a 5ª a ser inaugurada no Estado. Os ambientes recebem esta denominação pelo fato de as margaridas serem flores resistentes, que se fecham durante as noites, mas ressurgem nas manhãs seguintes, firmes e vibrantes, o que faz uma analogia com a condição feminina.
Durante o evento, o delegado regional Marcelo Farias Pereira destacou os avanços na área do enfrentamento à violência contra a mulher, na região. “Em 2010, tínhamos um cartório da mulher, com o trabalho de toda a comunidade; em 2014, foi criada a Delegacia da Mulher e, depois dessa criação, continuamos avançando nessa área”.
Marcelo parabenizou o trabalho de toda a Rede de Apoio, em especial ao trabalho realizado pela delegada Cleusa Tânia de Oliveira Spinato. “Esta sala é o coroamento de um trabalho desenvolvido nessa seara”, acrescenta o delegado.
“A inauguração dessa sala é importante porque a gente sabe o quanto é difícil o caminho percorrido por elas até chegarem aqui. Com essa sala, queremos que elas se sintam encorajadas e confortáveis para chegar”, acrescentou a delegada Cleusa. Para a policial, a região conta com uma Rede extremamente atuante e a Sala das Margaridas é um ambiente que chega para agregar ainda mais a este trabalho.
O esforço da Rede também foi sublinhado no discurso do prefeito de Montenegro. “O que se está criando aqui é uma estrutura para que a vítima não tenha medo de fazer a denúncia”, disse Carlos Eduardo Müller.
Cartório de Abigeato ficou no Centro
Embora a cerimônia de inauguração tenha ocorrido juntamente com a Sala das Margaridas, na DPPA, o Cartório Especializado de Combate ao Abigeato foi implementado em uma das salas da 1ª Delegacia de Polícia, na rua José Luís, no Centro. O cartório está sob comando do delegado titular da 1ª DP, André Lorbiecki Roese.
Conforme o delegado, mesmo que a maioria dos criadores da região não tenha no gado sua única fonte de renda, os animais são como uma espécie de poupança, que muitas vezes é subtraída de forma cruel. Embora a Polícia se esforce para apresentar resultados no combate ao crime de roubo e furto de gado, o trabalho não é tão simples quanto pode parecer, ressalta André Roese. “O combate a esse tipo de crime é muito complexo”, sublinha.
Desde que foi anunciada a instalação do Cartório em Montenegro, representantes da Associação dos Pecuaristas se manifestaram contrários à novidade. O grupo quer mais. Defende a necessidade de uma Delegacia de Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato (Decrab). Os criadores afirmam que, somente em 2018, cerca de 500 bovinos sumiram das propriedades rurais. Para eles, o cartório ainda é pouco para conter o abigeato no Vale do Caí.
Contudo, a chefe de Polícia, Nadine Anflor, explica que não é possível criar falsas expectativas para a população, como a promessa de abertura de uma nova delegacia. “Demandaria mais estagiários, um prédio, precisaríamos de secretarias, de cartórios de investigação. Seria abrir mais uma porta de custos para o Estado, sem dar um retorno efetivo para a população”, comenta.
Nadine explica que o objetivo do cartório é incentivar o registro de ocorrência e dar respostas aos cidadãos. “O Cartório de Abigeato é o primeiro passo para que os pecuaristas e agricultores se interessem, cada vez mais, em estar ao lado da Polícia Civil. Nós temos o dever de dar um retorno neste trabalho, temos que combater essa criminalidade, elucidar, desbaratar essas quadrilhas que estão por trás dos crimes rurais e, se mais a frente, com o ingresso de novos servidores, a gente tiver condições, poderemos inaugurar novas delegacias”, detalha Nadine.
Periodicamente, os cartórios de abigeato recebem visitas de forças-tarefas, que têm o objetivo de atuar de forma mais dinâmica na apuração desses crimes.