Pais falam sobre montenegrino que foi morto em Torres
Os pais, Susane Ferreira (Susi) e Leo de Oliveira Barreto, não estão mais ouvindo a voz do filho todas as manhãs. Diariamente o montenegrino Murilo Barreto, de 39 anos, ligava para eles quando se dirigia ao trabalho em um Centro de Formação de Condutores (CFC) de Torres. E foi o que fez por volta de 6h20 da manhã da última terça-feira, 27 de maio. Quando estava ao telefone, Leo ouviu os gritos de pedidos de socorro. “Ele gritou umas quatro vezes”, recorda. Suspeitando de um sequestro, o pai solicitou para a esposa telefonar para conhecidos em Torres. Fizeram contatos com várias pessoas, pedindo urgência nas buscas. Lamentavelmente foram informados do que mais temiam: o filho tinha sido encontrado sem vida, vítima de latrocínio (matar para roubar). Um morador de rua, de bicicleta, tinha atacado Murilo com uma faca. “Perfurou o coração de uma pessoa amada e querida por todos. A facada perfurou uma veia e ele não resistiu”, lembra a mãe, ainda muito consternada.
Em Montenegro, distante cerca de 235 quilômetros de Torres, os familiares entraram em desespero. Em Torres, onde Murilo morava há cerca de vinte anos, também muita revolta e comoção. Ontem, segunda-feira, houve uma manifestação, com caminhada, pedindo por mais segurança na cidade, uma das principais do litoral norte. “A vida não pode ser interrompida. Exigimos segurança”, destacava uma das faixas do protesto. No dia anterior também foi celebrada uma missa de sétimo dia em Torres. E uma celebração em memória de Murilo está sendo agendada para ocorrer na Catedral de Montenegro, provavelmente no sábado. E ainda foi realizada em Torres, dois dias após o crime, uma reunião com a participação de autoridades e comunidade, na sede do Ministério Público, para tratar da segurança pública e o aumento de pessoas em situação de rua.
O crime ganhou grande repercussão. Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento que Murilo foi abordado, com um indivíduo de capuz descendo de uma bicicleta e o esfaqueando no peito. Ele ainda conseguiu se afastar do agressor, mas ao cair o criminoso retornou e roubou o seu telefone e carteira. O acusado foi preso no início da tarde da mesma terça-feira. Ele se encontrava foragido da Justiça, tendo pena de 17 anos a cumprir e antecedentes criminais como por tráfico de drogas, furto, receptação e lesão corporal.

Um tempo para lembrar, outro para esquecer
“Era um menino que nasceu lindo, cheio de cabelos, muito peludo. Demorou para nascer. Parecia que não queria sair da barriga da mãe”, recorda Susi. Ela lembra que até os 18 anos Murilo era tímido e não queria sair de casa. Gostava de jogar videogame. Mas depois arrumou namorada e se reunia com amigos para tomar chimarrão no Centro de Montenegro. Trabalhou na empresa CBC e cursou Gestão Comercial na Ulbra.
Depois foi para Porto Alegre, onde prestava serviços como manobrista. Então surgiu o convite para ser instrutor do CFC em Torres. “Amava todos os locais de trabalho, fazendo muitas amizades. Todos os colegas o amavam. Era trabalhador, pontual e assíduo. De um caráter exemplar”, relata a mãe. “Era feliz, dinâmico e muito divertido”, completa.
Em Torres formou outra família, com a esposa Cinara e o enteado Caio. Tinham uma vida tranquila. “Nunca mais o veremos. Estamos inconformados pela falta de segurança que o mundo nos oferece”, declara a mãe. “Só queremos lembrar dos bons momentos que cada um viveu ao lado dele e agradecer a pessoa que foi e que tanto nos ensinou”, ressalta Susi.
Os pais, que foram secretários municipais em Montenegro, estão arrasados. “Eu e o Murilo éramos unha e carne. Todas as manhãs esperamos a ligação dele, que não vem mais”, afirma a mãe. “Agradecemos por tudo que seu filho deixou. Foram muitos momentos de alegria vividos na presença dele. Que Deus conforte o coração de vocês”, escreveram os colegas do CFC de Torres, para os pais Leo e Susi.