EXEMPLO. Iniciativa da Cufa com o Judiciário de Montenegro é implementada em Goiás
Para combater a violência doméstica é preciso mais que dar suporte psicológico e material às vítimas. Campanhas incentivam as mulheres a romperem o ciclo de agressões, contudo, se o núcleo gerador da ação não for tratado poderão ser feitas novas vítimas. Nesse sentido, a Central Única das Favelas, Cufa de Montenegro, em parceria com o Poder Judiciário e apoio do Ministério Público, Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (Deam) e Prefeitura, criou em 2019 o projeto Maria e João sem Violência. A iniciativa trabalha com a vítima e o autor da agressão. Ao homem é proposta uma reflexão para que identifique a origem do próprio comportamento violento e possa evitar que se repita. Nesta semana, o modelo do projeto ultrapassou as divisas de estados e começou a ser executado em Goiás (GO).
O lançamento do projeto Maria e João sem Violência ocorreu no auditório do Tribunal do Júri do Fórum da cidade de Senador Canedo, na terça-feira, dia11. O evento teve a participação dos coordenadores do projeto em Montenegro, o jornalista e sociólogo, Rogério Santos e a assistente social, Carliane Pinheiro, a Kaká, que contribuíram para a implantação do projeto na cidade goiana.
Breno Cardoso, presidente da Cufa de Goiás, relata que os resultados apresentados pelo projeto em Montenegro e o aumento da violência contra mulheres, observado no período da pandemia, motivaram a entidade a querer replicar a iniciativa. “O projeto Maria e João sem Violência nos inspira. Tivemos conhecimento dos ótimos resultados que o projeto alcançou no município de Montenegro e, por isso, começamos a buscar parceiros para reproduzir aqui no Estado”, acrescenta Breno.
Segundo Rogério, o projeto tem o objetivo de acolher mulheres vítimas de violência e homens autores do delito para diminuir a violência de gênero. Em Montenegro, Maria e João sem Violência é coordenado por uma equipe formada por uma assistente social, uma psicóloga e um sociólogo.
A iniciativa busca estimular formas de socialização não violenta e de resolução de conflitos através do diálogo. Para a equipe da Cufa, a contribuição no desenvolvimento do projeto em Goiás é motivo de orgulho. “Apresentamos o funcionamento do projeto e falamos sobre o relacionamento com a rede de atendimento de Montenegro. O projeto inicia na cidade de Senador Canedo e deve ser propaga para outros municípios de Goiás”, conta Rogério.
Marco no enfrentamento à violência
O projeto Maria e João sem Violência foi pioneiro no apoio ao trabalho da Rede de Enfrentamento e Atendimento à Mulher em situação de Violência de Montenegro. “O projeto é um marco no enfrentamento à violência”, avalia Rogério Santos. O sociólogo aponta ainda a importância do apoio recebido através da Juíza Deise Fabiana Lange Vicente e do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc). “O Poder Judiciário de Montenegro confiou e apoiou o projeto. Sem esse apoio não se teria a projeção e os resultados obtidos”, acrescenta o coordenador.
Nos seis primeiros meses de atividades, no ano de 2019, o projeto acolheu 53 dos 83 casos encaminhados pelo Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania. Em 2020 a pandemia interrompeu os trabalhos, que foram retomados em outubro do ano seguinte, seguindo até o recesso forence. “Nesses dois meses de atendimento, atendemos 15 ofensores e 15 vítimas”, detalha Rogério.
Carliane Pinheiro destaca que o grande objetivo do projeto é evitar novos casos de agressão. “A gente não quer que os agressores cometam nova violência. Se com esse projeto tivermos uma ou 10 reduções de casos, já estamos ganhando. A sociedade sai ganhando”, comenta Kaká.
“A gente quer ter o mesmo resultado apresentado pelo projeto em Montenegro, onde sabemos que apenas 2% dos agressores, que passam pelo projeto, se tornam reincidentes”, conclui Breno Cardoso, da Cufa Goiás.