ATÉ QUANDO? Cidadão foi abordado e caiu na conversa dos farsantes, que roubaram R$ 10mil
Um aposentado, que será identificado apenas pelo nome de João, é a mais nova vítima do golpe do bilhete premiado. Ele acreditou que ganharia R$ 50 mil se ajudasse o farsante a receber uma bolada da loteria, mas acabou perdendo R$ 10 mil. O caso deste cidadão se assemelha a outro, na quarta-feira da semana passada, dia 4. Apesar da mídia noticiar situações como essa quase que semanalmente, ainda tem gente que se deixa enganar e acaba sendo lesado.
Embora para muitos cidadãos o golpe do bilhete premiado não seja nenhuma notícia nova, ainda tem muita gente mal informada perdendo suas economias diante de propostas de ganho fácil. Por ingenuidade ou ganância, o fato é que os estelionatários se aproveitam da situação para encher os bolsos. O mais recente golpe ocorreu por volta das 9h30min dessa quarta-feira, 11. João se deslocava pela RSC-287, próximo ao Posto Ipiranga, quando foi abordado por um homem, de aproximadamente 80 anos, que se identificou pelo nome de José. O idoso disse que era morador de Taquari e havia vindo para Montenegro para receber um prêmio ganho na loteria. Além disso, relatou ser analfabeto.
Como de costume nesse tipo de ação, logo outro homem, aparentemente de uns 30 anos, apareceu. O sujeito disse que se chamava Tavares. Ele puxou conversa e chegou a simular uma ligação para o banco onde o “ganhador” deveria sacar o dinheiro. Depois da ligação, o comparsa afirmou que José tinha um alto valor para sacar.
José disse que precisava de duas testemunhas para retirar o dinheiro do banco e prometeu dar R$ 50mil a cada um que o acompanhasse até a agência, mas pediu uma garantia. O “sortudo” perguntou onde João possuía conta e se estava com seu cartão. Nesse momento, ofereceu para ir até a casa dele para pegar o cartão. Os três entraram no carro de José e se deslocaram à morada.
Ao chegar na casa, Tavares fez João pegar R$ 3 mil, que estavam guardados, além de cerca de R$ 500,00 que tinha na carteira. Eles deixaram o local e seguiram com a vítima até o município de Portão. Lá, ele efetuou um saque de R$ 1.500,00. Em seguida, dirigiram-se para Estância Velha, onde foi realizada mais uma retirada, R$ 5mil. Não contentes, foram até Novo Hamburgo, mas, dessa vez, o plano de sacar mais R$ 5mil não deu certo, pois a conta foi bloqueada. Por fim, para uma nova tentativa, seguiram até o bairro Scharlau, em São Leopoldo, mas também não tiveram êxito.
Em São Leopoldo, os bandidos abandonaram João e disseram para não falar com ninguém. A vítima conseguiu pegar um ônibus e voltar para Montenegro.
Ganância faz vítimas
O delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia de Montenegro, e responsável pela DPPA, André Lorbiecki Roese, orienta os cidadãos a chamarem a Polícia quando houver suspeita de que estão prestes a cair em um golpe. Caso isso não seja possível, deve-se registrar ocorrência o mais breve possível. “Em primeiro lugar, não existe isso de dinheiro fácil. Quando o negócio é muito bom, é sinal de que é golpe, principalmente quando vem de desconhecidos. Isso de dar dinheiro para receber uma fortuna é sinal praticamente certo também”, sublinha o delegado.
Segundo o policial, os estelionatários preparam um discurso planejado para que a vítima não tenha como escapar. “Geralmente, a história que aplicam é extremamente complexa e a vítima acaba fingindo que entendeu o mecanismo por vergonha de admitir não dominar o assunto. Em comum, o que pega a vítima é a ganância. Essa ilusão de ganhar uma fortuna fácil parece que cega a pessoa e os estelionatários são bons de lábia”, acrescenta. “Quando se pede que a vítima não conte para ninguém sobre o ‘negócio da China’, também é um sinal bem comum”.
O chefe do setor de Investigações da 1ª DP, Alisson Castilhos, relata que há 18 anos tem acompanhado esse tipo de golpe. Para ele, não é a ingenuidade das pessoas que as faz cair em ciladas, mas sim a cobiça. “Muito ocorre por conta de as pessoas terem ‘olho grande’. Se não fossem ambiciosas, não entregariam suas economias de anos. A ganância é o ponto essencial para cair no golpe”, reforça o investigador.
Outros casos
A Polícia Civil não possui registros específicos sobre o número de pessoas que já caíram no golpe do bilhete premiado. Isso porque esse tipo de crime, em geral, é registrado com outras denominações, como desaparecimento de pessoa e estelionato. Contudo, não é difícil perceber que entra ano e sai ano e as pessoas continuam acreditando nos “contos de fadas” de meliantes mal intencionados.
Na semana passada, por exemplo, um morador do interior se deslocava próximo à rodoviária de Montenegro quando foi abordado por um homem. O sujeito, chorando, disse que ninguém queria ajudá-lo e, por isso, perderia um prêmio ganho na loteria.
Enquanto conversavam, um comparsa se aproximou com falso interesse no bilhete. O dono disse que entregaria o jogo a quem lhe pagasse R$ 50 mil. O montenegrino afirmou não ter o valor e acabou falando mais do que devia sobre dinheiro. “O máximo que tenho é R$ 10mil”, disse a vítima, de forma inocente, aos criminosos.
A informação foi suficiente para que ambos tomassem uma atitude extrema. Um dos homens estava armado e forçou o aposentado a entrar em um automóvel branco e levá-los até onde estava o dinheiro. Todos foram à casa do cidadão, onde foi pega a quantia. Depois de conseguirem o que queriam, o idoso foi largado no bairro Senai. O caso foi registrado na Delegacia de Policia de Pronto Atendimento (DPPA).
No mês passado, um aposentado de 70 anos perdeu R$ 35 mil de suas economias e colocou a própria vida em risco ao acreditar que ganharia uma “bolada”. O morador do bairro São Paulo, em Montenegro, foi sequestrado e deixado em São Leopoldo após realizar saque e transferência de dinheiro para os criminosos.